15 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO DE ACÕES PARA DIMINUIR OS USUARIOS DE TABACO EM NOSSA COMUNIDADE.

ESPECIALIZANDO: DRA ISABEL ZAYAS FERRER

ORIENTADOR: MARIA BETANIA MORAIS DE PAIVA

O tabagismo, antes visto como um estilo de vida é atualmente reconhecido como uma dependência química que expõe os indivíduos a inúmeras substâncias tóxicas. O total de mortes devido ao uso do tabaco atingiu a cifra de 4,9 milhões de mortes anuais, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia. Caso as atuais tendências de expansão do seu consumo sejam mantidas, esses números aumentarão para 10 milhões de mortes anuais por volta do ano 2030, sendo metade delas em indivíduos em idade produtiva (entre 35 e 69 anos).(1)

O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de tabaco no mundo. A dependência econômica do setor torna mais complexa qualquer estratégia de intervenção. Por outro lado, o controle do tabagismo exige um eficiente e sistemático mecanismo de vigilância para monitorar as tendências de consumo de tabaco.(1)

O tabagismo, dentre todos os fatores ambientais do século, certamente representa o mais vil e ameaçador de todos, representando o maior fator de risco para o desenvolvimento de tumores malignos (um terço de todos os casos), doenças pulmonares, doenças cardiovasculares, doenças cerebrais, entre outras. Calcula-se que 100 milhões de mortes foram causadas pelo tabaco no século XX segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Paradoxalmente, é o único produto legal que causa a morte da metade de seus usuários regulares. Isto significa que de 1,3 bilhão de fumantes no mundo, 650 milhões vão morrer prematuramente por causa do cigarro. (2)

A dependência ocorre pela presença da nicotina nos produtos à base de tabaco. A dependência obriga os fumantes a inalarem mais de 4.720 substâncias tóxicas, além de 43 substâncias cancerígenas. (3)

Atualmente mais de um bilhão de pessoas são fumantes no mundo e na década de 2030 estima-se que esse total poderá chegar a dois bilhões. A maioria destes fumantes estará nos países em desenvolvimento. O impacto sobre a saúde decorrente do uso do tabaco é bem conhecido: responsável por 90% dos tumores pulmonares, 75% das bronquites crônicas, 25% das doenças isquêmicas do coração. (4)

O tabagismo, hoje, mata mais que a soma das mortes por AIDS, cocaína, heroína, álcool, suicídios e acidentes de trânsito. As doenças causadas pelo tabaco são responsáveis por perdas econômicas de aproximadamente US$ 200 bilhões de dólares, no mundo. (5)

O presente estudo se propõe a avaliar a incidência e a prevalência do tabagismo na comunidade. Também se propõe avaliar a presença de doenças associadas nos pacientes tabagistas e o dano causado pelo tabaco, para assim realizar ações encaminhadas a diminuir os usuários de tabaco em nossa comunidade.

Na minha UBS foi realizada uma reunião com toda a equipe, utilizando o instrumento da Autoavaliação da Melhoria do Acesso e Qualidade (AMAQ) como ferramenta para realizar uma autoavaliação completa.

A auto avaliação é entendida como o ponto de partida da fase de desenvolvimento do PMAQ, uma vez que os processos orientados para a melhoria da qualidade têm início na identificação e reconhecimento das dimensões positivas e também problemáticas do trabalho da gestão e das equipes de atenção à saúde. O PMAQ tem como propósito a ampliação da oferta qualificada dos serviços de saúde no âmbito do SUS. No âmbito do PMAQ, recomenda-se que a autoavaliação seja realizada com base na ferramenta composta por um conjunto de padrões de qualidade, ou seja, por declarações acerca da qualidade esperada quanto à estrutura, aos processos e aos resultados das ações na atenção básica. (6)

