21 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Titulo :  Atenção à Saúde Mental na UBS Dalva Rodrigues Sobral .

ESPECIALIZANDO:Yudit Oduardo Pena

ORIENTADOR: Maria Helena Pires Araújo Barbosa.

 

            Em nossa unidade de saúde Dalva Rodriguez Sobral a equipe realiza ações para usuários que fazem uso crônico de medicamentos antipsicóticos, antidepressivos, benzodiazepínicos, anticonvulsivantes e abuso de álcool e outras drogas. A partir do processo de avaliação externa do Programa para Melhorai do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), a equipe realizou um registro desses usuários, fazendo consultas programadas e atendimento contínuo. Esses usuários são avaliados de forma integral e são encaminhados para outros serviços da rede quando precisam. Em nosso município Nossa Senhora das Dores existem serviços do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

            Desta forma, logo que a equipe identifica demanda para o NASF-AB, a referência acontece por meio de formulário específico. Na maioria dos casos há discussão entre a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o NASF-AB por meio de reunião de equipe. Sendo assim, uma vez confirmada a demanda, se define estratégia terapêutica. Para o CAPS, há referência, mas não existe discussão de caso com eles, nem a retroalimentação dos casos. Desta forma, perdemos em muitas ocasiões, a contrareferência.

            Ao realizar o levantamento de usuários que consomem drogas controladas, fiquei muito surpresa com o elevado número de pessoas que faziam uso de vários medicamentos. Pois, na área adscrita temos um total de 74 usuários que consomem medicamentos controlados e desses, 54 tem o diagnóstico de depressão.

Diante dessa problemática, decidimos selecionar um caso clínico de um usuário atendido pela ESF que necessitou de uma atenção integral em Saúde Mental e assim traçar a linha de cuidado para esse usuário.

            O caso trata-se de uma mulher de 57 anos, antecedentes pessoais de Diabetes Mellitus em uso de insulina NPH 2 vezes no dia, Hipertensão Arterial Sistêmica em uso de losartana potássica 50 mg 2 vezes ao dia e transtornos depressivos psicóticos em uso de vários medicamentos sulpirida (200mg), cloridrato de fluoxetina (20 mg), clonazepam (2mg). Vem a consulta para solicitar prescrições para medicamentos controlados, relata que ficou sozinha há 3 anos, quando seu marido foi para casa de uma filha em São Paulo e casou com outra mulher. A vida dela mudou e seu mundo veio ao chão. Encontra-se muito triste pelos problemas familiares que apresenta e a difícil situação econômica. Mora com um filho, a nora e neta de 5 anos. Meses depois do abandono de seu marido apresentou quadro de delírios, alucinações visuais e foi levada para acompanhamento com psiquiatra que prescreveu esses medicamentos. Ao obter alguma melhora, ela abandonou as consultas.

            Realizamos então uma visita domiciliar e durante o interrogatório e exame físico foi constatado sintomas de descontrole metabólico. O teste de glicemia capilar foi de 359m/dl. A pressão arterial aferida foi 160/100, desta forma a HAS estava descompensada. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi de 33,3kg/m2apontou obesidade tipo I. Sendo assim, prescrevemos exames laboratoriais como hemoglobina glicada, glicemia de jejum, exame de urina, colesterol, triglicérides e outros exames como fundoscopia. Orientamos a fazer um controle da pressão arterial e glicemia durante uma semana e a estimulamos a aderir a dieta com baixa quantidade de sal, carboidratos e pouca gordura, evitando as farinha e os alimentos doce.

            Diante da necessidade exposta, reajustamos o tratamento medicamentoso da usuária e a encaminhamos para a psicóloga e a nutricionista do NASF-AB. A equipe programou fazer uma visita domiciliar na semana seguinte para conhecer de perto os problemas da família e fazer uma avaliação integral do estado de saúde de cada membro. A usuária aceitou ajuda da equipe de saúde e ficou muito agradecida com a consulta e a visita domiciliar.

            Na  semana seguinte, por meio da consulta domiciliar, avaliamos as condições higiênicas gerais e a pressão arterial da mulher (140/85 mmHg) e a glicemia capilar (. Ela relatou que está tomando os medicamentos todos os dias na hora certa 188mg/dL. A visita transcorreu de forma harmônica com um ambiente agradável e sem tensões. Isso ajudou para que os membros da família começassem a falar acerca dos problemas que tinham.

            A partir daí realizamos uma dinâmica familiar tocando em temas, como necessidade do controle das doenças crônicas, as consequências das complicações para suas vidas. Diante disso, foi abordada a necessidade dos membros da família estarem unidos e eles ficaram mais calmos depois da visita, visto que suas faces tinham uma expressão de alegria. Os membros da equipe também ficaram contentes com a visita domiciliar depois de encontrar um ambiente cheio de sentimentos e desejo de mudar estilos de vida para um estilo mais saudável. Reforçamos com a mulher a necessidade de comparecer às consultas com a nutricionista e a psicóloga.

            Em outro momento a mulher em questão foi para a consultar mostrar os exames laboratoriais e entregar o seguimento da pressão arterial e glicemia logo após dar início ao novo tratamento. A consulta transcorreu com normalidade. Ela estava melhor e mais calma, e referiu que estava dormindo bem. Além disso, mencionou que foi a consulta com psicóloga mas não gostou por ter sido atendimento em grupo. Nós agendamos então uma consulta com o psiquiatra do CAPS, para reavaliá-la assim como avaliar os medicamentos que ela faz uso.

            No dia 28 maio do corrente ano, a usuária foi para consulta e tanto a glicemia de jejum (120 mg/dl) com a pressão arterial (120/80 mmHg) estavam ótimas. Ela falou que a consulta com o psiquiatra do CAPS a ajudou muito e que está comparecendo às sessões de terapia.

            Considerando o que foi exposto, nota-se que a partir do atendimento a uma usuária específica, verificou-se a necessidade da abordagem familiar integral. Ressalta-se então o papel da equipe de saúde em oferecer apoio e garantir um diálogo aberto que leve a família a ter esclarecimentos sobre a realidade de sua situação geral, assim como criar laços de confiança entre a equipe e os membros da família para desta maneira poder dar solução a seus problemas.

            A partir da reflexão sobre a atenção à saúde mental em nossa unidade de saúde, a equipe organizou um grupo de Saúde Mental composto por 21 integrantes para trabalhar de forma contínua. Para isso elaboramos um conjunto de ações que possivelmente contribuirá para eliminar a multimedicação. Para isso, pensamos oferecer informações sobre as doenças e seus controles, fazer palestra educativas e promover encontros desportivos para a realização de atividades físicas com participação de os funcionários de saúde e a comunidade.

            Foi muito gratificante poder olhar um novo despertar em nossos usuários e na comunidade. As atividades oferecidas tiveram muita aceitação e os usuários foram capazes de promover mudanças no processo saúde/doença. Esperamos fazer atividades mensais com o grupo e conseguir mudanças nos padrões de consumo de medicamentos e nos estilos de vida.

           

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