19 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR E REPRODUTIVO NA ATENÇÃO BÁSICA

ESPECIALIZANDO: JOSÉ RIBAMAR DE LIMA JÚNIOR

ORIENTADOR: MARIA BETÂNIA MORAIS DE PAIVA

 

O planejamento familiar é um conjunto de ações em que são oferecidos todos os recursos para concepção e anticoncepção que, por sua vez, devem ser cientificamente aceitos e não colocar em risco a vida e a saúde das pessoas, com garantia da liberdade de escolha (BRASIL, 2006). Trata-se de um direito de mulheres, homens e casais e está amparado pela Constituição Federal, em seu artigo 226, parágrafo 7º, e pela Lei 9.263, de 1996, que o regulamenta.

Sabe-se que as práticas contraceptivas e os métodos de controle da fertilidade sempre existiram na história da humanidade e, no mundo moderno, estiveram intimamente relacionadas às necessidades econômico-políticas das sociedades industriais e tecnológicas (ARAÚJO, 2004; SIDNEY, 2010).

Baseado nisso, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Estratégia de Saúde da Família (ESF) visam de uma forma geral oferecer de forma eficaz a promoção e prevenção da saúde, sendo a saúde reprodutiva uma delas.

Durante o estudo do módulo de Planejamento Reprodutivo, Pré-Natal e Puerpério muitas temáticas foram importantes para entender o processo de planejamento familiar, bem como a necessidade de intervenções mais efetivas com relação ao tema citado.

A informação adequada em planejamento familiar e reprodutivo é de fundamental importância, pois possibilita reconhecimento dos métodos contraceptivos, orientação sexual, orientação familiar e, principalmente, autonomia sobre suas escolhas, evitando assim decisões e atitudes equivocadas sobre determinada situação. Portanto, o planejamento familiar adequado possibilita regular a fecundidade e decidir livre e responsavelmente em ter ou não ter filhos, quando tê-los, ter acesso à informação, educação e serviços de planejamento familiar, exercer a sexualidade plena e realizar tratamento de infertilidade (ZAMPIERI, NASCIMENTO, 2011).

Durante a minha prática, principalmente, com as atividades de pré-natal, observei a quantidade de mulheres que estavam em gestação não planejada ou até mesmo, algumas que tentaram abortamento no diagnóstico inicial da gestação, reforçando assim, o grande déficit no conhecimento e esclarecimento sobre planejamento familiar na população brasileira.

O pré-natal é o programa que tem maior atenção por parte da minha equipe, sendo feito de forma regular e eficaz com as gestantes. Dentre as pautas principais das reuniões quinzenais da equipe abordamos o tema do pré-natal, fazendo levantamento do número de gestantes; quantas já encerraram a gestação, realizamos também, levantamentos de parto e abortos; quantas iniciaram no programa nas últimas duas semanas e se alguma gestante apresentou alguma intercorrência no período assinalado.

Após realizar o estudo aprofundado da temática em questão e analisar os questionamentos finais do módulo juntamente com a equipe 43 da Unidade de Saúde de Nova Natal percebemos que de uma forma geral não conseguimos realizar com eficácia a promoção e prevenção de saúde à um determinado grupo.

Percebemos uma falha no serviço oferecido à saúde da mulher, principalmente, com relação à saúde reprodutiva. A população adscrita por minha equipe possui uma grande quantidade de mulheres e gestantes que necessitam de uma melhor atenção e práticas mais efetivas na qualidade dos serviços prestados. Baseado nisso, resolvemos realizar uma microintervenção nesse grupo prioritário abordando a temática do planejamento familiar, principalmente no pós-parto imediato, com a inserção do Dispositivo Intra Uterino (DIU), por exemplo.

Através de artigos, periódicos e da prática clínica observamos que gravidez não planejada decorre da falta de informações e dificuldade de acesso aos métodos contraceptivos, do uso inadequado dos mesmos, descontinuidade na oferta do contraceptivo pelo serviço, oferta limitada na variedade dos métodos e efeitos colaterais adversos que levam ao abandono e ao limite de eficácia (FERRAND, 2007).

Desta forma, na perspectiva dos direitos reprodutivos, a escolha de uma gravidez passa pelo plano da racionalidade, sendo resultado do exercício de autonomia e liberdade reprodutiva, de modo que consideramos como não planejada a gravidez resultante de um processo em que inexistiu a decisão consciente da mulher ou do casal para sua ocorrência (COELHO, EDMÉLIA, 2011).

