5 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TITULO: Ações de saúde para reduzir a gravidez na adolescência na UBS Vila São Bernardo no município de Luís Gomes-RN.

ESPECIALIZANDO: DUNIA MADRIGAL GONZALEZ.

FACILITADOR: ISAAC ALENCAR PINTO.

 

       A gravidez na adolescência é uma realidade em todo o mundo e tem sido apontada como um problema social, sobretudo quando associada à pobreza. Para Cavasin et al. (2004), o fato da população jovem ser a maior de todos os tempos e de boa parte dela estar inserida nos segmentos social e economicamente mais vulneráveis faz com que a gravidez se torne, nesse caso, uma preocupação geral.

     Adolescência é o período da vida compreendido entre a puberdade e a fase adulta, e para a Organização Mundial da Saúde (OMS) é a etapa que vai dos 10 aos 19 anos, podendo ainda haver uma margem de variações consideráveis nos diferentes meios culturais. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a conceitua como a faixa etária de 12 a 18 anos (GURGEL et al, 2008).

Para Gurgel et al, 2008 a adolescência é um período de transformação profunda no corpo, na mente e na forma de relacionamento social do indivíduo. Trata-se de uma etapa da vida em que ocorrem a maturação sexual, onde o desenvolvimento físico antecede o psicológico, constituindo-se na ligação entre a infância e a idade adulta. O acirramento dos conflitos familiares e a formação e cristalização de atitudes, valores e comportamentos que determinarão sua vida e na qual se inicia na cobrança de maiores responsabilidades e definição do campo profissional.

     A gravidez neste grupo populacional vem sendo considerada, em alguns países, problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e econômicos. Quanto à evolução da gestação, existem referências a maior incidência de anemia materna, doença hipertensiva específica da gravidez, desproporção céfalo pélvica, infecção urinária, prematuridade, placenta prévia, baixo peso ao nascer, sofrimento fetal agudo intraparto, complicações no parto (lesões no canal de parto e hemorragias) e puerpério (endometrite, infecções, deiscência de incisões, dificuldade para amamentar, entre outros) (BRASIL, 2005).

    São muitos os estudos que atribuem o crescimento da gravidez na adolescência. Eles citam um conjunto de fatores que teria provocado mudanças relevantes no comportamento sexual e social da população jovem: antecipação da menarca, condições socioeconômicas resultantes do processo de migração/urbanização, menor controle das famílias sobre os adolescentes, intensa exploração da sexualidade pela mídia, uso incorreto de contraceptivos, entre outros. Outros fatores sempre mencionados como argumentos explicativos ou causais da gravidez na adolescência são os relacionados ao nível de renda e escolaridade, além do enfraquecimento da relação entre a vida reprodutiva e o casamento. (CAVASIN et al..2004).

     A sua incidência real é difícil de ser definida devido as interrupções clandestinas que não são notificadas aos sistemas de saúde. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, desde o ano de 2010, o padrão de fecundidade das mulheres brasileiras tem mudado. Na década de 70 o padrão era chamado tardio, com a concentração nos grupos etários na faixa de 25 a 29 anos e de 30 a 34 anos. Na década de 80 passou a ser tipicamente jovem, com maior fecundidade entre 20 e 24 anos.

   Até 2000 foi observada uma diminuição na taxa de fecundidade da mulher brasileira de todas as faixas etárias, exceto aquelas do grupo de 15 a 19 anos (IBGE, 2010). Segundo a OMS, ocorrem 71 nascimentos por 1000 jovens na faixa etária de 15 a 19 anos, no Brasil. 

    A gravidez na adolescência desde 1998 vem aumentando no mundo e, no Brasil, houve um aumento de 7,8%: passou de 515 mil para 533 mil mães adolescentes. É importante lembrar que a gravidez na adolescência de 10 a 14 anos passou no Brasil de 16.0 para 20.0, sendo que o aumento se concentrou em regiões do Norte e Nordeste. Isso representa no Brasil que, a cada 18 minutos, uma menina de 10 a 14 anos dá à luz uma criança. Uma por minuto, no Brasil, dá à luz entre 10 e 20 anos.

     Na atuação profissional na Unidade Básica de Saúde da família, foi possível perceber que a gravidez na adolescência na comunidade Vila São Bernardo, município de Luís Gomes, também se apresenta como uma questão complexa e envolve vários fatores físicos, psicológicos e econômicos, afetando consideravelmente adolescentes com classe social inferior e da zona rural.

