APERFEIÇOAMENTO DA EQUIPE BÁSICA DE SAÚDE PARA IMPLANTAR O ACOLHIMENTO
ESPECIALIZANDA: MARLEN CHANG GARCIA
ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS
Uma pessoa comparece por muitos motivos em uma unidade de saúde, pode estar doente ou requerer uma orientação ou aconselhamento. Em qualquer caso espera no mínimo ser escutado e poder apresentar seus problemas e inquietudes, pois um indivíduo doente fica se sentindo fragilizado, cheio de medos e inseguranças e um local onde trabalham profissionais da saúde parece ser o lugar ideal para procurar ajuda.
Mas nem sempre acontecem as coisas segundo as expectativas dos pacientes e a procura de ser atendido pode resultar em uma sequência de maus tratos e indiferença, deixando os pacientes mais confusos e doentes. Isso me fez refletir quanto ao trabalho diário na Unidade Básica de Saúde (UBS) e me perguntar como estava acontecendo o processo de acolhimento. O acolhimento estava ocorrendo da melhor maneira? Como médica da unidade, sobrecarregada de trabalho, não tinha reparado que alguma coisa estava dando errado? Será que os integrantes da equipe mantinham uma posição reativa ao invés de proativa?
Após essas reflexões, chegamos a conclusão que a UBS de Cobé, pertencente ao município de Vera Cruz, Rio Grande do Norte (RN), não possuía uma boa estratégia de acolhimento que satisfaça a demanda da população e está restrita simplesmente a uma triagem para atendimento médico, mesmo quando não existe uma restrição na distribuição do número de fichas e também não temos aquelas filas “madrugadoras”. O acolhimento na minha unidade é compreendido apenas como o encaminhamento de todas as pessoas ao médico, o qual não é sempre possível, nem necessário.
Essa situação que atrapalha o trabalho diário e traz consigo insatisfação fez imperioso uma mudança e reestruturação do processo de acolhimento dirigido a melhorar a acessibilidade dos usuários e a escuta dos profissionais.
A UBS de Cobé tem uma população adstrita de 2.585 habitantes, uma cifra considerada adequada segundo o Ministério de Saúde, pelo qual o fluxo de pacientes deveria transcorrer sem grandes contratempos, mas as dificuldades encontradas no dia a dia evidenciam que alguma coisa não estava dando certo, motivo que me levou a propor uma estratégia de aperfeiçoamento da equipe para implantar/melhorar o acolhimento na UBS.
Foi convocada uma reunião com caráter extraordinário para discutir vários tópicos ligados ao tema acolhimento, procurando aprofundar em cada um deles e incentivando aos atores envolvidos a acrescentar o conhecimento que cada um acreditava ter sobre o assunto (Figura 1).
Figura 1. Reunião da equipe da UBS de Cobé.
No primeiro momento se fez a definição de acolhimento, que é o ato ou efeito de acolher (dar acolhida, agasalhar, proteger, abrigar, etc.), ao final se como profissionais da saúde desconhecemos o conceito quanto mais a importância mesma do que vem ser a porta de acesso à atenção primária de saúde. Toda a equipe foi incentivada a refletir no acolhimento como postura ética e como compromisso, que humaniza o atendimento.
Depois foi analisado o concernente à recepção, que é o primeiro lugar onde é feita a escuta da demanda de atendimento e o momento ideal para identificar riscos e vulnerabilidades e classificar as situações em “agudas” ou “não agudas” e “urgentes” ou “pouco urgentes” além de ser o local onde os pacientes vão obter informação dos serviços e cuidados oferecidos na UBS e encaminhados para o setor requerido.
Ficou pactuado fazer uso do fluxograma didático proposto pelo Ministério de Saúde/Departamento da Atenção Básica, logicamente adaptado às características de nossa comunidade, com todos os desafios que isso implica. Esclarecendo que o uso de fluxogramas é uma ferramenta que agiliza e otimiza o processo de trabalho podendo ser utilizados por todos os profissionais da unidade, além do médico e enfermeira depois de ter uma capacitação básica.
Finalmente, porém não menos importante, discutimos a organização referente às agendas de atendimento individual, para garantir tanto o acolhimento como a continuidade do cuidado, sendo flexíveis e tolerantes.
A outra etapa de nosso trabalho transcorreu no grupo de Whatsapp da equipe: “UBS Cobé 2”, dando continuidade à reunião, onde como médica da unidade compartilhei material informativo procedente do curso de Especialização em Saúde da Família e imagens da internet, o qual foi de utilidade para a equipe conhecer por exemplo o Sistema Manchester de Classificação de Riscos, a modo de capacitação e reforçamento dos conhecimentos adquiridos na reunião. Foram também propostos e discutidos casos hipotéticos de demanda de atendimento.
Figura 2. Compartilhamento de material informativo com a equipe da UBS de Cobé. |
Foi de grande aprendizado para a equipe fazer uma reestruturação e melhoria do processo de acolhimento, nós familiarizarmos com conceitos que enriquecem nossa conceição do trabalho e adquirir ferramentas para humanizá-lo. Na minha experiência, foi muito gratificante perceber a receptividade da equipe no grande desafio de iniciarmos a implantação do acesso avançado. Temos enormes expectativas no resultados e esperamos uma repercussão de impacto na comunidade aumentando a acessibilidade e a qualidade da atenção básica oferecida à comunidade.
Para o desenvolvimento de nossas estratégias contamos com várias fortalezas, como ter uma Equipe de Saúde da Família (ESF) completa, uma estrutura física da unidade muito perto às estabelecidas pelo Ministério de Saúde e o apoio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), todos os profissionais da equipe moram na comunidade, com exceção da médica e a enfermeira; com uma trajetória de mais de 20 anos de trabalho na atenção primária.
Entre as debilidades para executar nosso trabalho estão o fato de trabalhar em uma comunidade rural, com baixo nível de escolaridade, baixo poder aquisitivo, conceitos culturais muito enraizados na população, alta incidência de doenças crônicas não transmissíveis e de doenças transmissíveis agudas respiratórias e digestivas e envelhecimento populacional, com implicações no aumento da demanda de atendimento.
Pode se mencionar ademais a falta de apoio da gestão municipal no concernente a falta estratégias de capacitação e não utilização de recursos de educação permanente dirigidas a aumentar o nível de conhecimentos dos profissionais da saúde.
Entre as mudanças por mim observadas depois da proposta de reestruturação e melhoria do processo de acolhimento estão: uma equipe mais comprometida (Figura 3), profissionais mais capacitados e agendas de trabalho mais organizadas. Espero com a continuidade do nosso trabalho fazer da implantação do acesso avançado uma realidade com a subsequente efetividade. Garantindo acessibilidade e qualidade da atenção básica da saúde que é direito de todos.
Figura 3. Reunião da equipe da UBS de Cobé.
Ponto(s)