28 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: A ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABAHO DA EQUIPE NA PERSPECTIVA DE MELHORAR O ACESSO.

Especializando: Dra Jema Espinosa Azcuy

Orientador: Maria Betânia Morais de Paiva.

Colaboradores: Dir. Maria Virginia de Siqueira

                          Enfermeiro Rómulo Pinto

                          Dra. Beatriz da Silva

                          ASC. Vinicius Sales

                          ASC. Eliana dos Santos

                          ASC. Fatima Riveiro

 

A Atenção Básica de Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) é de fundamental importância no desenvolvimento dos programas de saúde no Brasil. Destacando-se as ações preventivas e de promoção de saúde, consultas e procedimentos, na melhoria do modelo assistencial, constituindo-se um desafio nas mudanças que se referem aos modos de pensar e organização dos sistemas e serviços de saúde. No entanto, sua finalidade não pode se restringir apenas a isso, pois deve está aberta para perceber as características de cada situação que se apresenta, e desse modo, receber a queixa (acolher), dar resposta e se possível solução por um profissional de saúde dentro dos limites de atuação (MATTA; MOROSINI, 2009).

Nesse contexto é importante que as mudanças realizadas possam melhorar qualidade dos serviços ofertados no âmbito do local, além de ampliar a oferta de acordo com as necessidades de saúde da população adscrita, respondendo cada pessoa de maneira individual e integral, procurando sempre que possível  identificar os problemas, situações e dificuldades de saúde  dos usuários na perspectiva de atender as demanda de forma  positiva e resolutiva. Sendo assim, a Unidade Básica de Saúde (UBS) é um espaço adequado para que a população possa acessar e ter um acolhimento diferenciado por meio de profissional capacitado na busca pela satisfação de suas necessidades ou problemas de saúde.

            Nesse sentido, o acolhimento é nomeado como a diretriz de maior importância na ética, estética e política. Ética por se pautar o reconhecimento da subjetividade do usuário; estética porque engrandece a qualidade de vida, tendo como objetivo aumentar o comprometimento da população no processo de saúde (MOTTA; PERUCCHI; FILGUEIRAS; 2014).

Minha área de atuação é localizada na zona rural, do município Ipanguaçu, RN. Na área de abrangência do território localizam três (03) comunidades rurais, distantes entre si. Cada localidade conta com uma UBS, na unidade com maior população temos um serviço mais estruturado e nas outras duas comunidades a estrutura física do local de atendimento é menor, mais nem por isso, deixamos de oferecer serviços de qualidade, na maioria das vezes transportamos os equipamentos necessários.

         A demanda diária de atendimentos é bastante expressiva, sendo muitas vezes influenciada por fatores externos em decorrência de mudanças no meio ambiente como, inverno, chuvas torrenciais, aumento dos rios que trazem implicações direta na saúde da população local, podendo provocar múltiplas doenças a depender da  época do ano, aumentando consideravelmente número de pessoas com necessidade de atenção gerando uma sobrecarga de trabalho para toda equipe.

Nossa unidade tinha-se como demanda máxima 20 agendamentos prévios e cinco (5) urgências, mais ainda não dava para satisfazer a necessidade da população, havia queixa frequentes entre os pacientes por conta da distribuição das fichas. A quantidade de agendamentos não era suficiente quando comparada com o tamanho das áreas e com a quantidade de famílias cadastradas, além de acréscimos diários na demanda, em virtude de usuários que chegavam atrasados na UBS por conta da distância, ou porque, simplesmente, não tinham com quem ir na unidade, ou ainda,  porque  os sintomas apareciam durante manhã, necessitava ser avaliado e não tinha  como marcar para o outro dia. Como lidar com esses desafios cotidianos se com frequência a agenda já estava completa? Como absorver essa demanda? Essas preocupações e situações desfavoráveis comprometia a organização de trabalho na nossa Unidade.

Como resposta nossa equipe determinou realizar uma reunião para identificar as deficiências e situações que estavam bloqueando o processo de trabalho da equipe e qualidade dos serviços. Nessa perspectiva foi constatado a necessidade de se incrementar na nossa agenda as demandas espontâneas, aperfeiçoar a triagem e avaliar as prioridades com a finalidade de se fazer um bom acolhimento ao paciente, tendo em conta a informação ou problema que apresenta, qual o motivo de sua ida à UBS. Aos profissionais da escuta caberiam a responsabilidade de acolher suas queixas, orientá-lo e dar solução a seus problemas o mais rápido possível e de modo satisfatório. Esse processo de reorganização do trabalho contribuiu para melhorar a qualidade dos serviços e a satisfação da comunidade.

A equipe adotou como meta principal abrir a agenda, desfazer os agendamentos prévios, reservando as ofertas para o dia do atendimento, ficando com a demanda livre em função da necessidade diária da população. Desse modo, o paciente pode chegar no dia e procurar atendimento na unidade que contará com pessoal qualificado para acolher e fazer a triagem. A triagem é feita pela recepcionista, técnica de enfermagem e enfermeiro, mas o acolhimento é feito por qualquer pessoal de saúde de nossa unidade que seja qualificado ou preparado para orientar os usuários.

Os primeiros dias foram difíceis, em virtude da falta de compreensão da população com a nova forma de acesso aos serviços, ainda persistiram alguns desentendimentos por conta de atendimentos, já que não entendiam os critérios estabelecidos pela equipe para classificar as  prioridades. Diante desse panorama inicial, foi necessário convidar a população a participar do movimento de mudança na unidade de saúde, uma vez que são atores importantes nesse processo. Para isso, foram realizadas reuniões com comunidade, afim de firmar parceria, explicar as razões das mudanças no processo de trabalho da equipe e para facilitar a comunicação foi colocado cartazes nas unidades com explicações sobre a forma de acesso e reforçado através dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) nas visitas domiciliares.

Dessa forma, foi adotado na nossa unidade  um novo sistema de trabalho, “MAIS” atendimentos e “MENOS” agendamentos.Com a atual reorganização na Equipe de Saúde da Família (ESF), a população  tem se adaptado e há uma maior satisfação com a assistência prestada, já que aquele que precisa de atendimento é atendido no mesmo dia de acordo com sua necessidade.

A equipe de saúde percebeu uma melhoria na qualidade dos serviços, já que agora se tem uma melhor organização, há uma maior aproximação com o paciente, fortalecendo as relações interpessoais entre o usuário/equipe, construindo-se vínculos e sensibilizando-se com as preocupações ou problemas de saúde da comunidade.

Nesse contexto, não se faz necessário a busca do pronto socorro por demandas como febre ou diarreia, ou mesmo, alguma outra doença que não tenha complicações, uma vez que o atendimento diário é garantido. O encaminhamento para especialidades ou Unidades de Pronto atendimento (UPA) só é feito se necessário. Enfim, essa forma de organizar o acesso do usuário colabora com qualidade os serviços de saúde e contribui para um atendimento humanizado e integral.

REFERÊNCIAS:

MATTA G.C.; MOROSINI, M.V.E. Atenção Primária de Saúde, Dicionário da Educação Profissional em Saúde, Rio de Janeiro, Manguinhas, 2009).

 

MOTTA B.F.B.; PERUCCHI, J. ; FILGUEIRAS. M.S.T. O acolhimento em Saúde no Brasil: uma revisão sistemática de literatura sobre o tema. Rev. SBPH, Rio de Janeiro,  v. 17,  n. 1, p. 121-139, jun. 2014).

 

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