SENSIBILIZAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO DOS USUÁRIOS DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE SOBRE O ACOLHIMENTO
ESPECIALIZANDO: FARLEY SOARES CANTIDIO
ORIENTADOR: JÂNIO RODRIGUES REGO
O Ministério da Saúde, ao priorizar cada vez mais a humanização, instituiu um modelo para fortalecer o conceito de redes, vínculos e a corresponsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores. Para isso, organizou uma ferramenta e um novo modo de assistir os usuários denominado de acolhimento, que surge como um meio capaz de permitir a reflexão e mudanças durante a assistência, por interrogar questões clínicas e relacionais nos processos de atenção em saúde (LOPES et al., 2015).
Segundo sua definição, a ação de acolher “é uma prática presente em todas as relações de cuidado, nos encontros reais entre trabalhadores de saúde e usuários, nos atos de receber e escutar as pessoas, podendo acontecer de formas variadas” (BRASIL, 2013, p.20).
Esse novo método, construído para a qualificação dos sistemas de saúde, permite ao indivíduo o acesso a uma recepção justa e integral, por meio de uma abordagem multiprofissional e baseada na intersetorialidade. Portanto, é um instrumento capaz de consolidar o SUS e efetivar os princípios constitucionais (COUTINHO; BARBIERI; SANTOS, 2015).
No entanto, apesar de a ampliação da rede básica ter permitido acessibilidade geográfica, o que se nota é uma desproporção entre oferta, capacidade de atendimento e demanda, levando a descontinuidade na atenção e no acesso a encaminhamento nas unidades básicas de saúde (SOUZA et al., 2008).
Atualmente, a organização e o fluxo nas Unidades Básicas de Saúde procuram seguir os princípios do Caderno n° 28 da Atenção Básica, que discute o “Acolhimento à demanda espontânea”. De acordo com esse modelo, “o usuário também define, com formas e graus variados, o que é necessidade de saúde para ele” (BRASIL, 2013, p. 20). A partir dessa abordagem centrada na pessoa, o que se busca, na atualidade, é a redução no tempo de espera para marcação de consultas, melhor acompanhamento dos pacientes, sem deixar de seguir as ações de saúde das demandas programadas.
Todavia, apesar das tentativas em otimizar cotidianamente os serviços, segundo Mendes, Silva e Moysés (1996), o exercício profissional dos médicos ainda passa pelos seguintes problemas:
– Consultas limitadas ao binômio queixa-conduta, com reduzido esforço do médico, em meio ao elevado número de atendimentos, para elevar o padrão clínico de sua consulta;
– A demanda é excessivamente reprimida e, a qualquer empenho em tentar modifica-la, se esbarra na resistência por parte da equipe em engessar o padrão de assistência e a rejeitar mudanças.
Considerando o contexto apresentado e a realidade da Unidade Básica de Saúde Dalmo Silva Feitosa, onde trabalho, surgiu a necessidade de uma intervenção que trabalhasse com o acolhimento. Na UBS em questão, as duas enfermeiras de cada equipe são as responsáveis pela escuta dos usuários, encaminhamento e programação ao atendimento, conforme classificação de risco. Desde que o processo foi instituído, a equipe procura seguir as recomendações do “Caderno n° 28”, a fim de que a população não saia insatisfeita, tampouco deixe a UBS sem ser ouvida.
Contudo, há algumas fragilidades no sistema local: determinados usuários, especialmente os idosos, não entendem sobre o que de fato representa o “acolhimento”; em algumas ocasiões, a classificação de risco não está em conformidade à sintomatologia apresentada pelo paciente durante a consulta; a elevada demanda em períodos críticos ocupa a agenda programada, reduzindo a quantidade de vagas e aprazando o atendimento por um tempo maior ao esperado; nem todos os profissionais da UBS estão alinhados aos preceitos do acolhimento.
Para reduzir as dificuldades encontradas, a equipe de saúde decidiu trabalhar com a população, esclarecendo-a sobre o que é o “acolhimento”, sua importância e como ele é realizado na UBS. Durante a primeira etapa, foi realizada a educação permanente e reunião com todos os profissionais para discussão sobre o que de fato estava em consonância ao “Caderno n° 28” e o que precisava de ajustes, segundo a necessidade do território e da população.
Logo após essa fase, os agentes comunitários de saúde ficaram responsáveis por realizar um circuito de palestras e conversa diária com os pacientes, eliminando as dúvidas sobre essa nova forma de atendê-los, a fim de que nenhum cidadão deixasse a UBS sem compreensão do processo ou saísse sem ser escutado. Para isso, a equipe confeccionou um material multimídia que foi projetado e seguiria sendo utilizado durante a rotina com os aspectos sobre o acolhimento.
Para solucionar os problemas de estratificação de risco e questionamentos sobre os protocolos, após a leitura dos cadernos da Atenção Básica e conversa em grupo, os profissionais da UBS definiram sobre os aspectos relacionados à definição de atendimento imediato, prioritário, o que deveria ser atendido no dia e o que poderia ser agendado, a partir da escuta inicial.
Além disso, a programação e o trabalho com grupos operativos foram amplamente discutidos pela equipe, uma vez que poderiam contribuir para a otimização das consultas de diabéticos e hipertensos e liberar espaços na agenda para outras demandas em períodos críticos.
Considerando a natureza e a especificidade de determinadas condições clínicas, especialmente no que diz respeito à terapêutica, ao acompanhamento prolongado e à necessidade de visitas frequentes às unidades, outro item abordado foi a manutenção de uma demanda programada de pré-natal, puericultura, atendimento aos portadores de doenças crônicas e aos indivíduos em tratamento de tuberculose e hanseníase. Assim, nenhum grupo da UBS deixaria de ser oportunamente ouvido e acolhido, segundo à política de humanização do Ministério da Saúde.
Mediante o exposto, chegou-se à conclusão de que, embora o processo de acolher os usuários já estivesse em prática na UBS, ainda havia pontos que demandavam correção e acerto, por parte da equipe.
Assim, a realidade local corrobora com que a afirmam Coutinho, Barbieri e Santos (2015, p. 521) de que “o processo de acolhimento ainda não está totalmente sistematizado nos modelos de atenção à saúde, podendo ser esta uma justificativa para as dificuldades apresentadas, tanto por profissionais quanto por usuários”.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 1 ed. Brasília: Ministério da Saúde, v. 1, n. 28, 2013, 56 p.
COUTINHO, L. R. P.; BARBIERI, A. R.; SANTOS, M. L. M. Acolhimento na Atenção Primária à Saúde: revisão integrativa. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 39, n. 105, p. 514-524, abr./jun., 2015.
LOPES, A. S. et al. O acolhimento na Atenção Básica em saúde: relações de reciprocidade entre trabalhadores e usuários. Saúde Debate. Rio de Janeiro, v. 39, n. 104, p. 114-123 jan./mar., 2015.
MENDES, R. T.; SILVA, P. E. M. R.; MOYSÉS, M. A. A. Aprendizado de medicina nos serviços de atenção primária e no contato com a comunidade. Medicina, Ribeirão Preto, v. 29, p. 420-428, out./dez. 1996.
SOUZA, E. C. F. et al. Acesso e acolhimento na atenção básica: uma análise da percepção dos usuários e profissionais de saúde. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 100-110, 2008.
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