Os processos autoavaliativos foram constituídos não apenas pela identificação de problemas, mas também pela realização de intervenções no sentido de superá-los. Foi fundamental estabelecer prioridades de investimento para construir estratégias de ação com iniciativas concretas para a superação dos problemas identificados. Desse modo, processos autoavaliativos comprometidos com a melhoria contínua da qualidade poderão potencializar os demais processos da fase de desenvolvimento do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade (PMAQ). (6)

O AMAQ é um instrumento de autoavaliação que auxilia no planejamento de ações da equipe. Com ele são identificados os nós críticos que devem ser trabalhados, assim como, as ações de intervenção que devem ser implementadas, devendo ser entendido como um processo necessário e contínuo nas ações de monitoramento e acompanhamento pelos gestores, profissionais e equipes. (6)

O mesmo estrutura-se em duas partes, parte I com foco nas Equipes de Atenção Básica; e parte II com foco nas equipes de Saúde Bucal. Esse instrumento foi utilizado para analisar as unidades, as dimensões e subdimensões. Fomos preenchendo a resposta de cada padrão com uma nota duma escala do zero ao dez.(7)

Foram identificados vários problemas: alta prevalência de Hipertensão Arterial; alta prevalência de obesidade; alta prevalência de pessoas com sofrimento psíquico em uso de psicofármacos; escassas reuniões realizadas com a comunidade para discussão de problemas relacionados com problemas locais de saúde; ausência de oferta de medicamentos fitoterápicos padronizados na Estratégia de Saúde da Família e ausência de materiais para urgência e emergência na UBS. Foi selecionado como problema fundamental a insuficiência de ações voltadas aos usuários de tabaco no nosso território.

Em nossa comunidade foram identificados vários fatores de risco que influenciam na prevalência do tabagismo na nossa área, por exemplo: fumo entre amigos e família, baixa escolaridade, desemprego, uso de outras drogas e o uso de álcool.

Ao terminar a autoavaliação, a equipe aprendeu como fazer uma melhor estratégia de saúde da família para o atendimento e acompanhamento dos pacientes tabagistas e suas famílias, identificando as potencialidades da nossa UBS que podemos aproveitar e as fragilidades que impedem ou dificultam o trabalho da equipe, com o intuito de buscar soluções.

Uma das potencialidades foi o apoio de profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) nos grupos de tabagismo, a existência de apoio medicamentoso na farmácia do hospital para pacientes que desejam parar de fumar e o trabalho feito pelos agentes de saúde na pesquisa desses pacientes e seu encaminhamento para a UBS.

Uma das fragilidades identificadas foi a presença de uma área descoberta sem agente de saúde, causando dificuldade para recolher todos os dados necessários para o cadastro e preenchimento dos prontuários da população, assim como cadastro e identificação das doenças crônicas. Também a falta de alguns recursos materiais na UBS para o atendimento desses pacientes, assim como a falta de medicamentos usados na terapia de reposição de nicotina na rede de farmácias do SUS.

Depois de terminar a microintervenção, observamos como mudou a percepção da equipe quanto às ações que podem ser feitas, identificando um maior número de ações para dar uma maior abrangência e fazer um melhor cadastro dos tabagistas da nossa comunidade, assim como mudar seu estilo de vida para um que seja mais saudável.

Dessa forma, nós poderemos dar um atendimento integral a esses pacientes, ajudá-los a parar de fumar e melhorar sua saúde para prevenção de outras doenças.

Foi realizada uma matriz de intervenção com o trabalho da equipe. A matriz tem três objetivos: oferta de tratamento aos tabagistas; ampliação do acesso dos usuários do SUS ao tratamento intensivo de tabagismo; reduzir a prevalência do tabagismo na nossa área e, consequentemente, a morbimortalidade pelas doenças relacionadas ao uso do tabaco.

A estratégia para alcançar o primeiro objetivo é a capacitação dos profissionais inseridos na Estratégia de Saúde da Família (ESF) para tratamento na abordagem intensiva. A atividade é seleção de instrutores para ministrar a capacitação. Os recursos necessários são instrutores para ministrar a capacitação. Os resultados a esperar são profissionais preparados para abordagem intensiva dos fumantes de sua área de abrangência e profissionais capacitados e multiplicadores. O responsável é a Secretaria Municipal de Saúde. O prazo é de 3 meses. Os mecanismos e indicadores para avaliar o alcance dos resultados são: definição de método de atendimento compartilhado: definição dos responsáveis pelo preenchimento das planilhas de acompanhamento; definição de avaliação e monitoramento das ações realizadas e cronograma.

