A Unidade Básica de Saúde (UBS) Unidade Lagoa Seca, Areia Branca, Sergipe, possui cerca de 2.465 pacientes cadastrados, cobrindo uma área de cerca de 674 famílias, de classe baixa. Atualmente a UBS possui um médico, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, sete Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e um auxiliar de serviços gerais. São realizadas, por dia, cerca de 30 atendimentos médicos, 10 a 15 atendimentos com enfermeira, e 13 com auxiliar de enfermagem.
O expediente de trabalho abre espaço para atenção domiciliar em um dia da semana, mais precisamente na terça feira no período da tarde, com visitas a cada 15 dias, no período matutino, ou segundo necessidade da demanda.
Iniciou-se a abordagem da primeira microintervenção com a reunião realizada dia 11 e maio de 2018, sexta feira, no período vespertino das 14 às 18 hrs, após muita relutância de alguns, principalmente pela Secretaria de Saúde que não queria liberar o horário, contudo depois de muita conversa, diálogo e negociação a equipe se reuniu.
Inicialmente foi apresentado o AMAQ, de forma geral como uma Autoavaliação para a Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ). Apresentou-se a ferramenta como um instrumento de apoio que objetiva melhorar a Atenção Básica (AB) ou serviços da AB. Também foi abordado que o Ministério da Saúde tem priorizado a execução da gestão pública com base em ações de monitoramento e avaliação de processos e resultados. E um dos requisitos para conclusão da pós-graduação era a execução de microintervenção que verificasse um indicador que estivesse sendo considerado como ineficiente e ineficaz, a fim de promover medidas para mudar esta realidade (AMAQ, 2018).
Depois de apresentar este instrumento brevemente abordou-se os requisitos avaliativos dispostos no AMAQ junto a equipe. Dentre os muitos indicadores, avaliaram-se a gestão municipal, a implantação e implementação da atenção básica no município, a organização e integração da rede de atenção à saúde, a gestão do trabalho, a participação, o controle social e a satisfação do usuário.
Quanto a gestão da atenção básica, foi verificado o apoio institucional, a educação permanente e o monitoramento e avaliação. No que diz respeito a Unidade Básica de Saúde em questão verificou-se problemas relativos a infraestrutura e equipamentos (cadeiras, mesas, entre outros). Acerca da educação permanente, processo de trabalho e atenção integral à Saúde verificaram-se os insumos e medicamentos, a educação permanente e qualificação das equipes de Atenção Básica, a organização do processo de trabalho, a atenção integral à saúde, a participação, controle social e satisfação do usuário, o programa Saúde na Escola.
Após esta pontuação, como também após conversa com a equipe, decidiu-se eleger o problema do uso irracional de medicamentos psicotrópicos, em virtude de se verificar in loco que muitos pacientes chegam na UBS somente com interesse de renovar a receita, e não de passar por uma nova avaliação, em virtude desta realidade elegeu-se este tema, com enfoque na capacitação da equipe para lidar com a problemática inicialmente, e posteriormente um programa a ser aplicado junto a estes pacientes.
Dentre esses requisitos da educação permanente, houve uma sugestão de promover uma capacitação sobre as principais características dos psicotrópicos, formas de acolher pacientes com problemas mentais, e patologias deste nível. Foi abordado até mesmo a possibilidade de usar o Caderno de Atenção básica 34 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015).
Pode-se verificar que a equipe apresentou grande motivação e entusiasmo em promover este projeto, apresentando sugestões, dando dicas, e afirmando que os resultados podem ser bastante satisfatórios.
Entende-se por medicamentos psicotrópicos aqueles que agem no Sistema Nervoso Central, são medicamentos prescritos geralmente para pacientes com problemas mentais e neurológicos. Ainda que sejam importantes no combate a distintas patologias, os psicotrópicos, quando utilizados por um período prolongado, causam dependência química, como também possuem distintos efeitos colaterais (GRASSI; CASTRO, 2012).
Em nosso país pode-se observar nas últimas décadas um aumento do uso de medicamentos psicotrópicos na população. Justamente por isto o uso desse tipo de medicamento deve ser feito racionalmente pelo médico e as unidades de saúde devem evitar o uso indiscriminado do mesmo. Para isto esta pesquisa acredita que a orientação é fundamental, e após esta orientação a conscientização por parte do paciente em entender que certos tipos de drogas como os medicamentos psicotrópicos exigem um uso racional, equilibrado, em virtude dos efeitos colaterais associados (OMS, 2015).
Em verdade a prescrição de medicamentos psicotrópicos pode ser feito por um médico clínico, todavia o ideal é que o médico seja psiquiatra, neurologista ou especialistas nesta área, o que nem sempre é possível no sistema público de saúde. Na falta deste procura-se medidas que possam orientar o paciente para o correto uso destas drogas, pois o uso irracional e não monitorado dos medicamentos psicotrópicos pode levar à iatrogênia (efeitos adversos ou complicações resultantes de um tratamento médico) e até mortalidade, no caso de doses tóxicas (FERRARI et al., 2013).
Segundo a OMS (1990), o consumo excessivo e indiscriminado de medicamentos psicotrópicos pode ser considerado como um grave problema de saúde pública, preocupando as autoridades em diferentes níveis. Este uso irracional traz sérios danos que causam estas drogas à saúde da população, pois tratam uma determinada patologia, podendo acarretar outras.
A partir destes conceitos como também em conjunto com o entendimento da equipe apresenta-se a matriz de intervenção para mudar a realidade apresentada.
