RELATO DE EXPERIÊNCIA
(Microintervenção 2)
TÍTULO: IMPLANTAÇÃO DO ACOLHIMENTO NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE JAÍ CARVALHO.
ESPECIALIZANDO: OSVALDO DE LA RIVERA GARCÍA.
ORIENTADOR: ANGELO AUGUSTO PAULA DO NASCIMENTO.
No Brasil, o termo utilizado como equivalente à Atenção Primária à Saúde (APS) é a Atenção Básica (AB). O Ministério da Saúde tem lançado estratégias para adequar os conhecimentos às novas propostas de estruturação da atenção primária. Dentre as estratégias que norteiam esta política, evidencia-se o acolhimento. Trata-se de um elemento fundamental para a reorganização da assistência em diversos serviços de saúde, direcionando a modificação do modelo tecnoassistencial. (FAGUNDES et al., 2014).
O acolhimento deve ser visto, portanto, como um dispositivo potente para atender à exigência de acesso, propiciar vínculo entre equipe e população, trabalhador e usuário, questionar o processo de trabalho, desencadear cuidado integral e modificar a clínica. Dessa maneira, é preciso qualificar os trabalhadores para recepcionar, atender, escutar, dialogar, tomar decisão, amparar, orientar, negociar. É um processo no qual trabalhadores e instituições tomam, para si, a responsabilidade de intervir em uma dada realidade, em seu território de atuação, a partir das principais necessidades de saúde, buscando uma relação acolhedora e humanizada para prover saúde nos níveis individual e coletivo. (ORTIZ et al., 2014).
Nesse sentido, o acolhimento tem uma grande importância na atenção básica de saúde e toma, como referência, algumas de suas características: porta de entrada, integração aos demais níveis do sistema, coordenação do fluxo de atenção (STARFIELD, 2012). Configura-se ainda como um momento tecnológico com potencialidades para imprimir qualidade nos serviços de saúde, que não se limita apenas ao ato de receber, mas se compõe de uma sequência de atos e modos que fazem parte do processo de trabalho, na relação com o usuário, dentro e fora da unidade (MALTA et al., 2010).
A literatura aqui citada reforça a importância do acesso e do acolhimento como categorias potentes e estratégicas para o planejamento, organização e produção de ações e serviços de saúde. Sendo a Atenção Básica como ordenadora do sistema de saúde, o planejamento e gestão voltada ao território da unidade de saúde da família, com demandas excessivas, conflitos internos e fadiga do serviço, desenvolveu este trabalho com a perspectiva de fazer o atendimento, ampliação do acesso e satisfação do profissional e corresponsabilidade da gestão municipal. E é diante desse contexto que o presente estudo propõe, como objetivo, a implantação do acolhimento na UBS Jaí Carvalho, nunca antes feito pela equipe. A equipe só oferecia atendimentos a demanda espontânea e programada, tendo em conta o cronograma de atividades feito na reunião da EBS mensal.
A equipe revisou as referências bibliográficas sobre acolhimento, sobretudo no Caderno de Atenção Básica n. 28, denominado Acolhimento à Demanda Espontânea, sendo uma ferramenta útil que ajuda na construção compartilhada e cotidiana de modos de cuidar e gerir (BRASIL, 2013). E realizou uma roda de conversa com os integrantes, a enfermeira, seis Agentes Comunitários de Saúde, e o médico pra fazer uma estratégia de atendimentos.
Seguindo os passos do método podemos levantar as potencialidades, partindo dos seguintes princípios: atender todas as pessoas que procuram os serviços, possibilitando a acessibilidade universal. Assim, o serviço de saúde assume sua função principal, de acolher, escutar e dar uma resposta positiva, capaz de intervir sobre os problemas de saúde da população; reorganizar o processo de trabalho, de forma que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe multiprofissional que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a intervir sobre seu problema de saúde; qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve se pautar em parâmetros humanitários, de solidariedade e de cidadania. (HENNINGTON, 2005).
Houveram algumas dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades. Tais como: limites estruturais, encontrados pela própria estrutura física inadequada da unidade, com algumas questões éticas, como falta de privacidade e sigilo nas interações profissional-usuário; falta de postura de escuta e comprometimento. A equipe oferece atendimentos para cinco povoados na periferia do município Nossa Senhora das Dores, com extensa área de cobertura assistencial, e com atendimentos semanais para três povoados, e mensal para um. Pacientes 100 % dependentes da UBS, fila não feita por prioridades, os usuários tem pouco conhecimento do tema, com atendimentos mais direcionados ao médico, ausência de um sistema para referenciar os usuários aos outros níveis da atenção para fazer exames diagnósticos e consultas com especialistas, extenso período do tempo entre o agendamento e a realização do atendimento.
A partir da decisão de implantar o acolhimento, propomos a organização de uma equipe de acolhimento, composta pela enfermeira e por uma auxiliar de enfermagem, para oferecer a escuta dos usuários. O médico ficou na retaguarda, ou seja, atendendo no consultório os usuários encaminhados pela equipe de acolhimento. Eliminaram-se as fichas e as filas de madrugada, abrindo-se as portas da Unidade de Saúde, com atendimento a todos os usuários que a procuraram. Organizou-se a sala de espera, substituindo a recepção. A enfermeira, além de acolher, orienta sobre os procedimentos a serem adotados pela equipe de acolhimento, por exemplo, os protocolos que orientam o enfermeiro na prescrição de vários exames e medicamentos, o que aumenta em grande medida a resolubilidade deste profissional na assistência, favorecendo enormemente o fluxo dos usuários.
Conclui-se, quanto à percepção de profissionais, que os benefícios da prática acolhedora acabam ficando sem a devida relevância quando se observa que existem mais obstáculos para a realização dessa atividade, do que pontos positivos e estimuladores da mesma. É evidente que ambientes desfavoráveis, e tantos outros pontos apontados nas análises são dificultadores.
Mas, quando a população é bem acolhida dentro da unidade de saúde ela sabe que pode voltar e usufruir do serviço sem sentir-se incomodada ou constrangida por não saber o que fazer. Devido à boa receptividade da Equipe, foi concluído que não será um grande desafio implantar a prática do acolhimento.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. Brasília: Ministério da Saúde, 2013 (Cadernos de Atenção Básica, 28).
FAGUNDES S, ORTIZ JN, BORDIGNON MO, GRALHA RS, CORADINI SR. Apresentação de acolhimento. In: Acolhimento em porto alegre: um sus de todos para todos,2004, Prefeitura Municipal de Porto Alegre; 2004. P. 11-22.
HENNINGTON, ÉA. Acolhimento como prática interdisciplinar num programa de extensão universitária. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 256-265, Feb.2005.
MALTA DC, FERREIRA LM, REIS AT, MERHY EE. Mudando o processo de trabalho na rede pública: alguns resultados da experiência de Belo Horizonte. Saúde Debate. 2000, 1(24): 21-34.
ORTIZ JN, BORDIGNON MO, GRALHA RS, FAGUNDES S, CORADINI SR. Acolhimento em Porto Alegre: um SUS de todos para todos. Porto Alegre: Prefeitura Muinicipal de Porto Alegre; 2004.
STARFIELD B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura/Ministério da Saúde, 2012.
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