2 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Para acolher as demandas da comunidade não basta distribuir senhas e encaminhar todas as pessoas ao atendimento médico. O acolhimento com classificação de risco, um dos dispositivos da Política Nacional de Humanização, justamente prevê, para promover mudanças nos modelos de atenção e gestão, o rompimento com a lógica perversa do atendimento por ordem de chegada (BRASIL, 2006). Nesse sentido, busca-se sua organização de modo a promover ampliação efetiva do acesso à Atenção Básica e aos demais pontos de atenção do SUS, juntamente com outras medidas organizacionais instituídas, objetivando a redução/eliminação de filas, a organização do atendimento com base em riscos priorizados e a adequação da capacidade de resolubilidade (BRASIL, 2006).

Com frequência as equipes planejam a agenda distribuindo a maior parte das vagas de consultas para atendimento à demanda programada e a menor das vagas para demanda espontânea. Um problema que surge nessa forma de organização é que ela pode engessar o sistema por não permitir flexibilizar a agenda conforme as necessidades da comunidade, além de, frequentemente, levar a demora nos atendimentos por agendas lotadas (MURRAY e BERWICK, 2003). Um novo modelo tem surgido, o Acesso Avançado, que tem por objetivo reduzir as filas de espera na Atenção Primária. De acordo com este modelo, os pacientes que necessitam de atendimento são agendados para o mesmo dia com pessoas de sua equipe de atendimento. Nos sistemas tradicionais, os pacientes acabam sendo direcionados para atendimento com um membro de outra equipe que é desconhecido ao paciente, mesmo que seu próprio médico ou enfermeiro esteja presente, isso porque a agenda de consultas do médico/enfermeira de sua referência está lotada. Nesse caso a continuidade dos cuidados fica prejudicada. O novo modelo (acesso avançado) pode melhorar a continuidade porque todos os médicos/enfermeiros têm agendamentos disponíveis (MURRAY e BERWICK, 2003). O acesso avançado rejeita a ideia de classificar a demanda em duas filas: de rotina e urgência.

O principal objetivo do projeto do acesso avançado é fazer o trabalho do dia no mesmo dia que a demanda apareça. A questão crucial para a atribuição de agendamentos é simplesmente: “seu médico de referência está aqui hoje?” Neste modelo, cada médico/enfermeiro consegue atender diariamente as demandas dos seus próprios pacientes.

Contudo, algumas demandas podem ser agendadas para o futuro, isto é, por meio de consultas agendadas ou na forma de visitas domiciliares, estando a critério da equipe e da classificação de risco do paciente (MURRAY e BERWICK, 2003).

A realização dessa microintervenção iniciou por meio da convocação da reunião semanal da equipe. Nessa reunião coube ao médico explicar sobre o conceito do acesso avançado. O médico utilizou como referencial teórico os textos disponíveis na especialização. Além disso, vídeos e leituras complementares foram divulgados entre os membros. Após essa etapa, a equipe pode debater e refletir sobre sua atuação naquele momento. Houve uma certa rejeição e receio por parte de alguns profissionais da equipe para com o acesso avançado. Contudo, foi proposto uma melhor explanação e comparação com o atual mecanismo de trabalho em vigor. Diante disso, a equipe percebeu que o processo de trabalho presente englobava certos traços conceituais do acesso avançado e que aquela rejeição, tratava-se da angústia gerada pelo sentimento de mudança. Sendo assim, a microintervenção deteve-se em um aperfeiçoamento para implantar o acesso direto.

Os maiores impactos dessa intervenção foram a conscientização da equipe e a possibilidade de no futuro ela ser capaz de atender uma maior quantidade de atendimentos do dia. Pois, assim, a equipe seria capaz de corresponder às demandas ocasionais da população, tornando o serviço ainda mais próxima das necessidades atuais da população. A intenção é que esta intervenção possa avançar nas etapas subsequentes, como a maior divulgação e empoderamento da população. Afinal, apesar de a equipe sempre atender às demandas espontâneas existentes, o público ainda desconhece que essa medida faz parte do modo de trabalho da equipe. Na mente das pessoas que procuram a unidade por meio da demanda espontânea, ainda há a possibilidade de a equipe recusar o atendimento, sendo assim necessita-se da explicação sobre o funcionamento do acesso avançado para os usuários, pois o sucesso dessa prática só será percebido se a população também for capaz de compreender sua essência. A maior preocupação da equipe é que a divulgação dessa informação abertamente para as pessoas faça com que aja uma superlotação de atendimentos, gerando estresse entre os usuários. Contudo, ela está disposta a manter um canal constante de comunicação com os pacientes para que possa escutar as queixas e sugestões da população e, assim, melhorar o serviço prestado.

Nos meses seguintes a equipe espera aumentar a proporção dos atendimentos do dia em detrimento aos agendados. Na primeira quinzena de maio a proporção de atendimentos agendados e consultas do dia foi de 61,64% e 38,35% respectivamente, e a intenção é inverter esses números no futuro.

 

Referencias:

BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS: material de apoio. Brasília:MS, 2006. p. 5-11. Disponível em: http://www.saude.sc.gov.br/hijg/gth/Cartilha%20da%20PNH.pdf Acesso em: 28 junho 2018.

MURRAY, M.; BERWICK D.M.; Advanced access: reducing waiting and delays in primary care. Rev. JAMA., v.289, n.8, p. 1035-40, fev. 2003. Disponível em: http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=196024 Acesso em: 28 jun 2018.

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