A estratégia para alcançar o segundo objetivo foi a avaliação clínica inicial de todos os fumantes. As atividades são: prescrição de medicamentos e definição da dispensação e duração das receitas; definição da forma que se dará assistência para alguns casos, (como, por exemplo, sintomas maiores de abstinência ou efeito colateral da medicação); referência de casos que necessitem de avaliação complementar, em virtude da prescrição de medicamentos nos casos indicados e da necessidade de acompanhamento clínico. O recurso necessário é a disponibilidade de medicamentos como adesivo transdérmico de nicotina, goma de mascar de nicotina e cloridrato de bupropiona (para os pacientes com elevado grau de dependência). Os resultados a esperar serão cessação do tabagismo; aumento da sobrevida; redução da morbidade atribuída ao tabagismo; prevenir as doenças crônicas não transmissíveis e os agravos decorrentes das mesmas. O responsável é o Médico da Estratégia de Saúde da Família (ESF).O prazo é de 4 meses. O mecanismo e indicador para avaliar o alcance dos resultados é a realização de no mínimo, uma consulta mensal.

A estratégia para alcançar o terceiro objetivo é a busca ativa e promoção da adesão dos fumantes aos grupos terapêuticos. A atividade é: realização de palestras motivacionais aos usuários interessados em participar da abordagem intensiva do tabagismo. Os recursos necessários são: espaço físico estruturado para a realização dos grupos; manual padronizado para cada uma das sessões. O resultado a esperar será redução de perdas de acompanhamento e propiciar acesso aos usuários mais motivados, aumentando a efetividade da abordagem. Os responsáveis serão: Equipe da Estratégia de Saúde da Família (principalmente o ACS na realização de busca ativa); inclusão da equipe de saúde bucal e nutricionista. O prazo é de 3 meses. O mecanismo e indicador para avaliar o alcance dos resultados é: encontros semanais no primeiro mês, quinzenais (no segundo mês de tratamento) e uma sessão mensal no terceiro mês.

Depois de terminar a intervenção, foi possível conhecer melhor as nossas potencialidades e fragilidades, o que contribuiu para melhorar o trabalho da equipe. Isso vai nos ajudar a fazer melhores ações encaminhadas a promover e proteger a saúde dos pacientes com risco de tabagismo e a recuperar a saúde dos usuários de tabaco de nosso território.

 

Equipe da UBS São Sebastião

 

 

 

Referências:

1)    Azevedo, S. M. G.; Casado, L.; Almeida, L. M..Prevalência de Tabagismo no Brasil. Dados dos inquéritos epidemiológicos em capitais brasileiras. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro. Maio de 2004.

2)    Maluf, F. O tabagismo no mundo e no Brasil. Blog Letra do médico. Junho 2017. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/o-tabagismo-no-mundo-e-no-brasil/

3)    Rosemberg, J. Nicotina: droga universal. Monografia. Produção Independente. São Paulo: 2004.

4)    Wünsch, V. Filho. Tabagismo e câncer no Brasil: evidências e perspectivas. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). RevBras Epidemiologia. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v13n2/01.pdf.

5)    Ribeiro, M. N. D. Angiocor. Tabagismo. Disponível em: http://www.cardiologiacuritiba.com/cardiologia-tabagismo.html

6)    Aurélio, P. H. PMAQ/AMAQ. Ministerio da Saúde. Brasília DF. 2013. Disponível em: www.saude.gov.br/bvs

7)    Tutoriais do AMAQ. Disponível em: http://amaq.lais.huol.ufrn.br/amaq_homologacao/static/assets/docs/como_fazer_autoavaliacao.pdf

 

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