28 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

A REALIDADE DA SAÚDE MENTAL NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE BELA PARNAMIRIM, PARNAMIRIM/RN

 

ESPECIALIZANDO (A): Larissa Oliveira Aguiar

 

ORIENTADOR (A): Maria Betania Morais de Paiva

 

          Em Bela Parnamirim o atendimento dos pacientes que fazem uso de medicações controladas constitui-se em uma grande demanda na unidade de saúde. No município de Parnamirim todos os pacientes que usam medicações psicotrópicas (receituários tipo C1 e B1) necessitam renovar as receitas médicas a cada 60 dias. Isto explica a maior procura pelos serviços da Unidade Básica de Saúde (UBS) por parte destes usuários. Além disso, a realidade socioeconômico do bairro de Bela Parnamirim favorece o adoecimento mental da população, sendo grande o número de usuários de drogas ilícitas, tabagistas, alcoolistas e pacientes com depressão.

          Atualmente, estes usuários são cadastrados em um livro de registros pela enfermeira. Através deste livro podemos controlar as visitas e os cuidados destes pacientes. Este registro foi criado em 2017, motivado pela avaliação externa do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). Ele é preenchido e atualizado pela enfermeira da equipe durante o acolhimento e agendamento das consultas. Os pacientes de saúde mental são acompanhados de forma contínua e programada, de forma que o agendamento destes pacientes é por demanda livre e o retorno médico sempre fica com data programada.

          Os agentes comunitários de saúde (ACS) também auxiliam no acompanhamento destes pacientes, visto que atualizam a equipe médica das demandas sociais destes usuários e fazem busca ativa dos mais ausentes.

          Em 25/06/2018, foi realizado atendimento médico de J.D.S, 48 anos, sexo feminino. Paciente residente no bairro, possui ACS, mora em sua residência com o marido e dois filhos adultos, história patológica de dislipidemia. A mesma compareceu para consulta necessitando receita médica de sinvastatina e desejando realizar novos exames laboratoriais. Durante o atendimento, a paciente apresentava comportamento ansioso, desânimo aparente e pouco comunicativa. Ao ser indagada sobre a situação familiar, a mesma iniciou choro e fez relato de sua situação.

         J.D.S referiu que o filho mais novo havia cometido tentativa de suicídio há alguns dias e por isso estava ansiosa para voltar pra casa e poder cuidar dele. Seu filho mais novo, P.S.V, 26 anos, sexo masculino, orientação sexual homossexual, também é paciente acompanhado na UBS. Sua última avaliação médica fora em 17/04/2018 quando foi diagnosticado com sífilis, recebendo prescrição médica e retorno agendado para após 30 dias, porém não retornou mais. O paciente em questão não apresentava nenhum outro histórico médico e também não havia relato de problemas psiquiátricos prévios.

          Segundo relato da mãe, o evento se deu pois P.S.V estava entristecido já que fazia muito tempo que procurava por emprego, sem sucesso. Ao finalizar a consulta foi pedido que trouxesse o filho para avaliação médica o mais breve possível.

          Em reunião da equipe realizada no dia 06/07/2018, foi abordada a situação da família. O ACS relatou que a situação social da família era frágil, apenas o esposo de J.D.S tinha trabalho informal e era responsável pelo sustento da família. Os filhos de 26 e 25 anos estavam desempregados. Referiu que P.S.V abusava de bebidas alcóolicas e o irmão, J.G.S.N, era usuário de drogas ilícitas. Considerando que até a data da reunião J.D.S não conseguira trazer o filho até a unidade, optamos por realizar uma visita domiciliar a fim de melhor avaliar a situação da família.

          A enfermeira da equipe entrou em contato com a equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para solicitar avaliação conjunta com a psicóloga e assistente social. Devido a indisponibilidade da equipe, a visita domiciliar ficou agendada para o dia 23/07/2018 no período da manhã. Durante esse período de espera, foi solicitado que o ACS mantivesse vigilância sobre a família e notificasse a equipe a respeito de qualquer intercorrência.

         Infelizmente, o caso relatado acima é muito comum na realidade do bairro. Muitos jovens sem perspectiva de vida iniciam uso abusivo de substâncias químicas, apresentam quadros depressivos e muitas vezes ingressam no mundo da criminalidade. Não há políticas sociais na comunidade e muito menos espaços de convivência saudável para a juventude. A UBS de Bela Parnamirim conta com o auxílio do NASF e do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), porém apenas casos pontuais são beneficiados da atuação.

          Além disso, o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) mantém atuação isolada e não tem comunicação com as unidades básicas. Nem mesmo as contra-referências dos pacientes do bairro são enviadas. A administração municipal faz “vistas grossas” ao problema e não propõe soluções, mantendo preocupação apenas no total de atendimento a cada mês.

         O problema de Bela Parnamirim é muito além da saúde pública, trata-se de um problema social, econômico e se de segurança pública. Sendo necessária boa vontade política e interação entre os órgãos para minimizar o dano à população.

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