CAPÍTULO III: Planejamento reprodutivo, Pré-Natal e Puerpério
Especializanda: Julye Sampaio Fujishima
Orientador: Cleyton Cezar Souto Silva
No Brasil, a atenção à saúde básica tem como uma de suas prioridades a atenção à saúde sexual e reprodutiva, dando enfoque não apenas a oferta de métodos para concepção e anticoncepção, mas ao direito de livre escolha e assistência, assim como informações. De maneira geral, os profissionais de saúde sentem dificuldades de abordar os aspectos relacionados à saúde sexual, por ser uma questão que levanta polêmicas e sexualidade está muito marcada por preconceitos e tabus, gerando desinformação, ou até mesmo a disseminação de informações errôneas acerca do assunto (BRASIL, 2010).
A saúde sexual e reprodutiva, assim como o planejamento familiar são assuntos que precisam ser discutidos, que precisam ser abordados com a população de forma geral, a fim de que se possa diminuir índices alarmantes, como a crescente taxa de infecções sexualmente transmissíveis, assim como o número de gestações indesejadas, que acabam levando a outras mazelas socioeconômicas.
Pensando nisso, elaboramos uma ação de cunho educativo juntamente com alguns acadêmicos que estavam acompanhando o enfermeiro da equipe, as atividades foram voltadas para a população de forma geral, sexualmente ativa ou não, que desejavam tirar dúvidas, receber atendimentos, médicos, de enfermagem, testes rápidos para HIV, Sífilis, Hepatite B e C, dispensa de métodos contraceptivos e convidamos uma médica ginecologista para nos prestar apoio conforme a necessidade.
A ação ocorreu em meados de junho de 2018, convidamos os pacientes inicialmente para comparecer ao auditório do prédio vizinho ao nosso prédio, gentilmente cedido pela gestão, notamos um grande quantitativo de mulheres, enquanto a população masculina estava bastante restrita, devido a baixa procura espontânea desse grupo. Quando atingimos um certo número de pacientes, cerca de trinta pessoas, por volta das 8:30h, iniciamos os trabalhos (Vide Anexos – Imagem 3).
Começamos questionando os pacientes acerca de seu conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva, então passamos a desmistificar algumas coisas, principalmente com relação aos métodos contraceptivos e práticas sexuais, assim como compartilhamento de experiências entre si. As principais dúvidas foram com relação ao uso de certos métodos contraceptivos como a “tabelinha”, os efeitos colaterais dos anticoncepcionais orais (ganho de peso, etc), assim como o índice de falhas de todos os métodos, quais são dispensados pela rede pública, orientações de uso e dúvidas de como proceder quanto a falhas, e dúvidas no geral sobre ciclo menstrual e hormonal da mulher, após isso foi feita uma breve explanação sobre métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis, durando cerca de uma hora de tempo.
Após esse momento, as pacientes foram encaminhadas para os atendimentos conforme sua necessidade, nesse momento, sugiram mais pacientes, pois o fato de serem ofertados serviços atraem um público bastante grande. Foram ofertadas consultas clínicas comigo e ginecológicas com a especialista convidada conforme demanda, assim como planejamento familiar e reprodutivo com o enfermeiro de nossa ESF, com fornecimento de métodos contraceptivos, como preservativos femininos e masculinos, contraceptivos orais combinados e para lactantes o exclusivo de progesterona em baixa dose, assim como injetáveis mensais, além de gel lubrificante; e os testes rápidos, que conforme dessem positivos eram encaminhados a consulta médica instantaneamente.
Abro um parêntese e cito como exemplo, uma paciente que estava presente no momento educativo e após narrar uma situação familiar a respeito da doença do irmão, foi orientada a levá-lo ao serviço, onde de forma rápida e eficaz diagnosticamos um caso de HIV e já conseguimos fazer a referência imediatamente, pouco tempo depois o mesmo já estava em tratamento adequado, mostrando claramente o impacto de nossas ações.
Os atendimentos seguiram pela manhã, encerrando por volta de 12:30h, onde foram atendidos cerca de 30 pacientes pela especialista e 20 pacientes por mim com demandas de forma geral, e as orientações e fornecimento dos métodos estavam sendo realizadas pelas técnicas em enfermagem e uma equipe convidada veio realizar os testes rápidos e aconselhamentos.
