RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: IMPLANTANDO O ACESSO AVANÇADO NO POVOADO JABIBERI, EM TOBIAS BARRETO (SE).
ESPECIALIZANDO: RAFAEL SANDRIN
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
O acolhimento como ato ou efeito, expressa ação de aproximação e atitude de inclusão, ele é considerado umas das diretrizes de maior relevância da Política Nacional de Humanização (PNH) do Sistema Único de Saúde (SUS). Existem várias definições de acolhimento, revelando múltiplos sentidos e significados atribuídos ao termo, um deles é a prática constitutiva de relações e cuidado (BRASIL, 2008).
O acolhimento pretende chamar a atenção para a reavaliação permanente das práticas de produção de saúde. Assim, ele se torna mais que uma ferramenta de melhoria do serviço, constituindo-se, sobretudo, em um modo de mensuração da qualidade do trabalho prestado (MOTTA et al., 2014).
Este relato aborda uma experiência profissional elaborada e vivenciada pela equipe de saúde a partir de uma mudança no método de trabalho que visa aprimorar o acolhimento observando a demanda espontânea e programada, com a finalidade de reforçar à importância do acolhimento na Unidade Básica de Saúde. Alguns colaboradores da equipe, entendiam que o acolhimento era o momento em que o médico recebia o paciente, os auxiliares de saúde confundiam o acolhimento com a triagem e não percebiam que a partir do momento que o usuário adentra a unidade de saúde em busca de um serviço ou informação deve ser acolhido e bem recebido por quem o atende.
Para que ocorresse essa mudança e ajudando na transformação e direcionando uma nova forma de pensar sobre o assunto, houveram reuniões e encontros para que fosse discutido com a equipe de saúde sobre conceitos e exemplos de práticas de acolhimento, onde o propósito foi refletir sobre a forma que é utilizada para organizar a demanda livre e agendada. Percebeu-se que a quantidade de pacientes agendados chegava a comprometer o atendimento a livre demanda.
O número de agendamentos superava uma faixa de 80% e muitos dos casos não eram de urgências, apenas consultas para solicitações de exames de rotina ou solicitação de receita. Para aumentar a capacidade de resolubilidade foi percebido que é preciso escutar e fazer uma análise das necessidades de cada usuário. Depois de feita uma análise crítica sobre o trabalho que estava sendo executado, foi possível observar onde os usuários encontravam dificuldades de acesso na UBS e, normalmente, era na porta de entrada, foi percebido que esse acolhimento pode e deve ser aprimorado, além de humanizado, onde o paciente se sinta ouvido e visto como um ser humano, além da doença. O comprometimento e esforço maior de cada profissional ajudarão na reconstrução do ato de acolher, visto que esse acolhimento assume peculiaridades próprias as necessidades e demandas relacionadas ao processo de manutenção da saúde.
Foi proposto, então, um novo método de agendamento, observando relatos de experiência de equipes de saúde de outros estados do Brasil, sobre a estratégia do acesso avançado, onde se pode aumentar a livre demanda reduzindo as consultas agendadas e tornando uma equipe mais funcional, priorizando a necessidade de cada usuário. Foi implantada então essa nova forma de atendimento aos usuários da UBS.
Esse acolhimento foi organizado da seguinte forma: a equipe preparou uma agenda com atividades e serviços ofertados diariamente, manteve orientação à comunidade sobre os dias e horários de atendimentos dos mesmos, deixando um espaço prioritário na agenda para consultas programadas com hipertensos, pré-natal e avaliação de exames. Dessa maneira o número de consultas livres foi aumentado, reduzindo o tempo de espera e tamanho das filas na UBS. Nesta nova forma de acolhimento, seja na UBS ou em visita domiciliar, foi implantada uma classificação de risco permitindo um atendimento mais urgente de acordo com o potencial risco do paciente, que ele seja priorizado no acolhimento assegurando assim um atendimento de forma emergencial.
A melhora no acolhimento não se restringiu apenas aos usuários da UBS, mas também em visitas domiciliares aos acamados e aos moradores de povoados distantes, onde não há transporte, nem estrada que possa ter acesso com carro. Alguns ACS, motorizados, ajudaram na quebra deste obstáculo, facilitando o acesso médico/paciente, aumentando assim a capacidade operacional da equipe. Visitas puderam ser feitas a estes grupos familiares, onde foram encontrados idosos e crianças que nunca haviam recebido visita domiciliar. Nestas visitas os pacientes foram orientados sobre promoção da saúde, principalmente dos idosos, quanto a alimentação e higiene.
No momento a UBS funciona da seguinte forma, consultas não emergenciais, como uma nova receita de tratamento ou solicitação de exames de rotina, são atendidas pela enfermeira que encaminha ao médico para que faça essa solicitação tendo uma resolubilidade dentro do prazo de 48 horas, que foi o prazo acordado entre a equipe para resoluções de determinadas situações. As visitas domiciliares são agendadas para dois dias da semana de acordo com a demanda que houver e as consultas programadas tiveram uma redução em quantidade, mas foram priorizadas de acordo com a necessidade de cada usuário, não ultrapassando o prazo acordado.
É perceptível que ainda há muito o que aprender, e transformar esse aprendizado em mudanças. Percebe-se a necessidade de sensibilização profissional, principalmente com a dificuldade em aceitar novas mudanças em seu cotidiano. Mas em contra partida houve respeito e certa mudança na postura do atendimento sem abrir mão de colocar os limites necessários. Foi percebido que esses pacientes não conquistam sua saúde apenas com a cura da doença, mas sim vivenciando a busca do processo de saúde, onde através da perspectiva de um acolhimento mais humanitário e cidadão se sentem acolhidos e compreendidos em sua individualidade.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
MOTTA, B. F. B.; PERUCCHI, J.; FILGUEIRAS, M. S. T. O acolhimento em Saúde no Brasil: uma revisão sistemática de literatura sobre o tema. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v.17, n.1, p.121-139, 2014 .
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