6 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: Atenção à Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde.

ORIENTADOR: Cleyton Cézar Souto Silva.

ALUNA: Ana Catarina Mattos Fernandes.

 

Após a realização da Reforma Psiquiátrica iniciada na década de 70 no Brasil, muito se tem debatido e idealizado sobre como e onde devem ser realizados os acompanhamentos de pacientes portadores de algum tipo de transtorno psiquiátrico. Desde então, um grande desafio tem sido enfrentado na tentativa de transformar o antigo modelo hospitalocêntrico em uma rede que visa a integração social, autonomia e cidadania desses pacientes. Nesse contexto, foi criado o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que representa uma das principais portas de entrada para esse tipo de atendimento e oferece um serviço multiprofissional, com o intuito de substituir o antigo modelo asilar e acolher pacientes em sofrimento psiquiátrico, usuários de álcool e drogas, além de crianças que apresentam transtornos mentais. Porém, os CAPS e a oferta de serviços na abordagem psicossocial não são, ainda, suficientes para a cobertura da demanda de saúde mental nas diversas realidades do país (CORREIA, 2011).

 

O cuidado continuado oferecido pela atenção básica, principalmente referente ao serviço prestado pela Estratégia Saúde da Família (ESF) e Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF) é de estrema importância para complementar e apoiar o trabalho do CAPS. A criação do vínculo entre pacientes e familiares com a equipe é fundamental para o acompanhamento continuo do paciente e inclusão social do mesmo no seu território, principalmente através da realização de ações educativas. Por meio das visitas domiciliares, é possível reconhecer adesão do paciente ao tratamento, o impacto do diagnostico na rotina familiar, além do apoio que o mesmo recebe dos indivíduos ao seu redor. Estes fatos justificam a importância da realização de ações voltadas para os pacientes que apresentam algum transtorno mental, além da melhoria do serviço ofertado na atenção básica pela ESF.

 

No contexto estadual do Amapá, essa realidade não é diferente da que ocorre no resto do país. Existem apenas três CAPS atuantes no município de Macapá, que funcionam como porta aberta, o CAPS AD (atendimento de pacientes usuários de álcool e drogas), CAPS Gentileza (oferece atendimento para os adultos com transtornos mentais) e o CAPS I (infantil). Também existe uma ala psiquiátrica no Hospital das Clínicas Dr. Alberto Lima (HCAL), que recebem apenas pacientes encaminhados do Hospital de Emergência (HE), que na maioria das vezes estão em emergência psiquiátrica.

 

O serviço ofertado não é suficiente para a grande demanda de todo um estado, filas de espera gigantescas e atendimento de baixa qualidade são relatados pela maioria dos pacientes da equipe 089 que foram encaminhados para o serviço especializado. Como exemplo, podemos citar um paciente de 16 anos, diagnosticado com transtorno depressivo, além de três tentativas de suicídio, que foi encaminhado para o CAPS I, que até o momento não conseguiu atendimento na instituição, sendo atualmente acompanhado apenas pela ESF e NASF da UBS Perpétuo Socorro.

 

Após diversas reflexões e debates entre os membros da equipe sobre tópicos exigidos pelo PMAQ referentes ao atendimento de pacientes com transtornos mentais, constatou-se que o serviço oferecido atualmente ainda possui algumas falhas. A equipe não realizava os registros e controle de usuários que fazem uso de medicações crônicas controladas.

Para tentar melhorar essa realidade, com o incentivo do projeto de microintervenção IV, foi criada uma planilha (ANEXO 4) com o intuito de registrar o acompanhamento de pacientes, que deverá ser preenchida pelo médico responsável da ESF, em todos os atendimentos individuais e visitas domiciliares. O instrumento foi idealizado com base nos principais requisitos exigidos pelo PMAQ e construído em conjunto com a equipe em uma das reuniões quinzenais. Tem como título “SAÚDE Mental- Registro de pacientes em acompanhamento” e é composto por tópicos referentes a informações gerais (data, nome do paciente, agente de saúde responsável) e informações especificas (diagnóstico, medicamento em uso, dose utilizada e tempo de tratamento, acompanhamentos com especialistas, data prevista para o retorno e se o quadro se enquadra em evento grave).  Todos os integrantes da equipe receberam orientações de como preencher essas informações, de como identificar quadros mais graves e a conduta frente a essa situação.

 

No decorrer de um mês utilizando a planilha de acompanhamento, algumas melhorias foram observadas, referentes principalmente ao acompanhamento mais continuo e monitorização da adesão do tratamento, com o intuito de utilizar a menor dose necessária. Um dos principais problemas constatados no decorrer desse acompanhamento mais contínuo foi a baixa inclusão dos usuários na sociedade e a não aceitação da situação clínica do paciente por parte de seus familiares, sendo o preconceito e a rejeição uma realidade frequente.

 

Também foi relatado que o atendimento especializado é muito deficiente nos CAPS, NASF e outros serviços, contribuindo ainda mais para a não adesão do tratamento e reclusão desses pacientes. Após conversar com a equipe multiprofissional do NASF que presta apoio para a equipe, com a finalidade de mudar essa realidade, foi constatada a inviabilidade desse serviço, pois a quantidade de profissionais é insuficiente para atender a demanda, além de que é disponibilizado apenas um dia no mês para atendimento dos pacientes da equipe 089, resultando no grande número de pacientes que não recebe esse apoio e caracteriza uma das principais dificuldades enfrentadas pela equipe, que na maioria das vezes não recebe o suporte necessário para um seguimento de qualidade.

 

Após reconhecer essa realidade da área de atuação, a equipe 089 se comprometeu a disponibilizar maior atenção e acompanhamento continuo, com a finalidade de garantir a integralidade do cuidado. Com o intuito de promoção da saúde mental, foram criados projetos de microintervenções na comunidade, voltados principalmente para debater sobre saúde mental e incentivar a integração dos pacientes na sociedade, além de esclarecer dúvidas da população em geral sobre o tema. Rodas de conversas foram realizadas na vizinhança, e tiveram resultados muito positivos, pois ações como essa, aos poucos, tem o poder de melhorar uma sociedade.

 

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