26 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Acompanhamento pré natal de gestantes fora de área

 

Especializando: Aline Silva de Deus Mocitaiba  

Tutor: Maria Helena Pires Araújo Barbosa         

A unidade que atuo fica localizada em planície das Mangueiras, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, localidade onde concentra grande parte da população da zona norte da cidade de Natal- RN. Como já descrito em outras microintervenções a estrutura da unidade é precária e a equipe é incompleta. A todo tempo faço questão de enfatizar este detalhe, visto que muitas são dificuldades para execução de trabalhos nesta unidade, porém não impossível de realiza-los.

            A Estratégia Saúde da Família (ESF) de Planície das Mangueiras é uma unidade para ser composta por 3 equipes, no entanto apenas uma equipe, a que atuo, a equipe 87 há médica, porém sem enfermeiro. No bairro há muitas gestantes com necessidade de realização de pré natal, porém não há como fazer atendimento de toda comunidade. Por se tratar de um bairro de periferia há indivíduos muito carentes, alguns em extrema pobreza e que estão descobertos por não pertencerem a área de atuação dosAgentes Comunitários de Saúde (ACS).

            Durante minha atuação como médica da equipe da ESF considerei, a partir de alguns casos trazidos pelos ACS, grandes responsáveis pelo acolhimento da população do bairro, a necessidade de iniciar pré natal a esse grupo de gestantes fora de área de cobertura, afim de minimizar os riscos inerentes a gestação, além de manter atendimento de pré natal dessas mulheres com seguimento das consultas.

            Nessa intervenção não houve formação de grupos, apenas acrescentei na lista de atendimento de pré natal essas usuárias sem assistência médica durante período gestacional. Inicialmente houve dificuldade para realização desse trabalho, visto que todas consultas eram realizadas por mim, o que tornou-se uma demanda elevada e extremamente exaustiva. Atendia demanda espontânea dessas gestantes e autorizava seguimento das mesmas com consulta médica. No entanto comecei a perceber o desgaste físico e formação de grupos de 12 gestantes em uma manhã para atendimento, o que se tornou muito difícil para manter rotina frequente a cada semana.

            Com esse desgaste resolvi criar nova estratégia para beneficiá-las e também não ficar tão exausta. Como há 2 enfermeiros em outras duas áreas dialoguei com eles a possibilidade de dividir com eles essa responsabilidade, no entanto consciente que não é obrigação deles executar tais ações, mas como atendia suas áreas resolvi solicitar essa ajuda.

            Primeiramente foi determinado a quantidade de gestantes fora da área adscrita para realização de pré natal junto com gestantes das três áreas da unidade de Planície das mangueiras e realizado atendimento inicial dessas gestantes. Inicialmente pude perceber que a maior parte das gestantes já encontrava-se em idade gestacional bem avançada, sem nunca ter passado por atendimento médico ou enfermeiro.

            Como primeira consulta geralmente feita é por mim, por não ter enfermeiro na área, inicialmente é realizada a consulta de primeira vez das gestante considerando a história da mulher com relação ao número de gestações e abortos anteriores, tipo de partos anteriores, se normal ou cesário. Perguntas sobre uso de drogas, tabagismo e alcoolismo, uso de medicações, comorbidades prévias. Após anamnese completa são feitos registros da história e é realizado exame físico, verificação de pressão arterial das usuárias, controle de peso e solicitados exames de primeira consulta de pré natal que são: hemograma completo, glicemia de jejum, sorologias para: toxoplasmose, hepatites, HIV e sífilis e solicitado exames de imagem, ultrassonografia (USG).

            Durante essa microintervenção não foi realizado teste rápido pelo tempo curto que não favorecia tal execução por não ter na área enfermeiro. Na primeira consulta também se enfatizada a importância de manter cartão vacinal atualizado e controle do peso a cada consulta, sendo disponibilizado cartão pré natal devidamente preenchido com exames físico e dados sobre resultado de exames. Solicitados exames iniciais de primeira consulta e agendando de acordo com o período da idade gestacional retorno das gestantes para avaliação. Na primeira consulta é solicitado USG TV a depender da idade gestacional que a mulher se encontre, além de exames como hemograma completo, glicemia sorologias para hepatites e urocultura.

