14 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: INTERVENÇÃO DENTRO UMA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA PARA MELHORIA DO ACOLHIMENTO À DEMANDA ESPONTÂNEA E PROGRAMA NO MUNICÍPIO DE MACAPÁ-AP.

ESPECIALIZANDO: EDER RODRIGUES NAZÁRIO

ORIENTADOR: CLEYTON CÉZAR SOUTO SILVA

 

            A Atenção Primária à Saúde (APS) deve cumprir três funções especiais (MENDES, 2002):

  •   Resolução: visa resolver a grande maioria dos problemas de saúde da população;
  •   Organização: visa organizar os fluxos e os contrafluxos dos usuários pelos diversos pontos de aten­ção à saúde, no sistema de serviços de saúde;
  •   Responsabilização: visa responsabilizar-se pela saúde dos usuários em quaisquer pontos de aten­ção à saúde em que estejam.

            Baseado no princípio da integralidade do Sistema Único de Saúde exige-se que a APS reconheça as necessidades de saúde da popu­lação e os recursos para abordá-las. Logo deve-se prestar, diretamente, todos os serviços para as necessidades comuns e atuar como um agente para a prestação de serviços de necessi­dades que devem ser atendidas em outros pontos de atenção. Portanto, esse princípio é um mecanismo importante porque assegura que os serviços sejam ajustados às necessidades de saúde da população (BRASIL, 2013).

            Uma das formas de sanar as necessidades comuns se dá por meio do processo de acolhimento. Lembrando que o acolhimento tem como objetivo a INCLUSÃO, pois avalia sob a ótica das vulnerabilidades e organiza as demandas programadas e as imprevistas. Totalmente divergente da triagem que possui como objetivo a EXCLUSÃO: “quem não deveria estar aqui”.

            Lembrando da realidade local da Unidade Básica de Saúde Cidade Nova localizada em Macapá – AP, com todos os problemas relacionados a falta de estrutura física, indo contra os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde, será difícil executar o acolhimento de forma adequada, impedindo uma troca de informações entre o usuário e o profissional, prejudicando a criação de vínculo com a equipe. Atualmente a UBS possui 5 equipes de ESF atuando conjuntamente com a equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, que possui os seguintes profissionais: psicóloga, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, educador físico, nutricionista e assistente social. A UBS apresenta uma única recepção pequena, que comporta no máximo 8 a 10 pacientes. Existem dois consultórios com banheiro em cada, e mais um consultório improvisado por meio de divisória da recepção, não havendo qualquer privacidade por conta do escape sonoro. Esses consultórios são divididos por horários entre as 5 equipes de ESF’s mais a equipe de NASF.

            Com falta de espaço e com o excesso de funcionários na UBS, o acolhimento por meio da escuta qualificada fica impossibilitado. Por esse motivo o alvo dessa microintervenção será sobre o aperfeiçoamento da equipe para implantar o acolhimento.

            Durante o final de abril e mês de maio de 2018, ao longo do Módulo de Acolhimento à Demanda Espontânea e Programada do Curso de Especialização em Saúde da Família do PEPSUS houve capacitação durante as reuniões semanais realizadas após Matriz de Intervenção do Capítulo 1 desse trabalho.

            Tais capacitações com toda equipe de saúde tiveram diversas abordagens para quebrar o paradigma de que Acolhimento é o mesmo que o processo de Triagem, fazendo a equipe entender que o Acolhimento visa incluir aquele usuário na equipe enquanto a triagem tende a segregar e separar os usuários de acordo com os problemas de saúde identificados.

            O Acolhimento assume a função de promover, prevenir, proteger, cui­dar e recuperar. É a atitude técnico-assistencial pautada pela ética e pela empatia. Entretan­to, essa mesma característica técnico-assistencial possibilita uma inflexão e uma reflexão do que somos e fazemos.

