TÍTULO: ACOLHIMENTO DE UMA ESF RESPONSÁVEL POR CINCO POVOADOS
ESPECIALIZANDO: RODRIGO MOTA GOMES
ORIENTADOR: ANGELO AUGUSTO PAULA DE NASCIMENTO
RELATO DE EXPERIENCIA:
A Equipe de Saúde da Família (ESF) pela qual sou responsável se localiza no interior de Sergipe e abrange cinco povoados, tendo cerca de 3500 usuários cadastrados. Dos povoados, três apresentam um único agente comunitário de saúde (ACS), outro apresenta dois e o quinto povoado apresenta três ACS. Cada povoado tem uma Unidade Básica de Saúde (UBS), sendo que em um deles a UBS é uma casa adaptada para essa finalidade.
No atendimento da ESF, geralmente a equipe visita um povoado por dia durante a semana. Porém devido à demanda de alguns povoados ser maior do que outros, tentamos distribuir as visitas de maneira proporcional à demanda. Normalmente na penúltima e última semana do mês fazemos visitas extras nesses povoados.
Uma característica das unidades é que nenhuma delas tem uma equipe, ou pessoa responsável pela limpeza da UBS, ficando este serviço a cargo dos próprios agentes e da atendente da UBS. Isso se torna uma dificuldade tanto para o trabalho do ACS, que tem que chegar mais cedo no dia de atendimento ou ir à unidade no dia anterior para realizar a limpeza, como para a realização do atendimento, pois muitas vezes os consultórios não estão adequados para a realização do atendimento. Outra dificuldade que algumas UBS tem é a falta de atendente. Também fica a cargo do ACS a tarefa de separar os prontuários dos usuários que serão atendidos e organizar o atendimento.
Dessa maneira, todo o fluxo de atendimento é prejudicado, pois os prontuários não estão separados e a lista de quem será atendido não está feita no momento em que a equipe chega ao local. Essa situação ocorre em três dos nossos povoados.
Então como funcionava a marcação de consulta de demanda espontânea e de demanda programada? Os usuários chegavam no dia do atendimento em seus respectivos povoados e ficavam na fila para pegar a senha. Caso surgisse algum usuário solicitando atendimento após a distribuição das senhas, esse era encaixado e atendido diretamente pelo médico. Não existia nenhum acolhimento, orientação ou triagem dos usuários.
Como os agentes de saúde eram responsáveis pela marcação da consulta, conversei com eles e a enfermeira para entender melhor como era a marcação. Os ACS durante a visitas domiciliares informavam o dia de atendimento médico e orientavam o usuário a procurar a unidade no dia estabelecido. Caso eles percebessem que algum usuário necessitava da consulta o próprio ACS já deixava marcado a consulta para determinado usuário.
Questionei em relação à demanda espontânea. Indaguei se os ACS conversavam com os usuários antes de orientá-los a procurar o médico. Percebi que geralmente eram os ACS que faziam uma seleção ou triagem dos atendimentos e que muitas vezes eram atendidos aqueles usuários que poderiam gerar alguma agitação ou confusão caso não fossem consultados logo.
Toda essa maneira de marcação de consulta e atendimento da demanda espontânea causava filas enormes, além de serem muito frequente os atendimentos de casos considerados inadequadamente como urgentes.
Em conversa com a ESF levantamos alguns pontos com maiores dificuldades:
Percebemos que alguns pontos não dependiam de nós e sim da gestão, como é o caso da falta de alguém responsável pela limpeza e a falta de atendentes nas unidades. Encaminhamos essa questão á coordenação e estamos no aguardo para a solução desse ponto.
A quantidade de atendimentos não tem outra maneira de executá-la, então continuamos com um atendimento semanal em cada povoado e troca daqueles com demanda maior. Porém determinamos que na segunda semana do mês seja feito de preferência atendimento pré-natal, mas tendo também atendimento de outros grupos.
O acolhimento à demanda espontânea é o ponto que mais sentimos dificuldade em tentar melhorar. Inicialmente porque havia uma falha grave em se realizar uma triagem de atendimentos e também por esse processo ser feito pelos agentes de saúde.
Logo, na prática, o que ocorria era a classificação totalmente inadequada da necessidade ou não de atendimento imediato ou agendamento de atendimento para outro momento. Por exemplo, consultas de seguimento de casos eram muitas vezes classificadas como consultas de urgência.
Então junto com a enfermeira chegamos a um consenso que, o atendimento de demanda espontânea deveria passar por algumas etapas:
Tal acolhimento foi explicado à população no inicio dos atendimentos, tiramos as dúvidas pontuais e começamos a executá-lo. As principais dúvidas da população era o motivo da mudança, então esclarecemos que o médico atendia vários casos que poderiam ser solucionado pela enfermeira e isso acabava impendido o atendimento de alguma pessoa que realmente necessitava da consulta médica. Orientamos que como estaríamos sempre na semana seguinte no povoado, algumas consultas poderiam ser agendadas já para a próxima semana, evitando que houvesse uma demora maior.
Para melhor entendimento da população elaboramos um fluxograma, baseado no Caderno de Atenção Básica – Acolhimento à demanda espontânea, volume 1, do Ministério da Saúde. Este será colocado em cada UBS da área a qual a ESF é responsável. (BRASIL,2013)
FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO
Sabíamos que no inicio iria ocorrem algum conflito, pois alguns usuários solicitavam atendimento imediato pelo médico. Orientamos aos agentes pra tentar conduzir casos assim da maneira que foi pactuado como seria nosso acolhimento. Caso a confusão fosse mantida, esse paciente iria ser atendido pelo médico e o mesmo iria fazer o acolhimento, que seguiria o mesmo fluxo: se o caso fosse de competência da enfermagem, o paciente era encaminhado à enfermeira; se fosse um caso médico e necessitasse ser atendido no mesmo momento, ele seria atendido e caso pudesse ser em outro momento, ele sairia do acolhimento com sua consulta marcada.
Os agentes demoraram a se adaptar ao acolhimento e acabavam mandando muitos usuários diretamente ao médico. A maioria desses casos era encaminhado para a enfermeira após o acolhimento inicial.
Os pacientes que seguiam as etapas propostas do nosso acolhimento e chegavam ao médico, eram na grande maioria pacientes que não necessitavam de atendimento no momento. Estes eram então marcados para um outro dia, conversávamos com os pacientes e explicávamos que havia a necessidade de atendimento, mas que este não seria necessário no momento. A grande maioria entendia e saia da unidade satisfeita com a escuta inicial.
Com o decorrer do tempo, notamos que a própria população “inventava” sintomas, problemas para chegar ao médico, ou seja, informava ao ACS e a enfermeira uma situação e no atendimento médico informava outra. Ou passava a informação para o ACS e enfermeira de forma imprecisa, o que gerava dúvida e encaminhamentos ao médico. Na consulta médica, fazia meu atendimento e tomava a conduta de acordo com que fosse pactuado entre ambos.
Ao notar que essa situação estava recorrente, voltamos ao ponto inicial. Explicamos mais uma vez a população a situação e como seria realizado o acolhimento. Falamos que entedíamos a demanda de cada um, porém era necessário que todos compreendessem e ajudassem a resolver o problema.
Estamos mais uma vez em processo de adaptação, de implementação do nosso acolhimento e ainda não notamos muita mudança no perfil de atendimento da consulta da demanda espontânea, tanto para a enfermeira como para o médico.
REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 56 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, V. 1)
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