2 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA EQUIPE 2 DO PSF SANTO AMARO DAS BROTAS.

ESPECIALIZANDO: YEILÍN RODRIGUEZ JEREZ.

ORIENTADORA: MARIA HELENA PIRES ARAUJO BARBOSA.

 

     A Reforma Psiquiátrica tem construído importantes ações e intervenções que vêm consolidando a produção de uma clínica ampliada em saúde mental. Tem como ênfase principal a desinstitucionalização, com a consequente desconstrução do manicômio e dos paradigmas que o sustentam. A substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas, bem como a cidadania do usuário com transtorno psíquico vem sendo objeto de discussão não só entre os profissionais de saúde, mas também em toda a sociedade (TENÓRIO, 2002).

      Exige-se, cada vez mais, a produção de novos modos de cuidado em saúde mental que operem na produção de subjetividade e provoquem novos modos de existência, atuando na desconstrução de estigmas acerca da saúde/doença psíquica no âmbito coletivo (GUIMARÃES et al., 2001).

      A estruturação da rede de atenção em saúde mental é fundamental no processo de inclusão do usuário e consequente alcance do objetivo norteador da Reforma Psiquiátrica: o resgate da cidadania do indivíduo com transtorno psíquico. Assim, percebe-se a importância da organização e da articulação da rede de atenção em saúde mental, promovendo a vida comunitária e autonomia dos usuários dos serviços de saúde mental, incluindo os indivíduos a partir do seu território e subjetividade (BRASIL, 2003).

      No município de Santo Amaro Das Brotas é por meio da Atenção Básica de Saúde que se estrutura a rede de atendimento à saúde mental, uma vez que segundo critérios populacionais os municípios com menos de 20.000 habitantes não dispõem de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, tais como: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

       Por esta razão, foi pactuado abrir um CAPS regional localizado no município mais próximo geograficamente (Maruim), para o atendimento de pessoas com problemas de saúde mental, pertencentes aos municípios de Santo Amaro Das Brotas e Maruim; e assim alcançar o limite populacional orientado pelo Ministério de Saúde.

      O CAPS de Maruim foi aberto desde o 2006 com atendimento para pessoas de toda faixa etária que sofrem transtornos mentais severos e persistentes e usuários de álcool e outras drogas. O pessoal de nosso município com problemas de saúde mental é trasladado ao CAPS em transporte público duas vezes por semana. Funciona de manhã e de tarde, durante os cinco dias úteis da semana. A equipe multiprofissional do CAPS está composta por um médico psiquiatra, uma enfermeira com formação em saúde mental, uma psicóloga, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, psicopedagoga, professora de educação física entre outros profissionais necessários ao projeto terapêutico. A assistência prestada aos usuários no CAPS inclui as seguintes atividades:

ü  Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros).

ü   Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras)

ü  Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio.

ü  Atividades físicas.

ü   Visitas domiciliares.

ü  Atendimento à família.

      No município de Santo Amaro Das Brotas, há uma alta demanda de atendimentos de saúde mental, sendo cotidiano o acolhimento de portadores de sofrimento psíquico do território adscrito na nossa unidade básica de saúde.

      Todas as quintas-feiras pela manhã realizamos consultas de saúde mental programadas, e de tarde visita domiciliar, para conhecer a realidade do portador de transtorno mental e sua família, favorecendo a compreensão dos aspectos psico-afetivo-sociais e biológicos, promovendo vínculos entre usuários, familiares e trabalhadores. Além disso, temos na unidade uma psicóloga que realiza consultas duas vezes por semana.

      Os casos de urgência psiquiátrica são encaminhados para a Unidade de Urgência Clínica e Mental do Hospital São José, localizado na capital do Estado.

      Neste município, a Atenção Básica de Saúde é responsável por organizar e desenvolver o atendimento a esta demanda obedecendo ao modelo de cuidados de base territorial, com o objetivo de acolher e estabelecer vínculos terapêuticos.

