10 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO  COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE.

ESPECIALIZANDO: Jefferson Endrisse.

ORIENTADORA: Maria Betânia Morais de Paiva.

COLABORADORES: Silva Kelly, Josefa Pereira.

 

Na perspectiva de melhorar ainda mais o serviço de saúde municipal na minha área de atuação, foi marcada uma nova reunião com a equipe da zona rural. A pauta da reunião discorreu sobre o acolhimento que segundo a Política Nacional de Humanização (PNH) é base e um de seus alicerces, o direito de cada pessoa ao atendimento de qualidade, a serem ouvidas e ter uma equipe responsável para resolver seus problemas, sendo a atenção básica a porta de entrada para se resolver grande parte de toda demanda na saúde no território (BRASIL, 2006)

         Nessa óptica o acolhimento é um conjunto de intervenções de saúde, seja na demanda programada, espontânea ou até nas visitas domiciliares de modo coletivo, onde envolve, promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação realizados em um determinado território de responsabilidade de toda equipe (Brasil, 2013).O acolher também prevê respostas positivas às necessidades trazidas pelos pacientes de forma equitativa desde uma simples pergunta até um encaminhamento ao especialista.

Desse modo, a equipe tem estudado o tema com o objetivo de encontrar estratégias para melhorar a interação com o território assumindo uma postura pró ativa, buscando conhecer a comunidade local, reconhecer a dificuldade de acesso de alguns usuários que não podem chegar à Unidade Básica de Saúde (UBS) procurando se aproximar dessa realidade e estabelecer relações de vínculo de forma acolhedora através de uma escuta qualificada.

Com base no atributo do primeiro contato da Atenção Primária à Saúde (APS) o primeiro contato dos usuários que procuram a unidade de Saúde da Família se dá com profissionais que não tiveram formação específica para atuar na área da saúde. Isso pode levar as equipes de Saúde da Família e os gestores, por vezes, a excluírem essas pessoas de momentos de reflexão sobre o acolhimento. (Brasil, 2013). O ideal é ter um espaço adequado para escuta e análise dos casos para viabilizar o acesso com adoção da avaliação/estratificação de risco. Esse aspecto é de fundamental importância para a implementação do acolhimento local.

         Em linhas gerais o acolhimento deve ter como objetivo a inclusão dos pacientes, na medida em organiza as demandas programadas, de emergências e espontânea, melhorando o fluxo de usuários diariamente. Para que essa estratégia seja aplicada no cotidiano do serviço de maneira eficaz, se faz necessário conscientizar e informar a população da importância de sua implantação, uma vez que o acolhimento pouco efetivo, sobrecarrega os prontos-socorros de urgência e emergência e as especialidades, indo de encontro ao  propósito da APS, que consiste em resolver 80% das necessidade de saúde da população.

          Diante dessa realidade, começamos a discutir alguns casos em que poderíamos acolher de forma imediata, sempre organizando e aconselhando de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Nessa lógica é importante definir em equipe as atribuições de cada um na unidade, ou seja, quem irá organizar a agenda, avaliar os riscos, quando encaminhar-agendar uma consulta médica, entre outros. Esses aspectos são fundamentais na organização do processo de trabalho em equipe na lógica do acolhimento.

Outro ponto discutido foi como acolher as demandas advindas do planejamento familiar e da saúde da mulher que na minha percepção, deverá ser mais flexível com base na história clínica de cada usuária, sem agendamentos prolongados, inclusive foi reforçado com a equipe a possibilidade de se viabilizar uma agenda aberta, de acordo com a necessidade do território. Ao se  problematizar a realidade vivenciada, ficou claro para a equipe a necessidade de se construir protocolos de atendimento para atuar de forma coerente e resolutiva na unidade de saúde com método centrado no paciente, estabelecendo vínculos através de relações solidárias que garante mais conforto e segurança a equipe, assim como, uma maior proteção aos usuários.

