PERFIL DA DEMANDA ESPONTÂNEA E AGENDADA NA UNIDADE DE SAÚDE DE SANTA LUZIA I
Especializando: Joice Cristina Dantas Brandão Marinho
Orientadora: Maria Betânia Morais de Paiva
Colaboradores: Enfermeira Louyse Mayara, técnica de enfermagem Patrícia
Dando continuidade às intervenções sugeridas durante este módulo, eu e minha equipe de atenção básica (EAB) (composta pela enfermeira, técnica de enfermagem e as 4 agentes comunitárias de saúde (ACS) discutimos sobre outro grande problema existente em nossa unidade: o adequado acolhimento à demanda espontânea e programada.
O acolhimento surgiu a partir das discussões sobre a reorientação da atenção à saúde, sendo elemento fundamental para a reorganização da assistência em diversos serviços de saúde, direcionando a modificação do modelo tecno-assistencial. É um dispositivo que está inserido na Política de Humanização do Ministério da Saúde (HumanizaSUS), e que vai além da recepção ao usuário, pois considera toda a situação da atenção a partir da entrada deste no sistema. Acolher significa humanizar o atendimento (HENNINGTON, 2005).
O acolhimento possibilita uma reflexão acerca dos processos de trabalho em saúde, pois estabelece uma relação concreta e de confiança entre o usuário e o profissional ou a equipe, estando diretamente orientado pelos princípios do SUS (BRASIL, 2010), podendo atender às demandas da sociedade e estabelecer relação com os outros serviços de saúde, de maneira regionalizada e hierarquizada. Ele facilita, dinamiza e organiza o trabalho de forma a auxiliar os profissionais a atingirem as metas dos programas, a melhorarem o trabalho e executarem um bom atendimento, predispondo a resolutividade do problema (CARDOSO ET AL., 2009).
Cientes de que a criação e manutenção do vínculo do usuário com a unidade de saúde dar-se-á a partir deste primeiro contato, faz-se necessária sua implementação em todas as unidades básicas de saúde (UBS). Em nossa UBS, propusemos durante a reunião, realizar um estudo do perfil da demanda espontânea e programada que chega diariamente à unidade, a fim de iniciarmos o projeto de implementação de um adequado acolhimento aos usuários, com base em suas necessidades, uma vez que nunca se foi discutido e proposto nada sobre este tema.
A agenda programada da unidade consta de um dia para atendimento geral de crianças e do programa de Crescimento e Desenvolvimento, outro dia para pré-natal e atendimento de planejamento reprodutivo, outro destinado ao atendimento de clínica geral e outro dia voltado para os programas de doenças crônicas e visitas domiciliares. Fora essa demanda agendada, há sempre as demandas espontâneas, que muitas vezes equivalem em quantidade à demanda agendada.
Justamente por haver este excesso de demanda espontânea, eu e minha EAB acreditamos ser de extrema importância realizar este perfil para que possamos melhorar nosso acolhimento e agendamento das consultas programadas.
Na unidade, não há um funcionário responsável e, muitas vezes disponível, para realizar a escuta qualificada, muito menos um espaço destinado a isso, por falta de estrutura física. Ocorrendo em muitas circunstâncias a entrada do paciente diretamente para a sala do médico ou do enfermeiro, fato esse que compromete a organização dos atendimentos, atrasando o andamento das consultas já agendadas.
O trabalho de estudo do perfil dos usuários de demanda espontânea foi realizado pela equipe durante sete dias. Como as demandas agendadas já seguem um cronograma, como referido acima, já dispomos do perfil de atendimento destes usuários. Desta forma, achamos mais importante estudar o perfil da demanda espontânea para que assim pudéssemos encaixar na demanda programada esses pacientes ou direcionar o atendimento adequado no dia conforme o caso. Criamos uma tabela, onde foram colocados os seguintes dados: horário de procura da unidade; Idade do usuário; gênero sexual, motivo da procura a unidade e desfecho do paciente
A partir desses dados, fizemos um planejamento de como poderíamos orientar e direcionar essa demanda de forma adequada com base nas premissas de um adequado acolhimento e escuta qualificada.
Durante sete dias, avaliamos o perfil de cada usuário que chegou à unidade, fora da demanda agendada, querendo atendimento médico. A partir desses dados, chegamos à seguinte tabela:
TOTAL DE ATENDIMENTOS EM 7 DIAS |
140 |
DEMANDA ESPONTÂNEA/ NÃO AGENDADA |
45 |
(Fonte: próprio autor)
O horário mais procurado para atendimento foi das 11 às 13h, provavelmente, devido a menor quantidade de usuários na unidade a esta hora, uma vez que a maioria já foi atendido.
A idade dos usuários varia bastante, desde lactentes a idosos, porém as faixas etárias abaixo dos cinco (5) anos e acima dos 35 anos predominam.
Com relação ao gênero sexual que mais procura a unidade sem agendamento, o feminino corresponde a 60% dos usuários.
Dentre os principais motivos de procurarem a unidade, encontramos:
MOTIVOS |
Renovação de receitas controladas |
Febre/cefaleia |
Solicitação de exames |
Mostrar resultados de exames |
Diarreia |
Infecção de via aérea superior |
Amenorreia/medo de estar grávida |
(Fonte: próprio autor)
Com base neste perfil, os desfechos mais comuns para esses usuários foram: atendimento no dia de acordo com a prioridade e classificação de risco, marcação de consulta agendada, encaminhamento para o hospital e orientações gerais.
Durante a execução desta atividade, houve bastante dificuldade para se conseguir um profissional disponível para realizar a escuta qualificada, além de um ambiente adequado para isso. Tivemos que alternar os profissionais que realizavam a escuta a esses usuários entre técnica de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
Apesar das dificuldades, a partir deste perfil que obtivemos, concluímos mais uma vez, que se faz necessária uma política de saúde em nossa área voltada para saúde mental, uma vez que a grande maioria dos atendimentos era de renovação de receitas controladas de psicotrópicos. Além disso, é importante também orientar sobre a real necessidade de se solicitar determinados exames de rotina, bem como, agendar os usuários que já apresentem esses resultados em mãos, para que assim possamos fazer um acompanhamento adequado desses pacientes.
Percebemos também como há falha estrutural e de recursos humanos para se realizar um adequado acolhimento na unidade. Além de hábitos populacionais já arraigados na população onde muitos querem ser atendidos, por qualquer motivo e unicamente pelo médico, não querendo ouvir orientações de outros profissionais. E a partir disso, organizamos uma reunião com a Secretaria de Saúde do Município (SMS) solicitando uma melhor estrutura e profissional para realizar esse acolhimento. Aguardamos que nossa solicitação seja brevemente atendida para fornecermos um melhor atendimento à população.
REFERÊNCIAS:
HENNINGTON, E. A. Acolhimento como prática interdisciplinar num programa de extensão universitária. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, p. 256-265, 2005. [ Links ]
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010. [ Links ]
CARDOSO, L. S. C. et al. Acolhimento no trabalho em saúde da família: um estudo qualitativo. CuidArte Enfermagem, Juiz de Fora, v. 3, n. 2, p. 149-155, 2009. [ Links ]
Ponto(s)