Matriz de Intervenção – Educação Permanente: Projeto de Intervenção uso racional de psicotrópicos na UBS Lagoa Seca Sergipe
Descrição do padrão: uso de medicamentos psicotrópicos |
Descrição da situação-problema para o alcance do padrão: uso irracional de medicamentos psicotrópicos. |
Objetivo/meta: eliminar o uso irracional de medicamentos psicotrópicos |
Estratégias para alcançar os objetivos/metas |
Atividades a serem desenvolvidas (detalhamento da execução) |
Recursos necessários para o desenvolvimento das atividades |
Resultados esperados |
Responsáveis |
Prazos |
Mecanismo e indicadores para avaliar o alcance dos resultados |
Apresentação da Intervenção através de Reunião junto a equipe |
Reunião com a equipe apresentando o AMAQ, suas potencialidades, conceitos, e propondo a intervenção junto aos pacientes que fazem uso de medicamentos psicotrópicos no intuito de reavaliar os pacientes prescrevendo a medicação somente para aqueles considerados necessários |
Humanos: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, ACS, administrativos. Materiais: instrutivo AMAQ. Caderno de Atenção Básica 34 (Saúde Mental) (BRASIL, 2015) |
Aceitação da equipe para a intervenção; entendimento da proposta. |
Médico |
04 meses |
Relatório de avaliação de verificação; percepção do entusiasmo do pessoal com o projeto. |
Agendamento de treinamentos |
Agendar o treinamento com a equipe no sentido de orientá-los a como proceder com os pacientes com problemas mentais |
Humanos: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, ACS, administrativos. Materiais: instrutivo AMAQ. Caderno de Atenção Básica 34 (Saúde Mental) (BRASIL, 2015) |
Entendimento dos profissionais da UBS de como lidar com os pacientes de doenças mentais. |
Médico e enfermeiros |
30 dias |
Agenda e relatório de execução |
Treinamento |
Reunir o pessoal para treinamento |
Humanos: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, ACS, administrativos. Materiais: instrutivo AMAQ. Caderno de Atenção Básica 34 (Saúde Mental) (BRASIL, 2015) |
Aprendizagem de como lidar com os pacientes com doenças mentais. |
Médico e enfermeiros |
15 dias |
Relatório de aprendizagem |
Agendamento das Ações |
Agendar com os pacientes com transtornos mentais as reuniões |
Humanos: pacientes |
Adesão de no mínimo 10 pacientes com doenças mentais |
Enfermeiros, ACS, auxiliares, administrativos. |
07 dias. |
Agenda. |
Execução das ações |
Palestras, orientações, rodas de conversa, entre outras medidas no intuito de orientar acerca do uso irracional de psicotrópicos |
Humanos: pacientes, médico, enfermeiro, técnicos de enfermagem, ACS, administrativos. Materiais: apresentações, folhetos, cartazes, entre outros. |
Compreensão e adoção de medidas para o uso racional de psicotrópicos |
Médico, enfermeiros, ACS, auxiliares, administrativos. |
15 dias. |
Questionário, relatórios. |
Monitoramento |
Verificação se as medidas estão surtindo efeito ou se deve fazer uma reavaliação |
Humanos: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, ACS, administrativos. Materiais: instrutivo AMAQ. Caderno de Atenção Básica 34 (Saúde Mental) (BRASIL, 2015) |
Uso racional de psicotrópicos |
Paciente, médico enfermeiros, ACS, auxiliares, administrativos. |
03 meses. |
Relatórios |
Após a montagem desta matriz de intervenção verificou-se algumas respostas características da equipe, primeiramente houve um grande entusiasmo quando apresentada a proposta, em virtude de haver muitos pacientes com doenças mentais na UBS, todavia surgiram algumas dúvidas sobre como serão os treinamentos, horários, se haverá certificado, entre outros, que serão elucidadas no decorrer da intervenção.
Quanto as dificuldades para execução da primeira microintervenção estão relacionadas a falta de tempo de reunir a equipe. A demanda é muito grande na UBS, e qualquer adaptação do cronograma pode provocar uma possível superlotação. Quanto ao impacto positivo percebido foi a vontade da equipe em aprender, de se capacitar, de melhorar o atendimento e desenvolver a intervenção junto aos pacientes com doenças mentais na UBS.
Referências Utilizadas:
AMAQ. Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica. 2018. Disponível em:< http://amaq.lais.huol.ufrn.br/>Acesso em 04 de junho de 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013.
______. Organização Mundial da Saúde. Relatório sobre saúde no mundo 2001. Saúde
mental: nova concepção, nova esperança. Genebra: OMS, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE: Psicotrópicas ou Drogas Psicotrópicas. Disponível
em:< http://www.imesc.sp.gov.br/pdf/artigo%201%20-%20DROGAS%20PSICOTR%C3%93
PICAS%20O%20QUE%20S%C3%83O%20E%20COMO%20AGEM.pdf>. Acesso em: outubro
de 2015.
GRASSI, LTV, CASTRO, JES. Estudo do consumo de medicamentos psicotrópicos no município de Alto Araguaia – MT. UNIJIPA [periódicos da internet]. 2012 Ago [ acesso em 02 Maio 2018]; Disponível em:http://www.unijipa.edu.br/media/files/2/2_663.pdf
FERRARI, CKB, BRITO, LF, OLIVEIRA, CC, MORAES, EV, TOLEDO, OR, DAVID, FL. Falhas na Prescrição e Dispensação de Medicamentos Psicotrópicos: Um problema de Saúde Pública. Rev Cienc Farm. Bas Apl. 2013; 34(1):109-116.
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