RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: O DESAFIO DA SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO RURAL
ESPECIALIZANDO: WILIAN OSVALDO PEREZ TORRES
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
A saúde mental tanto em Brasil, como em diversos países do mundo, representa uma importante questão de Saúde Pública, com prioridade entre os problemas identificados por meio do diagnóstico situacional da área de abrangência de nossa equipe de saúde nº 2 , do município Poço Redondo, no Estado de Sergipe, devido ao alto índice de consumo de drogas psicotrópicas, as vezes sem um diagnóstico médico especializado.
Com o objetivo de reduzir o uso indiscriminado desses medicamentos em na população, a equipe decidiu fazer essa microintervenção. A primeira tarefa a desenvolver foi a realização de uma reunião com a equipe, para a construção de um instrumento que permitisse o cadastramento de pacientes em uso crónico de medicamentos como: benzodiazepínas, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos e estabilizadores de humor, também o registro de pacientes em sofrimento psíquico grave e de usuários com necessidade decorrente do uso de: crack, álcool e outras drogas.
Esta reunião foi realizada no dia 28 de junho, com a duração de duas horas, onde foram discutidas quais ações poderiam ser feitas para tornar mais adequados os registros e assim conseguir alcançar o indicador na avaliação externa do PMAQ. Ao final, após de muitas reflexões, opiniões, critérios e sugestões , conseguimos construir um arquivo com os dados necessários para um melhor controle desses pacientes.
A inexistência de registro prévio desses pacientes na UBS, foi a principal dificuldade na construção do instrumento. Por outro lado, o trabalho organizado e planejado de nossos agentes comunitários de saúde e a comunicação entre os membros da equipe foi o principal potencial em sua criação.
Toda pessoa com sofrimento psíquico que chega à nossa UBS é acolhido e seus problemas são ouvidos e caso que não possa ser atendido no mesmo dia, é agendada uma consulta nas primeras 48 horas, sendo este o tempo máximo de espera para o primeiro atendimento. Após essa primeira consulta, as demais são agendadas de acordo com a gravidade do caso, a cada 15 ou 30 dias no máximo.
E importante ressaltar que nossa equipe realiza ações para essas pessoas com uso crônico de drogas psicotrópicas, como por exemplo: visitas domiciliares em conjunto com a psicóloga do NASF, também são realizadas palestras para grupos de pacientes sobre os danos causados a saúde por e uso indevido destas drogas, compartilhamos vídeos relacionados a estas questões. Outra ação realizada com frequência é a interconsulta com o psiquiatra do NASF, com objetivo de suspender ou reduzir a dosagem das medicações. Pensamos que essas ações são poucas e que ainda podemos fazer mais com esse grupo de pacientes.
A paciente selecionada por nós e que achamos que precisa de assistência integral à saúde mental é uma mulher de 46 anos de idade, com história de síndrome ansiosa-depressiva frequente, para a qual toma medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, mas nunca foi avaliada pela psicologia, nem pela psiquiatria.
Esta paciente “fugiu” de sua casa aos 13 anos de idade com seu primeiro marido, com quem tem 3 filhos e esse casamento dura pouco tempo, apenas 7 anos, devido aos maus-tratos físicos e psicológicos a que foi submetida pelo cônjuge. Mais tarde, ela se casa novamente com outro homem, 30 anos mais velho que ela, seguindo o conselhos de seus pais e a necessidade de alguém para cuidar dos filhos. Ela mora atualmente com este homem, sendo que uma das filhas sofre de paralisia cerebral (tem 13 anos de idade e está prostrada). Na casa também mora outra filha de 24 anos, estudante universitária. Outro fato relevante é que a usuária, pouco tempo depois de casada, é fisicamente e psicologicamente maltratada pelo atual marido, com quem ela tem que conviver porque não tem emprego e não tem onde morar com seus filhos.
Ela vem muito ansiosa e desesperada para a UBS, foi acolhida pelo enfermeiro da equipe que, depois de ouvir seus problemas, é enviada ao meu consultório onde também ouço suas queixas: refere que não dormiu bem por muitos anos porque sua filha sofre de paralisia cerebral e passa a maior parte da noite acordando e tem que cuidar dela; ela também diz que o marido de 79 anos de idade, bebe muito e fica muito agressivo com ela, além disso, diz que não tem ajuda de ninguém e é praticamente uma escrava na casa, expressando várias vezes que nutre o desejo de matar-se.
Despois de dar uma psicoterapia de apoio, eu decido prescrever medicação para a ansiedade para acalmá-la um pouco e faço encaminhamento para Psiquiatria e Psicologia do NASF que diagnosticaram: Ansiedade Grave Intensa, Alteração dos Processos Familiares e Risco de Violência Autodirigida. O Psiquiatra acrescentou outros medicamentos antidepressivos e sugere que o interesse de vários profissionais é muito importante para melhor promover o cuidado. Por se tratar de uma família com vulnerabilidade social, o Psiquiatra direciona a paciente para o CRAS e para o CREAS do Município.
Embora o NASF tenha encaminhado a paciente para o CAPS do município vizinho, pelo fato da nossa equipe ter insistido várias vezes na necessidade acerca do caso ser avaliado pelo CAPS, era impossível para a paciente deslocar-se para o mesmo, porque estava longe, não tinha dinheiro, além de não ter ninguém para cuidar da filha com paralisia cerebral.
A articulação de nossa equipe com o NASF foi decisiva na criação da linha de cuidado de nossa paciente porque ajudou na atenção integral à família; o paciente o alcoolista foi avaliado pela psicóloga, e a paciente prostrada teve sua situação analisada pelo fisiatra, demostrando a importância do apoio matricial do NASF assim como o funcionamento segundo as diretrizes da clínica ampliada.
As principal dificuldade na realização dessa microintervenção foi a inexistência de um CAPS em nosso município para melhor avaliação e tratamento da doença da paciente. A rede de atenção de saúde mental em nosso município conta com: UBS, ESF, NASF, e UPA. Acreditamos que a criação de um CAPS em nossa rede irá a minimizar um problema de saúde muito angustiante neste território de mais de 30000 habitantes.
Com a realização desta micro-intervenção nossa equipe aprendeu fazer um atendimento mais integral aos pacientes e famílias com problemas de saúde mental, e também melhorou a comunicação com o NASF, coisa que não existia antes, porque nossos pacientes foram referenciados para avaliação pela psicologia e psiquiatria e não houve contra-referência desses pacientes para nossa consulta, o que impossibilitou o melhor acompanhamento das situações.
A principal mudança observada foi que nos ensinou a ter um melhor controle dos pacientes que usam esses medicamentos psicotrópicos e outras drogas em nossa área de saúde, o que facilita a realização de ações e atividades com esses grupos de pacientes, esperamos que com a continuidade da mesma os resultados de nosso trabalho sejam melhores com vista à próxima avaliação do PMAQ.
Registro de pacientes com sofrimento psíquico grave; uso crônico de psicotrópicos e uso de alcool e outras drogas. UBS: Erionaldo Correia Pereira. Municipio: Poço Redondo. Equipe de Saude: 2
Nome e sobrenome |
Endereço |
Idade |
MA |
Telefone |
DUC UBS |
AVP |
Droga |
||
S |
N |
data |
|||||||
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Legenda: DUC-UBS: data de ultima consulta na UBS; AVP: avaliação por psiquiatria; MA: microarea.