ACOLHIMENTO COM DIGNIDADE E HUMANIZAÇÃO
ESPECIALIZANDA BETANIA ALBUQUERQUE PIRES ROCHA NEUMAN
ORIENTADOR ISAAC ALENCAR PINTO
Acolher significa incluir. É um ato que produz uma aproximação entre o usuário e o profissional de saúde. Essa atitude de inclusão envolve relações interpessoais que devem demonstrar entendimento e empatia pela situação em que cada usuário se encontra. O acolhimento deve sempre levar em consideração as diferenças, as dificuldades, as dores e as dúvidas de cada pessoa como indivíduo único, que merece uma atenção caracterizada por dignidade e humanização.
O acolhimento, no contexto das práticas de atenção básica de saúde, é um encontro, um primeiro contato entre o usuário e o profissional de saúde. Esse encontro representa uma aproximação interpessoal que gera compromissos a partir dos interesses, das necessidades e dos direitos de cada pessoa.
Acolhimento com classificação de risco é uma forma de tentar garantir o acesso universal e com equidade aos serviços do SUS. Esse é um fator de extrema importância quando se busca garantir o acesso com integralidade à atenção básica, a fim de cumprir suas funções básicas de resolução da maioria dos problemas de saúde da população, organização dos fluxos dos usuários e responsabilização pela saúde dos usuários em quaisquer pontos de atenção à saúde que eles estejam. Para isso, o acolhimento na UBS exige que sejam considerados os aspectos de vulnerabilidade social e psíquica, e não apenas os critérios clínicos presentes no caso de cada usuário.
Como uma forma de buscar a reorganização do processo de acolhimento na Unidade Básica de Saúde em que trabalho, escolhi como objetivo dessa microintervenção o aperfeiçoamento da equipe para continuar implantando o acolhimento com classificação de risco, de forma a reorientar o serviço e o fluxo de atendimento para dar uma melhor resolutividade e capacidade assistencial, procurando construir respostas positivas para as situações apresentadas por cada usuário que procura a nossa equipe.
A primeira atividade realizada pela equipe para a implantação dessa microintervenção consistiu em um estudo dos protocolos de classificação de risco e discussão sobre os critérios de forma permanente em reuniões de equipe, com o objetivo de que os critérios se tornassem claros para todos. Quanto mais entendermos como deve ser o processo de acolhimento, maiores serão as chances de obtermos êxito em um processo de acolhimento adequado. Para tanto, procuramos entender os níveis de prioridade de atendimento ao usuário, que são identificados por cores conforme o protocolo Manchester, que foi inicialmente escrito para serviços de pronto-atendimento, procurando adequá-lo às necessidades do paciente que procura a UBS.
De acordo com o protocolo Manchester, paciente prioridade 1 (vermelho) deve ter acesso imediato a uma unidade de pronto-atendimento, necessitando ser referenciado imediatamente e removido de ambulância após o primeiro atendimento. O usuário prioridade 2 (laranja) seria aquele que necessita de atendimento muito urgente, devendo receber atendimento em no máximo 10 minutos e transportado em ambulância para uma UPA o mais rápido possível. Já o paciente prioridade 3 (amarelo) é aquele classificado como urgente. Esse paciente deve ser atendido como prioridade. O paciente prioridade 4 (verde) é categorizado como pouco urgente e deve ter seu atendimento priorizado para o mesmo dia. Finalmente, o paciente prioridade 5 (azul) é o paciente não urgente, ou seja, um caso eletivo. Casos eletivos podem ser agendados para uma outra oportunidade, conforme a disponibilidade da agenda do profissional.
O segundo passo dessa microintervenção consistiu em discutirmos como o acolhimento faz parte de uma organização mais ampla, que é a gestão da prática clínica, sendo importante para o funcionamento do sistema de saúde, articulado com outros pontos da rede de cuidados. Portanto, é importante que se faça um acolhimento adequado, em ambiente que proporcione conforto e privacidade durante esse encontro inicial. Um acolhimento adequado aumenta as chances do usuário obter o serviço que ele necessita de uma forma mais rápida e eficaz, enquanto um acolhimento inadequado pode causar atrasos ou aumentar agravos, contribuindo para uma pior qualidade de vida e de saúde do indivíduo e da comunidade.
Finalmente, um acolhimento eficaz precisa ocorrer de forma pactuada com os usuários. O terceiro passo consistiu, portanto, em utilizar as oportunidades que encontramos em nossos encontros com os usuários para informá-los a respeito de como deve funcionar o acolhimento à demanda espontânea e à demanda programada. Esse trabalho de educação da população tem o intuito de aumentar a potencialidade da microintervenção, esperando-se que, à medida em que os pacientes entendam o processo de trabalho, eles passem a utilizar os serviços oferecidos com mais eficácia para a resolução de seus problemas de saúde, além de se transformarem em agentes de disseminação desse conhecimento em suas famílias e comunidades.
Durante a implantação da microintervenção, nossa equipe pode constatar a importância do papel da enfermagem na avaliação de risco. O enfermeiro é o responsável pelo primeiro contato clínico com o usuário. Ele é quem avalia e decide rapidamente a intervenção que deve ser dada a cada caso. O enfermeiro capacitado delega ações aos outros profissionais de forma acertada, sendo um importante determinante para o acolhimento adequado. O enfermeiro ainda administra a sala de espera, organizando o fluxo dos usuários dentro da unidade, além de iniciar ou auxiliar nos primeiros socorros, quando necessário. É o enfermeiro quem irá identificar vulnerabilidades individuais dos pacientes e orientar quanto ao fluxo segundo a necessidade de cada um.
Algumas dificuldades surgiram durante essa microintervenção. A maior delas foi a grande demanda espontânea gerada pela população que reside em área descoberta de Equipe de Saúde da Família, mas que vive em região adjacente à unidade de saúde. Essa população não tem acesso adequado a atendimentos programados e utiliza a demanda espontânea para tentar suprir essa necessidade. Essa realidade é um verdadeiro desafio à implantação do acolhimento, tendo em vista que a população descoberta é bem maior que a população coberta pelas equipes.
Um outro desafio presente refere-se à necessidade de se estabelecer uma ligação concreta entre usuário e o profissional, um vínculo indispensável à relação de confiança necessária para se atender aos princípios do SUS. Esse vínculo deve ser buscado durante todo o tempo, em todos os âmbitos do atendimento ao usuário, por todos os profissionais, que deverão ter uma postura adequada de escuta, assim como o conhecimento dos serviços em geral e de como eles se aplicam a cada situação individual.
A presente microintervenção trouxe melhoria ao processo de trabalho à medida em que tanto os profissionais quanto os usuários passaram a entender melhor como deveria funcionar o acolhimento à demanda espontânea e à demanda programada. Durante o período de implantação dessa microintervenção observou-se um aumento no nível de entendimento por parte dos profissionais a cerca do processo de acolhimento, e consequentemente uma melhor aceitação por parte dos usuários quando lhes era explicado sobre sua classificação de risco e necessidade de um encaminhamento a uma UPA ou mesmo um retorno para uma consulta programada em outro momento conforme disponibilidade na agenda do profissional.
Ponto(s)