11 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

CAPÍTULO II: Acolhimento à Demanda Espontânea e Programada na UBS Edith Kluppler Mendes, Município Lagarto-SE.

         O acolhimento é uma das principais diretrizes a seguir pela Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Define-se como a recepção do usuário no serviço de saúde, compreende a responsabilização dos profissionais pelo usuário, a escuta qualificada de sua queixa e angústias, a inserção de limites, se for preciso, a garantia de assistência resolutiva é a articulação com outros serviços para continuidade do cuidado (BRASIL 2006).

         Com base nisso foi tomado como ponto principal as diversas queixas dos usuários e até dos profissionais. A equipe tentou fazer uma modificação na execução do acolhimento, despertando o desejo em realizar uma micro intervenção, para procurar estratégias que melhorar o serviço, o acesso dos usuários e como instrumento importante no atendimento das necessidades da população.

         Foi preciso identificar as principais deficiências ou problemas a serem solucionados como a escuta pouco qualificada, a pouca privacidade dos usuários e a não integralidade do tempo que fica reduzido pela demanda.

         Outro problema identificado foi a não sistematização dos dados da demanda espontânea, o que dificulta a reorientação do diagnóstico situacional e planejamento local, e a estrutura física da Unidade Básica de Saúde – UBS para o acolhimento da demanda espontânea que é pouco adequada.

         Foi discutido com a equipe de saúde, em reunião em abril do presente ano, o tema “Atenção Primária à Saúde”, marcando como de vital importância seu conceito, funções básicas e princípios. Logo, houve uma conversa sobre o tema “Acolhimento”, discutindo temas fundamentais como conceitos, objetivos, elementos e a construção da matriz para implantação das principais estratégias.

         Cada tópico da matriz foi detalhado e fundamentado com responsabilidades da equipe que tem que exercer. Para cumprir com os objetivos trazidos, realizou-se uma reunião, para a apresentação da matriz de intervenção, que aconteceu no dia 12 de maio, contou com a participação de dois trabalhadores da área de enfermagem da unidade (uma técnica de enfermagem e uma enfermeira), sete agentes comunitários de saúde, o gerente da unidade e o médico.

         Falou-se sobre a elaboração de um fluxograma para atendimento de acordo com os critérios de classificação de risco, contando com a participação de toda a equipe, para aqueles usuários da demanda espontânea. Aprovou-se assim a construção de um único fluxograma.

         As estratégias para informar a comunidade sobre a nova organização para o acolhimento foram realizadas através de palestras na comunidade durante um mês, todas as semanas, nos dias de segunda e quinta. Esses dias foram escolhidos, em função da presença do profissional médico na unidade e, portanto, o fluxo de pessoas é significativamente maior.

         A informação sobre o acolhimento na unidade ganhou força na voz dos Agentes Comunitários de Saúde, consultas individuais de enfermagem, médico e equipe como um todo. Durante as reuniões de equipe no mês de maio, foram discutidos o processo de implantação do acolhimento, as dificuldades e facilidades, a acessibilidade e formas de aumentar a interação com a população neste contexto.

        O fluxograma foi fixado na porta da unidade para melhor identificação visual do local, pois percebemos que muitos usuários não sabiam o que era o acolhimento e nem perguntavam.

        As informações dos usuários acolhidos serão registradas em prontuários individuais, daí a importância de ter uma equipe interdisciplinar. Na reunião central também foi determinada a escala “rodízio” de profissionais na implantação do acolhimento com classificação de risco, a qual pode ser realizada pelo pessoal da equipe que tenha conhecimento adequado para realizar essa tarefa.

        A estratificação de risco e vulnerabilidade torna-se de vital importância para orientar a decisão do acolhedor. É importante utilizar a estratégia de escuta ampliada no momento da procuração do serviço, identificando problemas e necessidade de saúde, assim como oferecer soluções possíveis, buscando melhorar as deficiências encontradas.

        Um dos objetivos da classificação de risco é estabelecer primeiramente no atendimento do usuário, de acordo com a gravidade do caso.

        No caso do agendamento qualificado, o usuário que chega a unidade, e tem a sua queixa pautada em algo não emergencial, é encaminhado à recepção para agendar consulta com a enfermeira ou com o médico em dia específico para cada programa.

        Ademais, as anotações em prontuário devem se registradas, diariamente, com o registro das queixas da demanda espontânea. O registro contém o nome, idade, queixa e resolutividade do caso, o qual é avaliado de forma, mensalmente nas reuniões de equipe e trimestralmente, através da sistematização e consolidação dos dados.

        O mês de abril fechou com 265 atendimentos, 187 de demanda programada e 102 de demanda espontânea, 42 foram agendadas suas consultas na mesma semana e 10 foram orientados onde poderiam resolver suas demandas, pois não era possível resolver na unidade. No que se referiu ao mês de maio tivemos um percentual de 84% de resolutividade imediata na unidade.

        Com a implantação do acolhimento na unidade, algumas diferenças foram encontradas na recepção de cada profissional, porém a reorganização do serviço se baseou nos seguintes critérios:

– O usuário que chega como demanda espontânea tem sempre um profissional da unidade a quem se reportar.

– O usuário deverá ser avaliado em quanto ao risco e vulnerabilidade.

– O ‘acolhedor’ deve ter clareza e orientação das opções disponíveis na Unidade de Saúde e respaldo para acionar as ofertas de cuidado em tempos e modos que considerem a necessidade dos usuários.

– As anotações deverão ser colocadas no prontuário e no livro ata do acolhimento. O usuário deverá ser orientado sobre a conduta que será adotada, e em caso de dúvidas o ‘acolhedor’ poderá pedir orientação a outros colegas da unidade.

– Se o atendimento for imediato, o ‘acolhedor’ deverá informar do caso ao profissional para quem será encaminhado.

         Para concluir podemos dizer que até agora contamos com total aceitação do novo sistema de acolhimento por parte da equipe, percebendo-se maior e melhor organização dos serviços e logicamente maior resolutividade.

       O impacto na população também tem sido bom. Ainda temos muitas coisas para aperfeiçoar, melhorando o vínculo entre a equipe e a comunidade. 

REFERENCIAS: 

1-BRASIL. Política nacional de humanização da atenção e da gestão do SUS — material de apoio. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

2-BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488/GM, de 21 de outubro de 2011.

3-CASTRO e SHIMASAKI, 2006, p.12.

4-FRANCO T. B.; BUENO, W. S.; MERHY, E. E. O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim (MG). In: O TRABALHO em saúde: olhando e experenciando o SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec, 2004.

5-GOMES L. B.; MELO E. A.; PINTO, H. A. Análise das modelagens do acolhimento em Aracaju SE (Mimeo.), 2005.

6-MINISTERIO DE SAUDE. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à Demanda Espontânea: queixas mais comuns na Atenção Básica – 1. Ed. 1. Reimp. – Brasília, 2013 (Cadernos de Atenção Básica n. 28, Volume II).  

7-MINISTERIO DE SAUDE (BR). Secretaria de Assistência à Saúde. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Brasília (DF); 1997. 36p.

8-SECRETARIA DE ATENÇÃO A SAUDE. Acolhimento à demanda espontânea. Brasília (DF); 2011. 56 p.

9-SECRETARIA DE ATENÇÃO A SAUDE. Departamento de Atenção Básica. Manual Instrutivo para as Equipes de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) – Terceiro ciclo- (2015-2017).   

 

 

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