    Assim sendo, faz-se necessário utilizar a estrutura ofertada pela UBS e o próprio espaço escolar para requerer ações e estratégias que de fato promovam maior conscientização por parte dos adolescentes, com vistas, a redução do número de gravidez nesta referida fase de vida para garantir que cada menina tenha o direito de viver plenamente sua adolescência e desenvolver todo o seu potencial. 

   Como médica da Estratégia de Saúde da Família deste povoado, atendo vários casos por semana de adolescentes gravidas. A Equipe trabalha com relação ao planejamento familiar, porém, poucos resultados são obtidos. Todos nós que estamos envolvidos, percebemos a necessidade de realizar um projeto de intervenção de educação em saúde com o desenvolvimento de ações educativas para diminuir a gravidez nesta faixa etária, fator que incide negativamente, e assim aumentar o nível de conhecimento das adolescentes de nossa área de abrangência. 

    Inicialmente, realizamos uma reunião com toda a Equipe da Estratégia de Saúde da Família, no dia 18 de junho, as 14 horas na sala de reuniões, onde foi exposto pela enfermeira a necessidade de criar ações em conjunto com nossa comunidade e a parte educacional em relação aos principais problemas que ocasionam a gravidez na adolescência e o incremento de gravidez nesta idade em nossa área de Saúde. Foi analisado o total de gestantes por microareas, na qual a porcentagem era constituída por adolescentes, representando 28,3%, com 12 gestantes adolescentes de um total de 43. Os agentes comunitários se mostraram muito interessados no tema e apoiaram prontamente para ajudar a desempenhar ações com o objetivo de diminuir a gravidez nesta idade.

   A população adscrita constitui-se por 318 adolescentes e suas respectivas famílias. A equipe envolvida é composta pela Médica, Enfermeira, 5 Agentes Comunitários de Saúde e as 2 técnicas de enfermagem. Foi decidido entre todos os membros da Unidade os locais para o desenvolvimento das atividades educativas na nossa Unidade Básica de Saúde, nas escolas rurais e na comunidade; assim como foram distribuídas cartilhas referentes ao assunto e criamos murais com informações relacionadas ao tema na unidade básica de saúde, bem como nas escolas dos povoados. Realizamos palestras, intervenções educativas e dinâmicas grupais nas escolas dos povoados atingidos e na unidade de Saúde.

    Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Educação foram realizadas atividades de promoção e prevenção da gravidez na adolescência, assim como cursos aos membros da Equipe e aos professores das escolas com o objetivo de aumentar o conhecimento em relação à problemática.

  Palestras, cursos, videoconferências, intervenções educativas e dinâmicas grupais nas escolas da área e na unidade de Saúde para aumentar o nível de informação dos adolescentes e sua família sobre a adolescência e a gravidez nessa faixa etária com suas possíveis complicações e formas de prevenção. Dinâmicas com grupos de adolescentes sobre promoção e prevenção da gravidez e repercussões sociais. Distribuição de cartilhas referentes ao assunto, e alguns métodos anticoncepcionais (preservativos masculinos e femininos).

    Desejamos realizar parceria com a Prefeitura Municipal para divulgar o tema em programas de rádio e TV; criar um sistema de famílias nas comunidades, ou seja, aquelas famílias que ficaram de acordo com nosso projeto, ajudarão a nossa equipe a divulgar os métodos anticoncepcionais existentes na Unidade, assim como atividades educativas a ser desenvolvidas por nossos profissionais; criar um sistema de promotores de saúde para adolescentes em todas as microáreas e centros educacionais, constituído por um grupo de jovens que ajudarão nossos agentes de saúde na criação de atividades educativas para evitar doenças de transmissão sexual e gravidez não desejada nessa faixa etária.   

   Consideramos que a realização das ações educativas pela equipe na atenção primária de saúde de forma continua, podem ajudar a reduzir o número de gestações nas adolescentes e suas consequências. Foi evidenciado que a gravidez na adolescência é um sério problema de saúde pública, que exige dos profissionais de saúde e educação um manejo adequado de suas ações.

   Neste contexto, percebe-se que as ações do programa de saúde na escola voltadas especificamente para a educação sexual e prevenção de gravidez na adolescência ainda são precárias, devendo estabelecer algumas prioridades. A divulgação da problemática em questão e a apresentação do custo social da gestação dessas jovens pode ser um motivador para o Estado investir em capacitação profissional e expandir programas sociais que visem minimizar o problema.

 

 

 

 

 

 

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