A LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA ILDONE CAVALCANTE DE FREITAS
ESPECIALIZANDO: DARINA RODRIGUEZ BRINGA
ORIENTADOR: ISAAC ALENCAR PINTO
Nesse capítulo irei relatar a proposta para avaliação do atendimento em saúde mental realizado pela Unidade de Saúde Ildone Cavalcante de Freitas e a interação entre os principais serviços de atendimento psicossocial, com o objetivo de caracterizar a linha do cuidado em saúde mental.
Assim, a ESF onde atuo funciona como equipe de referência interdisciplinar, atuando com uma responsabilidade sanitária que inclui o cuidado longitudinal em parceria com o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), realizando esclarecimento diagnóstico, estruturação de projeto terapêutico e abordagem da família. O NASF atua como referência de cuidados psicológicos com atendimento de um psicólogo quando necessário.
É imprescindível conhecer a atuação e papel do CAPS, que são centros de atenção psicossocial aos pacientes de saúde mental. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. É o surgimento destes serviços que passa a demonstrar a possibilidade de organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país (BRASIL, 2005).
A proposta de utilizar um instrumento de avaliação externa do PMAQ constitui importante tarefa a ser organizada por toda a equipe. Dessa forma, me reuni com a equipe (enfermeira, técnicos de enfermagem, odontóloga e agentes de saúde), para mostrar o questionário que deve ser respondido no período de três meses, para que possamos através de indicadores, avaliar o atendimento prestado em saúde mental pela Unidade.
A princípio, a equipe reagiu de maneira receosa, afirmando que iria ter dificuldades no preenchimento do questionário devido a falta de tempo e demanda de serviços na unidade. Para que isso fosse solucionado, eu propus que tirássemos um dia na semana para realizar esta ação de busca e coleta de informações.
Figura 01 – Ficha espelho do questionário de autoavaliação externa.
Fonte: Ministério da Saúde (2013).
Mediante o assunto disposto na reunião, a equipe acabou acatando a ideia e deu prosseguimento nas ações, como potencialidade elencada temos a motivação da equipe, pois compreenderam a importância de gerar indicadores de atendimento em saúde mental para a Unidade.
A Rede de atenção à saúde mental em meu município funciona da seguinte forma: unidades de porta de entrada como a UBS, o pronto socorro e hospitais, sistemas de referência como o CAPS, NASF e as Casas de acolhimento; e sistemas de redução de danos e atendimento direto de consultórios de rua, através da UBS.
Referente ao atendimento em saúde mental em minha Unidade, ocorre através do apoio do CAPS, diretamente, e do NASF, com o psicólogo. A referência ocorre quando o clínico avalia o paciente em consulta e o encaminha para serviços necessários às características da pessoa e de acordo com a complexidade de seu quadro clinico, e no caso referencia os atendimentos ao CAPS/NASF. A contrarreferência ocorre quando o CAPS/NASF recebe esse paciente encaminhado pela UBS, presta o cuidado necessário e encaminha de volta para a UBS, ou seja, o serviço inicial, já um esquema terapêutico que será acompanhado pela UBS.
Com esse processo de referencia e contrareferencia, a comunicação entre os serviços ocorre através do sistema de disponibilidade de vagas em atendimentos especiais, mas também a comunicação ocorre através de ligações do profissional médico ou da enfermeira, gerenciando as vagas disponíveis ou para saber dos tratamentos e avaliações.
Assim, compete ao CAPS, realizar a avaliação especializada em psiquiatria e estabelecer um esquema terapêutico para o paciente, e além de fornecer algumas medicações preconizadas, como psicotrópicos que não tem disponível na UBS. Compete ao NASF realizar atendimento psicológico e retornar com avaliação de cada paciente com evolução do caso e em conjunto com a UBS, elaborar um plano terapêutico.
Os demais serviços do município como o pronto socorro e hospitais, atuam em eventuais casos de internação ou administração de medicações controladas; as casas de acolhimento além de disponibilizar moradia a pessoas com transtornos graves, também ajudam a reinserir os moradores na vida social. O atendimento em consultórios de rua atua indo até os pacientes, principalmente moradores de rua, e levando o tratamento até eles.
As potencialidades dessa Rede de Atenção Psicossocial estão na interação entre diversas equipes, tornando o cuidado multidisciplinar e longitudinal. As fragilidades giram em torno do aumento da demanda e falta de profissionais especialistas, que ocasionam a demora no atendimento da referência, sendo de três a seis meses de espera.
Com essa referenciação, foi elaborado um Projeto Terapêutico Singular de um paciente que é atendido pela Unidade, que faz uso abusivo de álcool, cujo CID 10 é Z72.1. Esse paciente denomina-se J.A. e tem 52 anos, reside com esposa e dois filhos no bairro. Faz tratamento com o CAPS e acompanhamento na ESF há mais de 06 meses. Paciente segue o tratamento, já foi internado para desintoxicação no Hospital Municipal e segue em acompanhamento.
– Projeto Terapêutico Singular
– Metas a curto prazo: estabelecer vínculo entre CAPS e ESF, assim como NASF e ESF como opções de tratamento do senhor J.A; Solicitação de exames de rotina; orientações sobre a importância de seguir com o tratamento medicamentoso e psicológico; encaminhar ao NASF para atendimento psicológico; encaminhar ao CAPS para acompanhamento psiquiátrico; Marcar retorno para 30 dias; Trabalhar com a prevenção da recaída.
– Metas a longo prazo: realizar aconselhamento, encaminhar para Grupo de apoio do CAPS, encaminhar para terapia cognitivo-comportamental, Terapia de aversão, Terapia familiar e Terapia de grupo.
– Divisão de responsabilidades: Agentes comunitários de saúde com visitas domiciliares; Enfermeira com acolhimento, orientações, marcação de consultas e encaminhamentos; interação com reuniões e familiares; Médica: consulta e orientações, encaminhamentos para especialidades se necessário e realizará intervenção medicamentosa; Psicólogo (NASF): atendimento em terapia individual, grupal e familiar; Psiquiatra (CAPS): tratamento medicamentoso da paciente.
– Avaliação: Reuniões: ocorrerão reuniões periódicas (uma vês ao mês) para avaliação das metas planejadas. Interação entre equipes do CAPS, NASF e ESF acontecerão através de reuniões mensais.
Com a interação mantida com a equipe do CAPS, foi possível compreender que frequentemente os dependentes alcoólicos (ou alcoolistas) chegam ao tratamento apresentando maiores problemas clínicos em decorrência dos muitos anos de uso e a avaliação clínica deve ser ainda mais rigorosa, sendo fundamental que a desintoxicação medicamentosa siga protocolos rígidos, para minimizar os riscos associados a retirada da substância
A equipe do NASF e CAPS informou ainda que o acompanhamento clínico nesta fase é indispensável e o acompanhamento psiquiátrico de grande importância, pois somente assim podemos minimizar os sintomas do surgimento de tremores incontroláveis e delírio/alucinações.
Com a realização dessa microintervenção, foi possível observar grandes mudanças nas formas de interagir com os serviços de referência em saúde mental, como o CAPS e o NASF, de forma positiva e agregadora de conhecimentos. Eu espero com a continuidade dessas ações, que também possa ocorrer programas de educação em saúde, através de palestras, oficinas de artesanato, momentos sociais, que estimulem o lazer das pessoas.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica. PMAQ. Instrumento de Avaliação Externa para as Equipes de Atenção Básica (Saúde da Família e Equipe Parametrizada). Distrito Federal – Brasília, 2013.
Ponto(s)