10 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES NA UBS.

ESPECIALIZANDO: RODRIGO MOTA GOMES

ORIENTADOR: ANGELO AUGUSTO PAULA DE NASCIMENTO

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A Equipe de Saúde da Família (ESF) da qual sou o médico se encontra na zona rural do município de Indiaroba/SE, e abrange um total de cinco povoados, com cerca de 3.500 usuários. Temos como a referência o povoado Terra Caída. Destes povoados, quatro apresentam uma Unidade Básica de Saúde e em um deles o atendimento é feito em uma casa adaptada. 

A ESF é composta por: um médico, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, oito agentes comunitários de saúde (ACS), uma cirurgiã-dentista e uma auxiliar de saúde bucal. O horário de atendimento é de 40 horas semanais sendo 32 de atendimento com as atividades à população (Atendimento médico, vacinação, pré-natal, puericultura, visitas domiciliares, PSE, palestras etc.) e oito horas com reuniões da equipe na própria unidade.   Normalmente, uma vez por mês temos uma reunião na sede da cidade com toda a equipe para debatermos, principalmente, o cronograma, as atividades a serem realizadas e o que ocorrer.

Ao chegar à ESF, percebi grande dificuldade por não termos uma única unidade, fazendo com que cada povoado fosse visitado apenas uma vez por semana. No entanto foi possível modificar essa situação, pois alguns povoados necessitavam de mais visitas semanais devido à grande demanda. Para tentar solucionar essa questão, deixamos de distribuir igualmente o número de visitas em cada povoado e passamos a reservar a última semana do mês para visitas aos povoados com maior demanda. Essa solicitação era sempre recorrente nas reuniões de equipe realizadas mensalmente.

Para que pudesse ser feita uma avaliação da área atendida com base nos indicadores AMAQ, foi criada uma tabela para registro de número de atendimentos realizados por médico e enfermeiro da equipe ao longo do tempo. A avaliação dos dados será colocada na tabela com frequência mensal para melhor estudo dos dados sobre os atendimentos na região. Cada profissional que realizar o atendimento será responsável pelo registro de tais dados.

INDICADORES

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

Média de atendimento do MÉDICO

(por habitante)

 

 

 

 

 

Média de atendimento da ENFERMEIRA

(por habitante)

 

 

 

 

 

Para a escolha da microintervenção a ser realizada foi feito um resgate da AMAQ, pois esta já tinha sido respondida pela enfermeira anterior, que por motivos de gestão teve que ser substituída. Além disso, havia grande dificuldade de realizar uma reunião coletiva, pois o meio de transporte para reunir toda a equipe é escasso. A reunião do mês de Abril já havia sido realizada no momento da abertura desse módulo. Reli, então, as respostas obtidas no AMAQ com a equipe da gestão anterior, e levantei alguns pontos problemáticos em que poderíamos intervir sem a necessidade de envolver outras partes. Conversei com a enfermeira e os ACS individualmente sobre quais pontos eles achavam mais problemáticos e que seriam possíveis de resolução, além de trazerem com bom retorno aos usuários.

Infelizmente foi constatado que temos muitas falhas, porém aquelas que mais chamaram atenção para toda a equipe foi na “Subdimensão: Atenção Integral a Saúde”, principalmente no quesito envolvendo a demanda programada. Devido ao fato de cada povoado receber em média quatro visitas no mês, fica difícil de determinarmos um dia para cada grupo populacional (puericultura, pré-natal, HIPERDIA, por exemplo). Então, na maioria das visitas são feitos atendimentos a todos os grupos no mesmo dia. Percebemos que é complicado acompanhar o crescimento e desenvolvimento das crianças menores de dois anos com as consultas regulares, como preza a puericultura (1º semana e no 1º, 2º, 4º, 6º, 9º, 12º, 18º e 24º mês de vida); orientações do pré-natal até os dois anos de vida da criança; atendimento para puérpera e o recém-nascido na primeira semana de vida; atender hipertensos, diabéticos com base na estratificação de risco; planejamento familiar; acompanhamentos de gestantes.

