ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ESPECIALIZANDO: NEDILSON DE OLIVEIRA LARIU
ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS
Em Patu, Rio Grande do Norte (RN), dispomos de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) 1, que foi criado por consórcio, em 2012, dos municípios Almino Afonso, Frutuoso Gomes, Lucrécia, Messias Targino, Olho D’água dos Borges, Patu e Rafael Godeiro. Esse CAPS auxilia (e muito) o controle dos pacientes do programa Saúde Mental e foi o primeiro CAPS criado sob a forma de consórcio, no Brasil.
O CAPS funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, fornece medicação, café da manhã, almoço e lanche e atua com os seguintes profissionais: coordenadora, recepcionista, Auxiliar de Serviços Gerais (ASG), vigia, cozinheira, assistente social, terapeuta ocupacional, técnica em enfermagem, enfermeira, psicóloga e psiquiatra.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) João Inácio de Oliveira, Patu/RN, os pacientes são acompanhados mensalmente em consultório, com registro em prontuário, para renovação de receitas ou adequação/ajustamento de dose medicamentosa e, trimestralmente, coletivamente em palestras, eventos festivos, terapias alternativas. Os casos de sofrimento psíquico são encaminhados (referência) ao CAPS. E uma vez sanada a crise, retorna para acompanhamento na UBS (contrarreferência).
Os maiores entraves são os familiares tanto no acompanhamento ao atendimento mensal quanto na aceitação de redução medicamentosa. Em alguns casos, o familiar administra o dobro da dose para que o paciente fique “mais calmo”. Outro problema é o fornecimento irregular da medicação pela estrutura pública (tanto municipal quanto estadual).
Na UBS, fornecemos a receita com a medicação para trinta dias e aprazamos o retorno e sempre aproveitamos a sala de espera para alguma dinâmica, com o apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF). Atualmente acompanhamos 82 pacientes, cerca de 4% da população adscrita a UBS.
Na UBS, já existia uma planilha de acompanhamento e controle dos pacientes e concordamos em inserir um espaço para a codificação da doença com a Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP 2). A planilha anterior possuía os dados referentes a número, nome completo, data nascimento, cartão Sistema Único de Saúde (SUS), endereço, medicação e quantidade. Em reunião com a equipe, modificamos a planilha para nome completo, data nascimento, cartão SUS, endereço, medicação e CIAP 2.
Optamos por retirar o item número; no espaço medicação usar o nome do medicamento e a quantidade prescrita; no CIAP 2, o código da doença vai nos ajudar a identificação e incidência das doenças e na orientação das palestras e a identificação da doença também vai facilitar, principalmente ao Agente Comunitário de Saúde (ACS), na abordagem ao cuidador, observando a necessidade de apoio da equipe e do NASF, para desenvolvermos as orientações necessárias.
Como caracterizo a participação familiar no tratamento/acompanhamento e controle dos pacientes como um grande entrave, essa microintervenção está sendo junto ao familiar que cuida diretamente do paciente. Diferentemente de outras doenças (diabetes, hipertensão, doenças reumáticas) nas quais a orientação pode ser feita coletivamente, o trabalho de esclarecimento para o transtorno mental tem que ser para o cuidador e de forma individual. Os familiares, via de regra, demonstram acanhamento social e não acreditam na cura ou controle dos transtornos mentais.
As ACS identificam esses familiares e planejam em equipe o atendimento em consultório (privacidade), para cada profissional. Na orientação individual, o familiar sente-se mais a vontade para externar todas as suas dúvidas e anseios e tem mais atenção ao que lhe é repassado. E percebe o envolvimento emocional do profissional aos seus problemas.
Já os pacientes usuários crônicos são de abordagem menos complicada porque almejam não depender de medicamentos psicotrópicos e, na sua maioria, são portadores de doenças degenerativas que os obriga a mais visitas à UBS, oportunizando assim maiores esclarecimentos sobre suas doenças e seus tratamentos. E aqueles que se afirmam dependentes, esclarecemos sobre a medicação e como reduzir essa dependência.
Os usuários de bebidas alcoólicas que procuram espontaneamente a UBS para algum apoio é reduzidíssimo. Atualmente acompanho três pacientes em uso de medicação que interferem no desejo de ingerir bebida alcoólica. Porém em alguns casos que necessitam de medicação nos quais a ingestão alcoólica provoca reações indesejáveis, o paciente é alertado e, aproveitando a oportunidade, é lhe repassado os malefícios do álcool no organismo humano.
Estamos em fase de planejamento e elaboração para a intervenção breve em álcool e de estratégias para absorção de plateia masculina para expor os efeitos nocivos da bebida alcoólica. Já estamos realizando o questionário Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT).
Como exemplo de caso acompanhado na UBS, temos paciente X, masculino, reside sozinho e usa abusivamente o álcool. Iniciamos o acompanhamento/tratamento há cerca de oito semanas. Na primeira abordagem, indicada por sua filha, apresentou-se maltrapilho, alcoolizado ou ressacado da bebida, barba por fazer e péssima aparência. Abalado emocionalmente, mas com desejo firme de abandonar a bebida alcoólica. Conversamos longamente (já fazendo a anamnese) sobre vários assuntos (sempre trazidos por ele). Percebia-se claramente que o motivo da bebida era uma relação amorosa mal sucedida.
Após algumas explanações sobre os efeitos nocivos do álcool no corpo humano, solicitei exames e prescrevi medicamentos placebos afirmando que com eles acabaríamos com o desejo de beber. Garanti a ele acesso ao consultório sempre que ele sentisse necessidade e agendamos o retorno para próxima semana.
Na segunda semana, apresentou-se com melhor aparência e emocionalmente sentido, porém estável. Os exames realizados demonstravam distorções sanáveis, o que permitiria iniciar o medicamento especifico. Em função disso, solicitei o contato de familiares e que a filha que o orientou a procurar a UBS viesse com ele na próxima semana (quando já instituiria a medicação) com a finalidade de envolvê-la no tratamento assim como outros familiares posteriormente. Nesta consulta, confidenciou outros problemas pessoais que o afligia propiciando outros aconselhamentos e medicamentos acessórios.
Na terceira semana, mantive os placebos e iniciei o uso da medicação que interfere no desejo de beber e aprazamos para duas semanas, mas sempre deixando-o com a garantia do atendimento assim houvesse necessidade. Retornou duas semanas sentindo-se um vitorioso. Ótima aparência e emocionalmente bem e feliz por ter vencido um desafio que muitos duvidavam que ele conseguiria (abandonar a bebida).
Mais uma vez percebo que o fator de maior e melhor resolução para melhoria e maior adesão ao tratamento e à prevenção das doenças reside na educação popular para a saúde.
Ponto(s)