5 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

IMPORTÂNCIA DE AÇÕES NA ATENÇÃO BÁSICA SOBRE SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE

ESPECIALIZANDO: RÚTILA TAIANE PRAXEDES RITTER

ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA DE MELO

 

            Durante o estudo do módulo Planejamento Reprodutivo, Pré-Natal e Puerpério, muitas temáticas foram importantes para a construção e entendimento de um bom funcionamento das unidades de saúde, bem como da qualidade dos serviços prestados à população.

            Diante da temática estudada percebi a importância de realizar diariamente e em todas as consultas médicas a prática de promoção e prevenção da saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1986) define a promoção de saúde como o processo de capacitação das pessoas para aumentar seu controle sobre a saúde e promover sua melhoria. O processo de promoção da saúde promove o incremento e a visão global não só de um indivíduo, mas também de um determinado grupo social promovendo assim melhor qualidade de vida e bem estar geral.

            No cenário da atenção básica à saúde no Brasil, a Estratégia de Saúde da Família tem se constituído importante espaço para desenvolver estratégias de promoção de saúde tornando-se um elemento indispensável entre padrão de vida e bem estar. Portanto, a Atenção Básica é o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde das coletividades (BRASIL, 2010).

            Após realizar o estudo aprofundado da temática em questão e analisar os questionamentos finais do módulo juntamente com a equipe 42 da Unidade de Saúde de Nova Natal, percebemos que de uma forma geral não conseguimos realizar com eficácia a promoção e prevenção de saúde à um determinado grupo. Percebemos uma falha no serviço oferecido à terceira idade, principalmente com relação a saúde sexual. A população adscrita por minha equipe possui uma grande quantidade de idosos que necessitam de uma melhor atenção e práticas mais efetivas na qualidade dos serviços prestados. Baseado nisso, resolvemos realizar uma microintervenção nesse grupo prioritário abordando a temática da sexualidade na terceira idade.

            O aumento da população idosa brasileira requer do poder público, sociedade e família, maior atenção, concernente às necessidades básicas desta população. Dentre elas destacamos a compreensão e importância de uma vida sexualmente ativa durante o envelhecimento (SOUZA, 2014). As pessoas negam-se a aceitar que o idoso possa querer namorar, esquecem que atividade sexual não se trata apenas da relação sexual e a afetividade. Assim, sentem-se desconfortáveis em dar opiniões e em falar sobre o assunto (SOUZA, 2014).

            Falar sobre sexualidade e prática sexual não é uma tarefa fácil. Existe ainda um certo constrangimento por parte de todos, principalmente por parte dos profissionais de saúde que acreditam que essa temática é muito pessoal e que não dever ser abordada sem que haja algum questionamento ou dúvida por parte do paciente. 

            Existe uma barreira maior ainda quando leva em consideração essa temática na terceira idade. Os idosos são pessoas que vieram de uma época em que nem se cogitava falar sobre o assunto, quanto mais responder a um questionário sobre sua vida sexual para um desconhecido (MASCHIO et al., 2011).

            É extremamente importante termos em mente que a prática sexual deve ser orientada, esclarecida e praticada com segurança por jovens, adultos e idosos. Reconhecer a vulnerabilidade da população é tão importante quanto promover ações de educação sexual em grupos que necessitam de esclarecimento e informação sobre os risco das atividades sexuais sem proteção.

            Segundo dados emitidos pelo Ministério da Saúde, observa-se um aumento nos últimos dez anos na taxa de detecção de AIDS em homens nas faixas etárias entre 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 60 anos ou mais (BRASIL, 2015). Acredito que este aumento se deve à falta de planejamentos e ações nesta faixa etária, além da precariedade de campanhas promovidas pela atenção básica e pelo próprio Ministério da Saúde. Infelizmente, a terceira idade é cercada por tabus e preconceitos por parte da sociedade e também dos profissionais de saúde que acreditam que os idosos não possuem mais atividade sexual ativa e que não necessitam de ações e esclarecimentos sobre o tema. Trata-se por tanto de um desafio para os responsáveis pelas políticas públicas.