Preferimos intervir no grupo de gestantes no acompanhamento de pré-natal no padrão 4.22 da AMAQ, pois na autoavaliação obteve pontuação 4,devido ao grande impacto da realização do pré-natal nos índices de morbidade e mortalidade materna e infantil. Segundo o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde, “Atenção ao `Pré-Natal de baixo risco”, “a assistência pré-natal adequada (componente  pré-natal),  com  a  detecção  e  a  intervenção precoce das situações de risco, além da qualificação da assistência ao parto são  os  grandes determinantes dos indicadores de saúde relacionados à mãe e ao bebê que  têm o potencial de diminuir as principais causas de mortalidade materna e neonatal” (BRASIL, 2012).

Em 2014, cerca de 40% dos 10.446 óbitos infantis e neonatais evitáveis ocorridos no Brasil estavam relacionados à inadequação da atenção à gestação (TOMASI et al., 2017).

A partir da escolha do grupo em que seria feita a intervenção, foi desenvolvida uma matriz que ajudasse a organizar essa questão de maneira clara. Tal matriz foi construída junto com a enfermeira da equipe, e contém itens que buscam estimar em quais pontos o pré-natal da equipe pode ser melhorado. Algumas questões precisavam ser respondidas, por exemplo: estamos realizando poucas consultas? Nossas pacientes realizam consulta com o odontólogo? Nossas pacientes realizam os exames complementares indicados pelo Ministério da Saúde? Logo, criamos a matriz na tentativa de levantar esses dados e fazer intervenções mais eficazes.

Segue, abaixo, o modelo da matriz:

MATRIZ DE INTERVENÇÃO

Descrição do padrão: 4.22 –A equipe realiza seis ou mais consultas de pré-natal (consultas alternadas entre médico e enfermeiro), mensalmente até a 28ª semana; quinzenalmente da 28ª à 36ª semana; semanalmente no termo. Solicita e avalia os exames complementares recomendados, diagnóstico e tratamento de DST, realiza imunização antitetânica e para hepatite B (quando indicado). Nas consultas, avalia risco e vulnerabilidade, situação nutricional, mensuração da pressão arterial e da altura uterina, ausculta do batimento cardíaco fetal (após o quarto mês). Atende às intercorrências e urgências na gestação. Realiza atividades educativas mensais, abordando temas relativos à gravidez, ao parto e ao puerpério, reforçando a maternidade de referência, o direito ao acompanhante na hora do parto e o direito aos benefícios, como o Benefício Variável Gestante (BVG) (PBF). Estimula a participação do companheiro no pré-natal, no parto e no puerpério. Orienta quanto à prevenção e ao controle de carências nutricionais, como a anemia ferropriva. Mantém o acompanhamento por meio de visitas domiciliares e de grupo de educação em saúde de todas as gestantes do território, inclusive as que optaram por realizar o pré-natal em outros serviços. Realiza ações de saúde bucal com, no mínimo, uma avaliação odontológica por trimestre de gestação. Registra o estado de saúde na caderneta da gestante, no prontuário (com espelho do cartão ou equivalente) e no sistema de informação.

Descrição da situação-problema para o alcance do padrão: a equipe não tem um controle de acompanhamento das gestantes no pré-natal, com consultas alternadas (médico e enfermeira), solicitações de exames consultam com dentista, entre outros cuidados que devem ser tomados com as gestantes.

Objetivo/meta: Instituir melhorias no acompanhamento ambulatorial e na atenção à saúde no período do pré-natal

Estratégias para alcançar os objetivo/metas

Modificar a agenda

Consultas alternadas entre médico e enfermeiro

Consultas com o dentista

Orientações educacionais a gestante durante as consultas

Atividade a serem desenvolvidas

Consultas de pré-natal (enfermeira, médico e dentista)

Reuniões com a equipe

Recursos necessários para o desenvolvimento das atividades

Recursos humanos: 1 médico, 1 enfermeira, 1 cirurgiã-dentista, 8 ACS.

Recursos materiais: prontuários, cadernetas de gestantes, espelho da caderneta de gestante, uma resma de papel oficio, caneta esferográfica.

Resultados esperados

Aumentar o número de consultar das gestantes com o médico, enfermeiro e dentista. Tendo como impacto uma melhor adesão dos usuários ao pré-natal.

