23 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Título: Acolhimento em Unidade Básica de Saúde do Rio Grande do Norte

Especializando: Ana Lúcia Lins Pinto

Orientadora: Maria Helena Pires Araújo

 

O atendimento à demanda espontânea na Unidade Básica de Saúde (UBS) envolve diversas ações que devem ser realizadas em todos os aspectos de atenção à saúde, incluindo questões organizativas da equipe e seu processo de trabalho como também questões relacionadas à resolutividade no cuidado e condutas (BRASIL, 2013).

É necessário refletir sobre vários pontos como, por exemplo, o acesso da população aos serviços de saúde de atenção básica e os possíveis fatores que possam favorecer ou dificultar a entrada do usuário no sistema de saúde. Devemos levar em conta a quantidade de usuários por equipe, a organização da demanda, a localização da UBS, horários e dias de atendimento, infraestrutura adequada para o atendimento, entre outros (BRASIL, 2013).

Nesse sentido, para darmos início a microintervenção, convocamos uma reunião com toda a equipe para debatermos sobre como se dava o atendimento à demanda espontânea e programada em nossa UBS, abordando sobre os diversos aspectos citados acima.

Durante as discussões ficou claro que, infelizmente, não há estratégia de acolhimento à demanda espontânea em nossa unidade, ainda utilizamos distribuição de fichas para marcação de consultas, que são feitas semanalmente e os atendimentos são realizados por ordem de chegada sem avaliação de risco e vulnerabilidades. Isso gera uma restrição do acesso da população, resultando em insatisfação por parte dos mesmos que se revela nas enormes filas em busca de agendamento. 

Outro aspecto bastante discutido foi o fato de não dispormos de uma boa infraestrutura. A UBS é uma adaptação de duas casas alugadas e não há espaços reservados e apropriados para o acolhimento. Isso interfere bastante na qualidade da escuta, pois esse é um momento de intimidade em que os medos e as angústias do indivíduo serão expostos, não havendo necessidade de se compartilhar com as demais pessoas ao redor.

Após o debate, para finalizarmos a reunião, listamos os principais fatores que dificultam o nosso processo de acolhimento para trabalharmos buscando soluções para os mesmos. Os mais pertinentes foram: alta demanda de usuários por equipe, estrutura física da unidade inadequada, falta de profissionais na equipe e, principalmente, falta de capacitação dos mesmos.  Apesar de todas essas dificuldades, percebeu-se que alguns profissionais estão realmente preocupados e esforçam-se bastante para atender bem as pessoas que procuram a UBS.  

Para garantir um atendimento humanizado, resolutivo e que propicie a criação de vínculo entre as equipes de atenção básica e as pessoas, o cuidado deve ser baseado nos princípios do acolhimento e da escuta qualificada à população, aliado à gestão local reflexiva e às boas práticas de atenção. (BRASIL, 2013)

Nesse sentido, convocamos em um segundo momento, nova reunião com o objetivo de aperfeiçoar a equipe para implantação do acolhimento. Foi proposta a realização de um treinamento acerca do tema para todos os funcionários e, para isso, foi utilizado material didático elaborado pela própria médica e fluxogramas extraídos do caderno de atenção básica do Ministério da Saúde. O mesmo foi realizado na própria UBS, em uma roda de conversa, porém apenas 4 dos 9 agentes compareceram, além da médica, enfermeira e técnica de enfermagem.

   As dificuldades para realização desta microintervenção foram inúmeras. As principais foram: indisponibilidade de tempo na agenda dos funcionários e reclamações constantes devido a necessidade de se retirar um horário a mais em sua agenda para realização da atividade; a falta de interesse da maioria dos funcionários devido a atividade não ter caráter obrigatório para todos (resultando em falta de atenção, conversas paralelas e até mesmo digitação de fichas por um dos profissionais durante a reunião, alegando só ter aquele horário para fazê-lo); a resistência da maioria dos profissionais em aceitar a colocar em prática o acolhimento (alguns relataram ser perca de tempo por aumentar a espera do usuário para ser atendido pela médica, outros relataram grande receio a respeito da reação dos usuários para com a classificação de risco e outros já consideraram impossível esse trabalho alegando conhecer a população com a qual lida há anos); dentro outros.  

No entanto, espera-se que esses momentos tenham sido apenas os primeiros passos para provocar mudanças consideráveis no processo do acolhimento da unidade. Aprendi o quanto é importante reconhecer ações que necessitam ser modificadas e para tal, é necessário um planejamento estratégico para participação de todos os envolvidos. Percebi a complexidade que envolve o acolhimento e que o mesmo não se restringe apenas às questões estruturais, mas também às questões de relacionamento, sendo um ponto inicial para criação do elo entre o profissional e o usuário. É fundamental compreender que o processo de trabalho deve ser revisado continuamente, para que seja possível a melhoria na qualidade no serviço.

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