      Com o incentivo de melhorar a linha de cuidados em saúde mental, se elaborou uma ficha espelho para registrar todos os usuários em uso crônico de psicotrópicos de nossa área. Primeiro colocamos a identidade pessoal, data de nascimento, cartão nacional de saúde, endereço e telefone. Depois disso, descrevemos em formato de tabela os diagnósticos, para ter um resumo útil dos problemas de saúde da pessoa, com os medicamentos, apresentação e as doses terapêuticas, numa sequência lógica, com avaliação ou não pelo psiquiatra. Além disso, decidimos colocar também em formato de tabela as datas das consultas médicas agendadas para obtenção de receita de psicotrópicos e comparecimentos, para ter um maior controle da adesão ao tratamento.

        O instrumento construído foi apresentado na reunião de avaliação da equipe, e se discutiram as ações que poderiam ser feitas para fazer os registros adequados e assim, estar apto para alcançar este indicador na avaliação externa do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ).

     O engajamento dos trabalhadores das Equipes da Estratégia de Saúde da Família com a Saúde Mental tem resultado em experiências bem-sucedidas, demonstrando ser possível a articulação seguindo os princípios do SUS com os da Reforma Psiquiátrica (BRASIL, 2002).

      Para demostrar o funcionamento da rede de pessoas e serviços de saúde mental em nosso território, selecionou-se um caso de uma pessoa atendida na nossa unidade básica, com necessidade de uma atenção integral em saúde mental e da construção de sua linha de cuidado.

      Trata-se de uma mulher, 68 anos, aposentada, portadora de Hipertensão arterial, depressão moderada, e uma vez teve ideia suicida faz 9 meses quando faleceu seu marido; com tratamento e acompanhamento conjunto no CAPS e nossa unidade de saúde. Há dois dias teve uma visita domiciliar pela agente de saúde da sua área, e a mesma percebeu que a usuária estava num episódio depressivo, chorando muito, além de não querer falar com ninguém, ficar sozinha no quarto, não ter vontade de fazer nenhuma coisa na casa. Uma vizinha contou para ela que seu único filho que morava em São Paulo havia se separado da esposa e retornado para morar com a mãe. Ele não trabalha, é usuário de álcool faz mais de 5 anos, a família tem tentado levar a consulta para avaliação e encaminhamento para o CAPS e ele não quer. Refere usuária que quando ela não está em casa ele rouba seu dinheiro, faz bagunça na casa e não tem respeito para com ela.

    A agente de saúde dessa área trouxe o caso dessa mulher na reunião de equipe para que nós avaliássemos o caso.

Análise e Diagnóstico.

     Depressão moderada, caracterizada pelo episódio de choro frequente, não querer falar com ninguém, ficar sozinha no quarto, e não ter vontade de fazer nenhuma coisa na casa.

Construção da linha de cuidado.

     Começamos a fazer a visita domiciliar com a psicóloga do município, que foi o começo do atendimento tanto para ela como para seu filho. Ele não estava em casa quando fizemos a visita domiciliar como parte do acompanhamento da família. Refere a usuária que ele fala que não tem nada e que não precisa atendimento médico.

     Agendamos consulta para a usuária para o outro dia, a avaliamos, e a equipe toda determinou que deveria ser avaliada pelo psiquiatra. Houve então um contato com a coordenação com o CAPS regional, foi agendada uma consulta para o outro dia, ela foi avaliada e medicada, e o psiquiatra retornou à ligação para o posto de saúde para nos informar que decidiu incorporar psicoterapia e atividades físicas, como tratamento adjuvante não farmacológico, e que o acompanhamento da idosa fosse em conjunto com o posto de saúde. Desta forma a usuária está compensada de todas suas doenças melhorando sua qualidade de vida.

      Nessa abordagem, percebeu-se a importância de a equipe de saúde acolher os aspectos subjetivos em todas as ações que desenvolve e que não é estratégico criar um momento ou espaço exclusivo de acolhimento em saúde mental. Esta experiência possibilitou a criação de novos modos de agir e intervir dentro da equipe, que passou refletir sobre como atender a demanda de saúde mental. Além disso, a equipe percebeu que o processo de discussão dos casos, gerado a partir do acolhimento de saúde mental, deve ser extrapolado para todas as linhas de cuidado, o que permite maior compreensão e troca entre os profissionais, refletindo numa ação integral e mais resolutiva para os usuários.

1 Star2 Stars3 Stars4 Stars5 Stars (No Ratings Yet)
Loading...
Ponto(s)