            Foi realizada também a implantação de um novo sistema de atendimento. Antes era liberado 12 vagas por turno na agenda médica, e raramente havia tempo para os “encaixes”, fazendo com que a demanda espontânea não fosse atendida de forma adequada. Nesse processo as vagas eram cada vez mais sendo ocupadas, havendo o surgimento de filas para marcação de consulta, já que não havia nenhum controle e monitoramento da agenda. Com a implantação do novo processo, trabalha-se com as duas demandas (Programada e Espontânea), com destinação em torno de 7 a 8 vagas para demanda Programada, e o restante para demanda espontânea. Caso não seja preenchida todas as vagas, os agentes comunitários de saúde fazem convocações de usuários que necessitam de atendimento médico, mas que não agendaram consulta.

            Como a UBS não dispõe de sala de curativos, sala de observação, sala de inalação, sala de procedimento, nem tampouco insumos e medicações para urgências, não existe a possibilidade de atendimento as Urgências e Emergências da Atenção Básica. Assim os pacientes são encaminhados para outras Unidades Básicas de Saúdes com estrutura física e com insumos e medicações para receberem esse tipo de paciente. A grande maioria da população já conhece a estrutura da UBS Cidade Nova, e já procuram outras Unidades pois sabem que terão suas necessidades resolvidas. De tal forma que a classificação de risco de Manchester não é aplicada dentro do estabelecimento de saúde.

            Para sucesso e eficácia das consultas clínicas dentro da Atenção Básica, necessita-se de três partes fundamentais: estrutura, processos e resultados. Como a parte de estrutura depende de outros setores superiores da administração municipal, além da Equipe de Saúde, optei por abordar apenas as duas últimas partes. O que mais exemplificaria os processos seria o prontuário do paciente. Lembrando que o prontuário tem a função de comunicação entre os profissionais que assumem o cuidado da pessoa em questão, entre diferentes serviços de uma mesma instituição e entre os níveis de atenção de um sistema de saúde com o usuário. Tem, ainda, a função educativa, pois registra o histórico científico; bem como administrativa, para análises financeiras, sendo base para auditorias.

            O Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP) é um dos principais modelos de registro adotados na Atenção Primária a Saúde mundial, permitindo a identificação de todos os problemas da pessoa e obriga a relacionar cada problema com os restantes, assim como a registar um raciocínio e um plano para cada problema.

            Durante o Módulo de Acolhimento à Demanda Espontânea e Programada da Especialização foi elaborado um modelo de RCOP junto com a equipe de saúde da qual atuo. Esse modelo de registro foi criado durante as reuniões semanais com a participação de todos os profissionais. Depois de recebido feedback do facilitador pedagógico, para ajustes de detalhes, tal modelo foi encaminhado para Direção da UBS para avaliar a possibilidade de implantação dentro da Unidade Básica de Saúde e encontra-se nos anexos deste trabalho.

            As fragilidades encontradas para realização da microintervenção baseiam-se na estrutura física do estabelecimento onde não há espaço reservado e apropriado para acolhimento, bem como consultórios que estejam dentro das normas previstas pelo Ministério da Saúde, impedindo um encontro entre profissional e usuário de qualidade, quebrando a continuidade do cuidado. Existe uma grande expectativa dos profissionais de saúde e da população atendida para a entrega da nova UBS nos moldes do Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde do Ministério da Saúde. Enquanto isso trabalhamos com os recursos disponíveis e empenho em minimizar os efeitos relacionados a falta de estrutura da melhor forma possível.

            Sobre as potencialidades gostaria de enfatizar sobre o quanto a equipe de saúde encontra-se aberta e empenhada em aprender, trocar informações e colaborar nesse processo de evolução durante o Curso de Especialização em Saúde da Família. Aos poucos vou conseguindo implantar novas metodologias de trabalho, e o retorno da equipe que faço parte é gratificante, trazendo melhorias para os profissionais e principalmente para os usuários do Norte do Brasil, em específico a querida cidade de Macapá.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 56 p. (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, v 1).

 

 

MENDES, E. V. Os sistemas de serviços de saúde: o que os gestores deveriam saber sobre essas organizações complexas. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002. p 79- 113.

 

 

ANEXOS

 

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