5 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

AÇÕES PARA REDUZIR USO DE PSICOFÁRMACOS EM PACIENTES

COM TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS

 

ESPECIALIZANDA: LISIBEL GUERRERO GONZALEZ

ORIENTADORA: DANELE VIEIRA DANTAS

COLABORADORES: LAESSIA LIZIANNE DE PAIVA E MARIA APARECIDA FARIAS

 

Na atualidade, existe um incremento de pacientes com Transtorno Mental Comum (TMC) e outras doenças mentais. Os estudos epidemiológicos do Mundo e no Brasil demostram que é frequente as consultas por esses motivos e pode se evidenciar que a maioria é por transtornos de ansiedade, depressão, somatoformes, entre outros. Além disso, diversas vezes não são diagnosticados e tão pouco tratados ou acompanhados (MARAGNO et al., 2006).

Quando foi proposto o tema sobre Saúde Mental comecei a buscar informações no munícipio a respeito do tema e como se realiza o acompanhamento em todos os níveis. Percebi que existe uma deficiência no acompanhamento aos pacientes com transtornos de saúde mental, uma vez que as equipes estão incompletas e os pacientes precisam ser encaminhados para outros municípios para receber o atendimento especializado.

Em nosso município, existe o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) composto por uma psicóloga, uma assistente social, uma fisioterapeuta, uma educadora física e uma nutricionista. Além disso, existe o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que conta com uma equipe de um psicólogo, uma assistente social e um facilitador. A equipe do CRAS está incompleta neste momento por falta de psicopedagogo e educador físico.

No município, não contamos com hospital e os pacientes são encaminhados para o município de Pau dos Ferros e Mossoró. A maioria dos pacientes tem atendimento e acompanhamento pela equipe de atenção básica e pelo NASF sem precisar de outros atendimentos mais especializados e apenas tem acompanhamento pelo CRAS aqueles com alguma vulnerabilidade ou que necessitem de intervenção do conselho tutelar.

Depois da compreensão da Rede de Atenção a Saúde Mental, foi realizada uma reunião com a equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) para elaborar um instrumento que permitisse ter controle mais exato dos pacientes com doenças mentais. Foram muitas as ideias e a partir delas elaborou-se um instrumento com todos os dados necessários para o controle (Quadro 1).

 

Nome comple-to

N. de famí-lia

Doen-ça

Tempo de evolu-ção da doença

Tem ou não acompanhamento especializado

Tratamento

Tempo de tratamento

Observações

Data da próxima consulta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quadro 1. Instrumento para controle dos pacientes com doenças mentais.

 

Com a ajuda dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), fizemos visitas domiciliares para pesquisar todos os pacientes com doenças mentais e um cronograma de programação de consultas e acompanhamento.

Durante a reunião, discutimos o caso de uma paciente para relatar a experiência de melhoria e diminuição da ingestão de psicofármacos. A paciente X, 45 anos, família disfuncional de quatro integrantes, dos quais o esposo é alcoólatra, a filha maior não trabalha ou estuda e o filho menor estuda ensino secundário. A paciente fazia uso de clonazepam 3mg, 1 comprimido, de 12 em 12 horas; amitriptilina 75mg, 1 comprimido, de 12 em 12 horas; hemifumarato de quetiapina 25mg, 1 comprimido ao dia.

No primeiro atendimento, procurei saber a causa pela qual começou a tomar esses medicamentos, os sintomas que possuía, como era sua família e se ela estava disposta a diminuir a medicação. Depois dela aceitar o desmame, comecei a fazer um acompanhamento com menor intervalo de tempo entre uma consulta e outra. Encaminhei-a a psicóloga do NASF, com quem já tinha falado sobre o trabalho que comecei na minha área com os pacientes com doenças mental, para fazer funcionar a contrarreferência e assim levar a um melhor controle dos pacientes.

Após a avaliação da psicóloga, iniciei desmame das medicações, troquei o clonazepam comprimido pelo clonazepam em gotas, uma vez que se torna fácil para o paciente ir eliminando a ingestão e agendei consultas semanais para avaliar a evolução da paciente, saber os sintomas a cada semana. Na medida que diminuía a ingestão dos comprimidos, também realizava conversas com ela sobre a importância do desmame procurando estimulá-la a prosseguir.

Ao concluir as quatro semanas de acompanhamento, a paciente obteve sensível melhora, conseguiu eliminar totalmente o hemifumarato de quetiapina 25mg e usar somente um comprimido de amitriptilina 25 mg e 7 gotas de clonazepam 2,5mg/ml. Ainda vamos continuar o trabalho com ela para recuperar a saúde mental da paciente.

Com esta microintervenção, aprendemos que é muito importante ter uma sistematicidade e controle de nossos pacientes, uma vez que com orientação e apoio adequados podem diminuir a ingestão de psicofármacos e melhorar seu estilo de vida e o de suas famílias. A partir de agora a equipe vai trabalhar com todas essas pessoas doentes da área e continuar o trabalho que já começou com esta paciente, que foi a primeira de muitos que irão se beneficiar de nosso trabalho e dedicação.

Em nosso município não existia contrarreferência e, em muitas ocasiões, os pacientes retornavam para consulta com a equipe e não sabiam responder sobre a conduta dos especialistas. Nesse sentido, chegou-se a um acordo de enviar a contrarreferência para atenção básica pelo paciente, a fim de um melhor acompanhamento. Além disso, foram acrescentadas atividades de orientação e promoção de saúde para os pacientes com TMC e outras doenças mentais, já que sempre é possível modificar as situações determinadas pela falta de apoio e acompanhamento.

Durante nossa microintervenção encontramos algumas dificuldades como a falta de comunicação entre o NASF e a equipe e a falta de alguns serviços de saúde no munícipio, sendo necessário o deslocamento para outros locais.

No entanto, contamos com potencialidades que facilitaram nosso trabalho, como a boa preparação do pessoal, com uma alta qualificação sobre a temática e apesar de no início ter sido difícil chegar a um acordo com a equipe do NASF, depois de muitas conversas e explicação do trabalho que nossa equipe estava tentando realizar com os pacientes, tivemos boa aceitação por parte do NASF para realizar este trabalho em conjunto, colaborando com nossa ideia e disponibilizando materiais explicativos e didáticos.

A experiência desta microintervenção foi maravilhosa e tenho a esperança de conseguir nosso objetivo de diminuir a ingestão de psicofármacos pelos pacientes com doenças mentais.

 

REFERÊNCIA

MARAGNO, L. et al. Prevalência de transtornos mentais comuns em populações atendidas pelo Programa Saúde da Família (QUALIS) no Município de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 8, p. 1639-48, 2006. 

 

 

 

 

1 Star2 Stars3 Stars4 Stars5 Stars (No Ratings Yet)
Loading...
Ponto(s)