            Baseado nisso, resolvemos realizar uma intervenção com o grupo prioritário (idosos) que a equipe 42 da Unidade de Saúde de Nova Natal realiza atividades regulares. Marcamos um encontro com o grupo de idosos “União e Paz” onde foi abordado a temática sexualidade segura na terceira idade. Contamos com o apoio das agentes comunitárias de saúde para realizar a divulgação da ação, bem como o reforço durante as consultas médicas e da enfermagem para ampliar o acesso à esse encontro. A reunião contou com a presença de 30 idosos. Procurei realizar uma aula expositiva bem didática que pudesse abordar a temática da sexualidade como o todo. Foram abordados durante a ação questões sobre desejo sexual, disfunção erétil, ansiedade com o próprio ato, prática sexual segura e as principais doenças sexualmente transmissíveis.

            O início da ação foi um pouco constrangedor. Realmente existe um certo tabu quando se tenta falar no assunto, tanto por parte de toda a equipe de saúde, bem como por parte dos idosos que compareceram ao encontro. Com o decorrer da ação percebi que a timidez ficou de lado e muitas dúvidas surgiram. Muitos questionamentos sobre desejo sexual e disfunção erétil foram levantados. Procurei deixá-los bem à vontade com o assunto e esclarecer as dúvidas que estavam ao meu alcance. Alguns idosos mais tímidos não interagiram, outros com o decorrer da palestra foram embora, mas acredito que o meu objetivo foi alcançado, pois consegui promover uma ação de educação sexual em um grupo que acaba sendo esquecido por parte dos profissionais de saúde no que tange à sexualidade. No final da ação fui parabenizada pelos idosos que adoraram a temática abordada e que deram sugestão de outros temas relacionados a sexualidade que queriam que eu abordasse posteriormente.

            De uma forma geral, fiquei bastante contente com a ação realizada. Contei com o apoio de toda a equipe e com a adesão de uma grande parte dos idosos. O feedback tanto por parte da equipe como pelos idosos, após a ação, foi muito satisfatório. Percebi a carência dessa abordagem na atenção primária e da importância de traçar estratégias para atender as necessidades dessa parcela da sociedade. Observei com os questionamentos levantados pelo grupo que o tema sexualidade vai muito além do ato sexual em si, e que na verdade o tema expressa a sua identidade, o seu gênero e principalmente o seu bem estar geral.

            Neste sentido profissionais de saúde como um todo e a sociedade necessitam compreender as particularidades que envolvem a sexualidade dos idosos. Reconhecendo que a sexualidade tem profunda relação com a qualidade de vida, Cunha et al. (2015) enfatiza que os profissionais da atenção básica precisam desenvolver estratégias pautadas no vinculo e na interação entre profissional/usuário.

            Dessa forma é essencial o planejamento de estratégias de saúde pública específicos para população idosa. É fundamental que os profissionais de saúde promovam ações específicas sobre o tema e que esclareçam as principais dúvidas sobre sexualidade à população da terceira idade. Realizar ações educativas em saúde sexual no idoso promove práticas integrativas do cuidado, garante acesso continuado, possibilita humanização dos serviços oferecidos bem como promove promoção e prevenção da saúde como um todo.

 

Referências:

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico. Ano IV nº 01. 27ª à 53ª semana epidemiológica. Julho a Dezembro de 2014. 01ª à 26ª semana epidemiológica. Janeiro a Junho de 2015. Brasília; 2015

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 1. ed., 1. Reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010, p. 68.

CUNHA, L. M; MOTA, W. S.; GOMES, S. C.; FILHO, M. A. R.; BEZERRA, I. M. P.; MACHADO, M. de F. A. S.; QUIRINO, G. da S. Vovó e vovô também amam: sexualidade na terceira idade. Rev Min Enferm. 2015; 19(4): 894-900.

MASCHIO, M.B.M.; BALBINO, A.P.; SOUZA, P.F.R. de; KALINKE, L.P. Sexualidade na terceira idade: medidas de prevenção para doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2011 set; 32(3): 583-9.

SOUZA, M.P. A sexualidade do idoso: uma revisão sistemática da literatura. Dissertação de mestrado em Ciências. Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo-USP, Ribeirão Preto(SP), 2014.

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