Responsáveis

Médico – realizar os atendimentos, revisar os prontuários, analisar questionários 

Enfermeiro – realizar os atendimentos, revisar os prontuários, analisar questionários

Dentista – realizar atendimento, revisar os prontuários

ACS – responder os questionários, marcar consultas das gestantes

Prazos

30 dias para preenchimento e entrega dos questionários
10 dias para análise dos questionários e prontuários

Mecanismos e indicadores para avaliar o alcance dos resultados

Registro das consultas no cartão de gestante

Registro dos resultados de exames laboratoriais no cartão de gestante

Registro de administração de vacinas na UBS

 

O projeto teve início com um levantamento de todas as gestantes em cada povoado, com a idade gestacional em que se encontravam, com discriminação de número de consultas realizadas tanto pelo médico como pela enfermeira. Cada agente de saúde listou as pacientes gestantes em sua microárea, com discriminação de número de consultas já realizadas, planejamento da gravidez, idade gestacional em que o pré-natal foi iniciado, realização (ou não) de exames laboratoriais, exames de imagem e papanicolau, suplementação de ferro e ácido fólico, além de atualização de calendário de vacinação. No momento, o projeto está na fase de análise de prontuários e tabulação dos dados obtidos pelos agentes de saúde, ainda não temos o resultado final do mês de Abril.

Com a análise inicial, notamos que grande parte das gestantes não realizava o pré-natal de maneira adequada, conforme as recomendações do Ministério da Saúde, que recomenda o número mínimo de seis consultas de pré-natal.

Determinamos que na segunda semana de cada mês fosse dada preferência ao atendimento de pré-natal, além das demandas espontâneas. Orientamos os ACSs para que informassem nas visitas domiciliares dessa preferência e que as gestantes comparecessem à unidade.

Na unidade orientamos as gestantes sobre a periodicidade das consultas. Estas seriam feitas alternadamente pelo médico e pela enfermeira, com consultas mensais, inicialmente.  Se algum profissional percebesse a necessidade de consulta com o outro, a consulta seria realizada no mesmo dia. Junto com a enfermeira analisamos o prontuário das gestantes e anexamos o espelho do cartão aos que estavam incompletos.      

Nesse processo de implantação do projeto notamos dificuldade em registrar as informações de maneira adequada nos prontuários das unidades, devido ao número importante de prontuários incompletos ou perdidas. Em algumas dessas unidades não há um profissional responsável pela tarefa de organização e resgate de prontuários, sendo essa tarefa destinada aos agentes de saúde da microárea.

Outra dificuldade encontrada foi o registro adequado das gestantes. Notou-se que na maioria dos casos a gravidez não era planejada e o diagnóstico da gestação era dado de maneira tardia, o que atrasava o início do pré-natal e  tornava impossível a realização de consultas pré-concepcionais.

Com a implantação do cadastro de gestante e determinação de dias de atendimento preferencial a esse grupo, percebemos que a adesão das mulheres ao pré-natal aumentou, pois o acesso ao serviço se tornou mais fácil e planejado. Também notamos que o vínculo da equipe com a paciente foi fortalecido, o que melhorou a capacidade da equipe em realizar orientações para a mulher e para o companheiro sobre a gravidez, parto e puepério. Esclareço mais uma vez que ainda não foi feita a análise dos dados obtidos e que essa é apenas uma impressão subjetiva da equipe.

Esperamos, assim, que o projeto consiga se perpetuar ao longo do tempo, com a observação de outros aspectos relacionados à saúde da mulher na gestação para a obtenção de resultados ainda melhores e redução de complicações para mãe e recém-nascido.

QUESTIONÁRIO PARA ACOMPANHAMENTO DE PRÉ-NATAL

 

 

Nome:

Idade:

Nome:

Idade:

Nº DE CONSULTAS

 

 

GRAVIDEZ PLANEJADA?

 

 

INICIO DO PRÉ NATAL

 

 

IDADE GESTACIONAL

 

 

ACIDO FÓLICO/ SULFATO FERROSO

 

 

LABORATÓRIO

 

 

ULTRASSONOGRAFIA

 

 

LÂMINA

 

 

VACINAS

 

 

TESTE RÁPIDO

 

 

CONSULTA COM DENTISTA

 

 

 

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012. 318 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32)

TOMASI, Elaine et al. Qualidade da atenção pré-natal na rede básica de saúde do Brasil: indicadores e desigualdades sociais. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 33, n. 3, p.1-11, 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0102-311×00195815.

 

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