CAPÍTULO III: Caracterização da assistência à saúde da mulher na UBS Centro
ESPECIALIZANDO: André Martins Ornelas
ORIENTADORA: Maria Helena Pires Araújo Barbosa
O compromisso do governo federal com a Saúde da Mulher foi reafirmado em 2004 com a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) pelo Ministério da Saúde. A ideia central dessa política visa a “implementação de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das mulheres e reduzam a morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis” (BRASIL, 2011).
Entre os principais objetivos da PAISM, cita-se:
A atenção básica, vista como porta de entrada preferencial da usuária no SUS, deve estar capacitada para responder de forma efetiva às necessidades de saúde desse importante grupo populacional. As ações desempenhadas na ESF devem prover assistência integral e humanizada no âmbito do planejamento familiar, do pré-natal e do puerpério.
A assistência ao planejamento familiar desempenhada na nossa UBS enfrenta inúmeras dificuldades operacionais, entre as quais inclui:
O planejamento familiar constitui um processo pelo qual o casal decide o número de filhos, o espaçamento de tempo entre eles e o momento ideal do nascimento, utilizando para isso os métodos contraceptivos. Essa estratégia contribui para a redução da morbimortalidade materna uma vez que reduz a gravidez não desejada, o abortamento provocado, além de prevenir a gestação de adolescentes ou de portadoras de doenças crônicas graves (BAUMGUERTNER, 2013).
Para conseguirmos oferecer a melhor estratégia contraceptiva, baseada na condição clínica da mulher e sua preferência, precisamos ter à nossa disposição os principais métodos contraceptivos. Porém, é corriqueiro na realidade da nossa UBS a falta constante de insumos básicos para a realização das atividades, de forma que a usuária geralmente enfrenta dificuldades para adquirir o método contraceptivo prescrito.
Como discutido em capítulos anteriores, a nossa equipe enfrenta dificuldade para implementar atividades de educação em saúde com a participação do médico, uma vez que privilegia a atuação deste profissional no atendimento clínico individual. Dessa forma, as orientações educativas de planejamento reprodutivo são realizadas apenas em consultas clínicas, que muitas vezes ocorrem em um curto espaço de tempo e não permitem suplantar todas as dúvidas do casal.
A assistência ao pré-natal desenvolvida na nossa Unidade Básica de Saúde (UBS) engloba: captação das gestantes pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), oferecimento de consultas compartilhadas com médico e enfermeira, fornecimento dos suplementos essenciais, de repelentes e da vacinação, oferecimento de testes rápidos para diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Entre as principais dificuldades na assistência ao pré-natal temos:
Deve-se salientar que a investigação complementar do pré-natal preconizada pelo Ministério da Saúde através de duas baterias de exames laboratoriais (no início da gestação e no terceiro trimestre) é fundamental para diagnóstico de complicações do ciclo gravídico que podem comprometer a saúde materno-fetal. Dessa forma, a dificuldade de acesso a tais exames constitui falha grave na assistência pré-natal e precisa ser vista como questão de prioridade pela gestão municipal.
A assistência ao puerpério provida por nossa equipe é composta por uma consulta em ambiente domiciliar realizada pela enfermeira ainda na primeira semana após o parto, conforme recomenda o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006). A paciente entra em contato com a equipe através de um grupo de rede social para comunicar o nascimento do bebê; a partir daí a enfermeira se organiza para realizar a visita domiciliar o mais rápido possível. Nessa consulta, além de avaliar as condições de saúde da mãe e do RN, buscamos reforçar a importância do aleitamento materno e da vacinação, além de fortalecer o vínculo com a equipe para o acompanhamento regular de puericultura. Orientamos a puérpera para comparecer à UBS até o 42º dia de pós-parto para uma segunda avaliação que será realizada pelo médico. Nesse momento, procura-se oferecer orientação contraceptiva, checar a amamentação e os cuidados com o recém-nascido. A atenção à puérpera é vista como prioritária pela nossa ESF. Procuramos realizá-la de forma oportuna para identificar prontamente condições patológicas frequentes, como alterações de humor e patologias mamárias que muitas vezes levam ao desmame precoce – uma realidade frequente em nosso meio!
Para fortalecer a atenção à saúde da mulher no período gestacional criamos um grupo de gestantes chamado “Bebê a Bordo”. O objetivo principal do grupo é oferecer orientações importantes para as futuras mamães! Muitas vezes, as consultas individuais – pelo tempo limitado – não permitem identificar todas as dúvidas das gestantes. Nesse espaço as pacientes sentem-se acolhidas e à vontade para questionar e trocar experiências.
O grupo conta com reuniões mensais, onde são trabalhados temas importantes como amamentação, nutrição materna, preparação para o parto, atividade física, entre outros. Os encontros envolvem toda a equipe, desde os agentes comunitários de saúde responsáveis principalmente por convidar as gestantes de suas respectivas áreas, bem como as técnicas de enfermagem que realizam o acolhimento inicial, além dos profissionais do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), o médico e a enfermeira, que participam das discussões junto às gestantes. A integração da equipe é um fator essencial para o sucesso e manutenção do “Bebê a Bordo”.
Ao longo desse período com o grupo de gestantes, tenho percebido algumas melhorias na assistência ao pré-natal, como por exemplo: aumento da assiduidade nas consultas, maior participação dos companheiros, redução do sedentarismo, do desmame precoce e da alimentação inadequada. Porém o mais importante é o fortalecimento do vínculo entre a gestante e a nossa equipe, de forma que ela sente-se minimamente amparada nesse momento da vida marcado por grandes transformações e medos. Ela percebe que poderá contar com o apoio da UBS diante de quaisquer intercorrências do período gravídico e para o cuidado orientado do futuro bebê.
Infelizmente não são todas as gestantes acompanhadas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) que comparecem regularmente aos encontros do “Bebê a Bordo”. Para melhorar a aplicabilidade desse grupo precisamos ampliar para 100% a participação das mulheres! Tentamos contornar esse problema com encontros cada vez mais dinâmicos – que fogem aos padrões maçantes das palestras – além de sorteio de brindes e lanches. Não recebemos apoio da gestão para a concretização dos eventos, o que dificulta a aquisição dos materiais necessários para o êxito da ação. Todos os recursos são custeados pelos membros da UBS! Mais uma vez: não conseguiríamos manter o grupo sem a integração da equipe!
A principal dificuldade para manter o grupo em funcionamento é a demanda excessiva por atendimento individual. É difícil encontrar espaço na agenda dos profissionais, inclusive os do NASF-AB, para realizar o encontro. Além disso, muitos usuários questionam a realização da reunião pois defendem que é um desperdício “perder” um turno de consulta médica e de enfermagem. Há muito trabalho pela frente para sensibilizar a população de que a ESF não se resume à atendimento médico, exames e remédios…
Ponto(s)