Aliado a essa problemática e em pesquisa aos métodos contraceptivos e sua eficácia decidi delimitar o DIU como melhor opção para o público citado. E com a ampliação do programa para inserção de DIU em recente portaria “BRASIL. Congresso. Senado. PORTARIA Nº 3.265. Ampliação do Acesso Ao Dispositivo Intrauterino Tcu 380 (diu de Cobre) no âmbito do Sistema Único de Saúde (sus). Brasilia, 1 dez. 2017.”, o Ministério da Saúde, MS, dispõe sobre a colocação de DIU de cobre em Pós-parto ou pós-abortamento imediato, período entre 10 (dez) minutos a 48 (quarenta e oito) horas que sucederem o parto ou abortamento. Enfatiza-se que o DIU inserido logo após o esvaziamento uterino, aumenta significativamente a probabilidade de uma contracepção eficaz e facilita o acesso ao planejamento familiar, tornando-se uma estratégia para diminuir a recorrência de gravidez indesejada.

Baseado nisso, resolvemos realizar uma intervenção com o grupo de gestantes que a equipe 43 da Unidade de Saúde de Nova Natal realiza atividades regulares de pré-natal. Marcamos um encontro com as gestantes durante um turno onde foi abordado a temática do planejamento familiar e reprodutivo. Contamos com o apoio das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) para realizar a divulgação da ação, bem como, o reforço durante as consultas médicas e da enfermagem para ampliar o acesso à esse encontro.

A reunião contou com a presença de 34 gestantes, dentre as 42 que realizam pré-natal pela equipe. O encontro aconteceu em um turno programado exclusivamente para realizar a intervenção. Procurei realizar uma exposição didática e ampla sobre a importância da prática do planejamento familiar, principalmente após o término da gestação. Dividi a palestra em 3 momentos. No primeiro momento realizei uma exposição do tema em geral, incluindo indicações, contraindicações, efeitos colaterais e mitos sobre o uso do DIU, procurando reforçar a sua inserção no pós-parto imediato. O segundo momento foi deixado para perguntas abertas onde todas as gestantes puderam esclarecer suas dúvidas e frustações; e no terceiro momento, foi feito uma abordagem (feedback) sobre o que as gestantes acharam do tema, o que mudou com a palestra, se alguma deseja fazer inserção do DIU pós-parto imediato, entre outros.

Nesse feedback a equipe pôde observar que a maioria das gestantes se mostrou interessada na inserção do DIU pós-parto imediato, algumas ficaram na dúvida e outras não mostraram interesse pelo tema. Procurei deixá-las bem à vontade com o assunto e esclarecer as dúvidas que estavam ao meu alcance.

Com o término da palestra fui parabenizado pelas gestantes e pela equipe que adoraram a temática abordada, deram sugestão de outros temas relacionados à sexualidade e reprodução e que se possível criasse um grupo de gestantes em que pudessem ser trabalhados de forma contínua vários temas.

De uma forma geral, fiquei bastante contente com a intervenção realizada. Contei com o apoio de toda a equipe e com a adesão de uma grande parte das gestantes. Percebi a deficiência dessa abordagem na atenção básica e de sua importância na manutenção da qualidade de vida da saúde da família com um todo. 

Desta forma pretendo seguir com a educação em saúde no planejamento familiar, elaborando palestras sobre diversos temas. Pretendo ampliar esses encontros à população jovem abordando outras temáticas, como sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis (DST).

Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde estabeleçam estratégias e ações continuadas e programáticas, sobre o planejamento familiar na atenção básica, fornecendo assim melhor qualidade nos serviços oferecidos, autonomia nas escolhas das decisões e promoção e prevenção da saúde, diminuindo assim os agravos e impactos negativos à saúde.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Saúde. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais. Brasília: Ms, 2009.

SILVA, Ana Carolina Ribeiro. Planejamento familiar na Atenção Básica de Saúde: Um plano de ação para promoção de saúde. 2014. 26 f. TCC (Graduação) – Curso de Especialização em Saúde da Família, Universidade de Minas Gerais, Formiga, 2014.

VIERO, Reno Ortega et al. Atividade de grupo como acesso ao planejamento familiar. In: CONGRESSO SUL-BRASILEIRO DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE, Não use números Romanos ou letras, use somente números Arábicos., 2014, Gramado. Anais… . Gramado: Sbmfc, 2014. v. 1, p. 1 – 46.

COSTA, Sarah Hawker. A prática de planejamento familiar em mulheres de baixa renda no município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p.187-206, abr. 1989. Semestral.

MELO, Mônica Cecília Pimentel de; COELHO, Edméia de Almeida Cardoso. Integralidade e cuidado a grávidas adolescentes na Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 16, n. 5, p.2549-2558, maio 2011. FapUNIFESP (SciELO). 

BRASIL. Congresso. Senado. PORTARIA Nº 3.265. Ampliação do Acesso Ao Dispositivo Intrauterino Tcu 380 (diu de Cobre) no âmbito do Sistema Único de Saúde (sus). Brasilia, 1 dez. 2017.

1 Star2 Stars3 Stars4 Stars5 Stars (No Ratings Yet)
Loading...
Ponto(s)