No final das atividades, nos reunimos para realizar um feedback a respeito do que ocorreu durante a manhã, no que diz respeito aos pontos positivos e negativos. Quanto aos pontos positivos, conseguimos disseminar bastante informação válida e despertar curiosidade e interesse acerca dos métodos contraceptivos, em uma população que tem baixa adesão a tais métodos, além de sanar dúvidas sobre sexualidade e vida reprodutiva que talvez muitas tivessem e jamais conseguiram perguntar, e por se tratar um público amplamente feminino, a conversa fluiu bem naturalmente, e conseguimos atingir desde moças jovens ainda iniciando a vida sexual, mães de família e senhoras com um pouco mais de idade, que também tinham suas dúvidas e experiências, gerando uma boa troca.
Conseguimos fornecer alguns métodos contraceptivos, além de influenciar algumas pacientes a participar de nosso programa de planejamento familiar, saúde sexual e reprodutiva, fornecendo informações a respeito, visto que algumas nem sabiam de sua existência, muito menos que o SUS fornece métodos contraceptivos que vão além dos preservativos, e de certa forma iniciamos a quebra de alguns tabus e desmistificamos falsas informações, até mesmo para membros de nossa equipe como técnicas e agentes comunitárias em saúde.
Quanto aos pontos negativos, ainda notamos a grande resistência da população masculina em participar das atividades, assim como buscar atendimento, principalmente na faixa etária mais jovem e sexualmente ativa, cuja taxa de participação foi próxima a zero, percebendo que os mesmos só chegam ao consultórios quando já tem alguma infecção já instalada, com manifestações clínicas que causam incomodo. Outro ponto negativo foi a demanda grande demais para o nosso pequeno espaço físico e pequena equipe, gerando certo tumulto, fato que pode ser resolvido com um planejamento mais abrangente, pensando em maior espaço, em convidar outras equipes de estratégia de saúde da família da nossa UBS para se juntar a nós nessas atividades, assim como disponibilizar mais serviços e suprimentos físicos.
O que levamos de lição dessa ação foi que precisamos levar mais ações educativas para a nossa população e que aliadas a outros serviços, como atendimentos, fornecimento de medicações, etc., conseguimos atrair um público maior para nossas atividades, e que muito da nossa má adesão a certos programas é por falta de informação, que precisamos quebrar continuamente o conceito de que planejamento familiar é única e simplesmente fornecimento de contraceptivos, pré-natal, etc., e só podemos fazer isso com educação contínua em saúde, ou seja, falar sobre saúde sexual e reprodutiva, com a maior naturalidade possível, para que os pacientes se sintam a vontade em tirar suas dúvidas, receber informações, além de quebrar o velho conceito de que porque são casados ou tem algum relacionamento estável, não precisam se cuidar ou se precaver, seja de doenças sexualmente transmissíveis, como gravidezes indesejadas, gerando um número de filhos superior ao que aquela família pode arcar socioeconomicamente, dentre outras questões.
Sobre o planejamento de ações futuras, consegui detectar através dessa microintervenção uma falha que precisamos suprir: o aumento da inserção do homem, principalmente dos jovens e adultos, no contexto de saúde, tanto preventiva quanto curativa, fazer mais ações voltadas para os mesmos, e desenvolver estratégias para que os mesmo busquem mais o serviço de saúde e mais precocemente, visto que planejamento familiar e saúde sexual e reprodutiva não é um tópico única e exclusivamente trabalhado na população do sexo feminino, a qual se faz presente fortemente nesse tipo de trabalho, mas ainda sim precisa ser mais orientada e incentivada.
O ideal seria que essas intervenções ocorressem de forma contínua, com uma freqüência maior, não deixando para tratar desses temas apenas para dentro de consultório, quebrando tabus e dessa forma evitando situações que possam ser evitadas de forma fácil e acessível. Para isso sugerimos a continuidade desse tipo de ação pelo menos de forma bimestral, voltada para diferentes públicos, sempre tentando que os pacientes se interessem e busquem os serviços de forma ativa, passem informações adiante para seus familiares, vizinhos, etc.
Ponto(s)