            Temos feito esse processo de atendimento as gestantes fora de área de cobertura desde fevereiro deste ano 2018. A partir dessa intervenção foi possível identificação de casos como toxoplasmose, sífilis, diabetes e hipertensão gestacional e até mesmo identificação de depressão na gestação em uma dessas mulheres. Em média são 20 gestantes fora de área que fazem esse acompanhamento de pré natal. A depender da idade gestacional retornam pra mim a cada 4 semanas, 15 dias ou a cada 7 dias.

            Pude por meio dessa microintervenção fazer encaminhamento para pré natal de alto risco de muitas dessas gestantes. A última dessas foi uma jovem de 17 anos, G1 P0 ja inciou pré natal tardiamente 35 semanas. Após solicitação de exames e retorno da mesma para entrega de exames foi confirmado toxoplasmose e iniciado tratamento que até então família não tinha feito por não ter condições de comprar os medicamentos. Mas através de um acompanhamento próximo, com ajuda dos ACS pudemos iniciar tratamento dessa gestante em vulnerabilidade econômica sem custos adicionais. Desta forma tem sido feito com as gestantes da área e de outras áreas.

            Essa estratégia é importante, visto que a todo tempo estamos em busca de gestantes, mesmo aquelas não pertencentes a área proporcionando oportunidade de melhor assistência ao parto além de identificação de doenças relacionadas a gravidez, esclarecendo dúvidas e ofertando exames realizados pelos SUS que muitas não tem condições de pagar para realiza-los. São solicitados todos exames, com exceção de alguns ultrassons, visto que são muito demorados pelo sistema. Para a realização desse exame de imagem, a usuária é encorajada para que seja realizado em serviços particulares, quando são usuárias que dispõem de melhores condições financeiras, e outras gestantes em vulnerabilidade econômica são encaminhadas, caso haja necessidade de realizar pelo menos um ultrassom.       Durante as consultas foi muito interessante perceber que não há desistência das consultas. As gestantes brigam para serem atendidas, serem examinadas, não faltam consulta e realizam exames solicitados, com exceção de raras mulheres. Os dias de pré natal são sempre dias cheios, demorados e cansativos, porém gratificante. Poder atender essas mulheres que não teriam outra oportunidade de ser submetida a um exame físico e uma orientação não tem preço e é algo que sinto que posso contribuir para ajudar a população.

            No atendimento médico são sanadas várias dúvidas em relação a mudança do organismo materno, sobre alterações fisiológicas que ocorrem com o corpo durante esse período gestacional. Através dessa estratégia tratamos casos diversos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Infecção do Trato Urinário (ITU) assintomáticas, iniciamos sulfato ferroso e ácido fólico e fazemos orientações e esclarecimentos sobre amamentação pelo menos nos 6 primeiros meses.

            Não é tarefa fácil! A ESF é uma equipe que deve atuar. Fui presenteada com equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) que estão sempre dispostos em ajudar a receber as gestantes quando precisam de uma avaliação nutricional ou psicológica. Esse grupo não deve deixar de existir vito que é tão fundamental para atuação conjunta com o médico. Tenho cada vez mais convicção que sempre quero atuar com essa equipe.

            Os ACS também são contribuintes importantes, pois muitos deles fazem acolhimento das usuárias e me passam os casos que acabo acolhendo com muita atenção. Cada caso tem gerado aprendizado incrível. Não é apenas uma assistência de pré natal que é disponibilizado, mas um crescimento profissional a cada consulta dessa realizada, que proporciono retorno das mesmas para seguimento, isso sim é importante. Poder acompanhar essas gestantes a cada 4 semanas, 15 ou 7 dias.

            Não sei por quanto tempo atuarei nesta unidade de Planície das Mangueiras, mas está sendo experiência boa, visto que tenho relação muito boa com equipe e com as usuárias e isso faz com que o trabalho seja desempenhado melhor. Mudar é preciso. Essas gestantes precisam estar inseridas em acompanhamento pré-natal. Infelizmente nem todo profissional recebe essas gestantes fora de área de cobertura. O ideal é que fossem disponibilizados mais médicos para atender a toda população. Na verdade até há disponibilidade, mas na área que atuo é raro haver médicos, por se tratar de zona de extrema violência.

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