11 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

O acolhimento, nossa carta de apresentação

Autora: Dra. Dayanis Lafargue Martìnez

Orientadora : Juliana Ferreira Lemos

       

       Na implantação e desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o acolhimento sempre foi um tema importante para potencializar as relações entre os usuários e a equipe de saúde, baseadas na confiança, favorecendo assim a excelência na Atenção Básica. Para este fim o governo promulgou a Portaria nº 2.488 do 21 de outubro do 2011, com o objetivo de implantar fundamentos e diretrizes que possibilitassem o acesso total e contínuo aos serviços de saúde por todas as esferas da população e o ótimo acolhimento. (BRASIL, 2006)

        Para assumir estas tarefas os serviços de saúde devem ser capazes de organizar seu trabalho em função de efetivar um acolhimento de qualidade, onde o paciente possa ser escutado e dar a ele uma resposta adequada a seu caso no momento em que solicite o atendimento. Devem detectar-se fatores que dificultem o acesso do usuário no sistema de saúde e todos serem tratados com equidade, principalmente durante a demanda espontânea. A equipe também precisa detectar usuários com situação de vulnerabilidade, devendo identificar diversos fatores de riscos e as situações de urgência/emergência que precisem prioridade. A capacidade de acolhimento e responsabilidade da equipe de saúde reflete diretamente na resolutividade dos problemas da população e diminui danos e sofrimentos desta. (BRASIL, 2012)

        No Estado Sergipe, o acolhimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) vem sendo implementado desde que o Ministério de Saúde aprovou a Portaria 2.488 de Outubro 2011. Em nosso município de Araúa e especificamente no PSF 2 (minha área de trabalho) é uma estratégia que vem sendo executada há aproximadamente 5 anos, mas, desde janeiro de 2017, que comecei a trabalhar no Brasil, tenho lutado para melhorar.

        Em todos os postos de saúde de nossa área, realizam-se o acolhimento, mas não é realizado pelo mesmo pessoal. Tenho 3 unidades com atendentes capacitadas também como auxiliar de enfermagem, mas nas outras 2 e no assentamento os pacientes são acolhidos pelos agentes comunitários de saúde. Em todos os casos, além dos dados pessoais do paciente, faz-se uma triagem para classificar esse atendimento como urgente ou eletivo e para conhecer o motivo essencial da consulta (se o paciente deseja comunicar). Nossos agentes estão bem preparados em sua área básica, o fato é que, em algumas ocasiões, falta experiencia suficiente para fazer uma triagem adequada, sendo isto uma fragilidade e não acontecendo de igual maneira naqueles postos com atendentes capacitadas como auxiliares de enfermagem.

        Considero que uma adequada interação entre médico-paciente inclui mais que simples transferências de informações. Os pacientes, fortemente influenciados pelo contexto social onde moram, chegam à consulta com medos e preconceitos que influenciam muito no atendimento e a forma que interpretam sua doença. Portanto, um acolhimento adequado e individualizado vai ajudar ao paciente a uma melhor expressão de seus problemas e angustias. Por esse motivo decidimos realizar uma microintervenção com o objetivo de aperfeiçoar o acolhimento realizado em cada um de nossos postos de saúde.

          Com este objetivo, a equipe se reuniu na sala multifuncional de nossa matriz em Olhos de Água e fez uma chuva de ideias para melhorar este aspecto essencial, sempre levando em conta que temos uma extensa área de abrangência, com 5 UBS e um assentamento de sem-terra, que apresentam infraestruturas diferentes, valorizando em profundidade o nosso trabalho profissional, se temos cumprido as expectativas esperadas e fundamentalmente a opinião de todos os funcionários sobre o que precisamos melhorar no acolhimento.

Estratégia de aperfeiçoamento do acolhimento

  1.      Habilitar um espaço mais reservado para fazer o acolhimento com maior privacidade, melhorar a escuta e identificação de riscos e vulnerabilidades de maneira individual, porque há situações em que a exposição pública do sofrimento (ou do motivo da procura) intimida ou desrespeita os usuários.
  2.       Capacitar os agentes comunitários e atendentes de maneira básica sobre o que é uma urgência- emergência, as prioridades, por serem de maior risco ou incompatível com a vida. Como fazer uma boa triagem para determinar sinais de descompensação das doenças e determinar se é ou não paciente eletivo. 
  3.       No acolhimento das pessoas que vem pela primeira vez, deve-se fazer um RCOP (Registro Clínico Orientado por Problemas), segundo o orientado pelo Ministério da Saúde, em caso de pacientes com seguimento regular, deve-se atualizar os dados de contato ou de interesse atual.
  4.      Depois da triagem, deve-se orientar aos pacientes o horário de atendimento (de manhã ou à tarde) que lhes corresponde para fazer diminuir o tempo de espera. 
  5.       Capacitar os funcionários gerais de saúde (como auxiliar de serviços gerais e porteiros) como deve ser um bom acolhimento no posto (mostras de cortesia, educação e solidariedade) porque essa é a primeira imagem de nosso atendimento.
  6.       Nas visitas domiciliares o acolhimento é realizado no próprio lugar, pela auxiliar de enfermagem junto ao médico.

         

        Depois de pautar os parâmetros para aperfeiçoar nosso acolhimento, colocamos na prática e estamos tendo ótimos resultados. Os pacientes referem que se sentem mais à vontade, porque podem expor seus problemas sem que outras pessoas conheçam sobre os mesmos, os funcionários de saúde estão mais corteses e humanizados. Em alguns casos, principalmente psiquiátricos, as próprias enfermeiras dão conselhos iniciais que ajudam esses pacientes a   enfrentarem os medos da própria consulta, isto, unido a um bom acolhimento dentro da consulta médica, faz que a interação paciente-médico seja mais fluida, com uma melhor resolução dos problemas.

         Concluo que um excelente acolhimento é uma ferramenta eficaz para aperfeiçoar a Atenção Básica de Saúde e a aceitação que tivemos é uma amostra inequívoca dos benefícios proporcionados a nosso trabalho.

 

Bibliografias revisadas

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. Brasília. Ministério da Saúde, 2 ed, 2006. Disponível em: http://www.heab.fmrp.usp.br/App_Data/Conteudo/Arquivos/Humanização/Acolhimento nas Práticas de Produção de Saude.pdf
  2. ______. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 2.488, DE 21 DE OUTUBRO DE 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília. Ministério da Saúde.2011
  3. ______. Ministério da Saúde. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, n. 28, volume II Disponível em : www.saude.sp.gov.br/…/cadernos_de_atencao_basica_-_volume_ii.pdf
  4. STARFIELD, Bárbara. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília; UNESCO. Ministério da Saúde; 2 ed; 2004. 726 p. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/0253.pdf

 

Anexos: Foto do acolhimento do paciente dentro da consulta pelo médico


1 Star2 Stars3 Stars4 Stars5 Stars (1 votes, average: 2,00 out of 5)
Loading...
Ponto(s)