Dentre os diferentes  modos de acolhimento foi adotado  o modelo no qual a enfermeira irá realizar a primeira escuta, uma espécie de “triagem” dos usuários agendados e o médico faz a retaguarda, enquanto o técnico de enfermagem realiza os sinais vitais e preenchimento do prontuário.

Com base no Protocolo de Manchester que consiste em uma classificação de risco para cada paciente, usada em hospitais e prontos socorros, desenvolvemos uma classificação de risco para ser utilizada na equipe como uma forma de aprimorar essa ferramenta, promovendo um atendimento mais adequado e rápido. Desse modo, foi estabelecida a cor azul para os casos de baixa complexidade e sem problemas recentes, a cor vermelha para pacientes que necessitam de tratamento imediato como crise hipertensiva, sinais de infarto, na cor amarela são acolhidos pacientes com dor de garganta, diarreia, lombalgia e na cor verde são acolhidos os pacientes assintomáticos com exames a serem mostrados, entre outros.

Em todos os casos desde o mais simples ao mais complexo são prioritariamente considerados o grau de sofrimento físico e psíquico de cada usuário, a gravidade da queixa apresentada, os riscos de agravamento do quadro e o grau de vulnerabilidade.

Para que seja bem coordenado realmente é necessário definir claramente o papel de cada membro da equipe como já foi citado anteriormente.O segundo passo é estabelecer e colocar em prática os fluxos, protocolos de classificação, agendar consultas e estipular horário de maior fluxo para que não haja falhas e atrasos nas demandas.

 O apoio da população é fundamental nesse processo, uma vez que a satisfação do usuário deve ser o objetivo maior de uma equipe de saúde. Uma estratégia pensada para que a população possa compreender de forma satisfatória esse processo de avaliação/classificação de risco foi a divulgação da proposta em diferentes espaços como redes sociais, rodas de conversas e cartazes nas unidades.

Uma fragilidade exposta pela equipe de enfermagem foi de como trabalhar com a demanda espontânea e a programada no gerenciamento da agenda. Vale reforçar que todas as pessoas devem ser acolhidas na lógica da humanização do cuidado em todos os momentos. A demanda programada, como o próprio nome já sinaliza vem geralmente para uma consulta agendada como a puericultura, a vacinação, o planejamento familiar e desse modo, não se prevê que seja classificado o risco, mas que faça parte do atendimento de rotina. Os casos que fogem dos padrões de normalidade com demanda aguda e necessidade urgente deverão passar obrigatoriamente pela classificação de risco.

 No que se refere ao gerenciamento da agenda, um passo importante é realizar mapeamento do território, identificando os riscos, priorizando os problemas, avaliando as principais demandas, as ofertas, se os grupos  operativos são satisfatórios, a questão dos horários e por isso enfatiza-se a importância da  escuta dos usuários na perspectivar de eleger as prioridades e atender as necessidades de saúde naquele território .

Após realizar a pauta com a equipe para elaborar a classificação de risco, ocorreram algumas dificuldades, pois na execução da proposta surgiram dúvidas de como classificar e realizar a escuta qualificada dos pacientes. Outro ponto identificado foi a resistência de alguns usuários com a nova forma de acesso adotado, pois estavam acostumados a uma demanda livre baseada na entrega de senhas que levava em conta a ordem de chegada e não considerava o grau de sofrimento apresentado.

Para enfrentar essa situação de tensão inicial houve uma mobilização da equipe com a participação ativa da enfermagem, recepção, agente de segurança e equipe de apoio de serviços gerais, acolhendo, direcionando e informando aos usuários a nova organização de trabalho, além das informações contidas nos murais na unidade. Nesse processo de transição para implementação do novo modelo é fundamental na equipe o engajamento profissional, o comprometimento   pessoal e principalmente a distribuição de responsabilidades.

 

REFERÊNCIAS:

Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização (PNH): HumanizaSUS – Documento-Base. 3. ed. Brasília, 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, SecretariaExecutiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 56 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, V. 1).

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