30 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

TÍTULO: O DESAFIO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA UBS MOCAMBO, EM FREI PAULO (SE).

ESPECIALIZANDO: RAINER FONSECA GARCÍA

 

ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO

 

De acordo com Mendes (1999), saúde é consequência de um processo de produção social que expressa a qualidade de vida de uma população, entendendo-se qualidade de vida como uma condição de existência dos homens no seu viver cotidiano de forma individual ou coletiva.

Levando em conta a importância do cuidado, acompanhamento e controle dos pacientes com sofrimento e transtornos mentais, nossa equipe de trabalho se reúne periodicamente com o objetivo de realizar ações que visem a um melhor seguimento deles, para o qual decidimos elaborar em conjunto um instrumento capaz de coletar o máximo de informação possível, e assim oferecer-lhes um melhor atendimento. Por isso, elaboramos um Ficha de Registro o mais abrangente possível.

Com a intenção já estabelecida de coletar o máximo de informações desses pacientes, elaboramos um formulário onde primeiramente é informada a diretoria da UBS que cuida do paciente, coletando dados como: Nome do Estado, Nome do Município; nome da Unidade e do Povoado.Em seguida, concentramos nossa estratégia para registrar os dados pessoais do paciente, como: Nome; Endereço; CPF e Cartão do SUS, bem como Idade; Altura e Peso (para posteriormente determinar o Índice de Massa Corporal e depois a Avaliação Nutricional) para descartar outras patologias nutricionais.

Também decidimos incluir neste registro os nomes de ambos os pais, bem como seus antecedentes patológicos pessoais e antecedentes patológicos familiares (se houver). E finalmente implantamos na construção do nosso Cartão os dados específicos de sua Patologia, dados por: seu Diagnóstico; o seu Tratamento (onde devemos especificar os tipos de medicamentos que consome bem como a sua dose); se o mesmo estiver sendo acompanhado por Psicólogo, Psiquiatra ou CAPS; e finalmente colocamos espaços para Consultas e Visitas Domiciliares (Quadro 1).

Nossa equipe determinou que a implementação imediata deste instrumento criado na unidade nos favorece muito para atingir o objetivo desejado, uma vez que acreditamos que, dessa forma, poderemos avaliar e monitorar melhor esses pacientes.

Além disso, estamos cientes da subnotificação existente desses pacientes em nossa unidade, devido ao fato de alguns pacientes determinarem sua primeira consulta e subsequente acompanhamento de sua condição no serviço privado, por isso decidimos realizar uma busca ativa em cada área pelo Agente de Saúde responsável, a fim de promover nosso banco de dados existente na unidade e alcançar seu apoio futuro. E tomamos o acordo para avaliar a eficácia deste instrumento criado pela equipe mensalmente, a fim de reconfigurá-lo, se necessário, para atingir nosso objetivo.

Quadro1: Ficha de registro em Saúde Mental, 2018.

FICHA DE REGISTRO – SAÚDE MENTAL

Estado:

 

Município:

 

UBS:

 

Nome:

 

Sexo: H(  )M( ).

Edad:

      Anos.

Nome Mãe:

 

Peso:

     Kg.

Altura:

          m.

Nome Pãe:

 

IMC:

   Kg/m²

AN:

 

Data Nasc:

  /     /      /.

SUS:

 

CPF:

 

 

APP:

 

APF:

 

Diagnóstico Psiquiátrico:

 

 

CID-10:

 

Medicamentos:

Mg:

Dosagem e Frequência:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acompanhamento:

CAPS(  ).          ESF(  ).           NENHUM(  ).         OUTROS(  ).

Consulta/Visita domiciliar:            

                                                                                                           Assinatura e Carimbo:

LEGENDA

IMC: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL.

Kg/m2: QUILOGRAMOS POR METROS QUADRADOS DE SUPERFICIE CORPORAL.

AN: AVALIAÇÃO NUTRICIONAL.

APP: ANTECEDENTES PATOLÓGICOS PESSOAIS.

APF: ANTECEDENTES PATOLÓGICOS FAMILIARES.

Fonte: Elaboração própria, 2018.

Dias depois de nossa reunião da equipe, uma paciente de 32 anos, casada, dois filhos, dona de casa, acompanhada por seu filho de 14 anos, veio à Unidade. Ela disse que sentia medo, tensa e que ela tinha um sentimento nervoso. A partir do momento em que ingressou na Unidade Básica, foi-lhe oferecido um Acolhimento adequado seguindo as orientações estabelecidas em reuniões anteriores da Equipe, para as quais foi avaliado pela Técnica de Enfermagem (fazendo assim o Triagem e obtendo dados como peso e altura) e, em seguida, consultado imediatamente como Demanda Espontânea.

No momento de iniciar nossa consulta, pedimos a seu filho que entrasse com ela para que se sentisse mais segura e capaz de desenvolver uma relação médico-paciente eficaz e, assim, conseguiu estabelecer o diagnóstico e programar sua linha de tratamento adequado.

Quando começar a fazer perguntas básicas: Nome; Idade; Direção, etc … (com o objetivo de colocar em funcionamento nosso novo instrumento e assim coletar as informações do paciente), este passou a apresentar perda progressiva da voz e consequentemente começou a chorar, para o qual precisamos da ajuda de seu filho para continuar nossa anamnese.

Antes de continuar nossa consulta, conseguimos criar um ambiente de segurança emocional para o paciente, onde ela pôde expor seus sintomas e dinamicamente continuar o desempenho de nossa atividade. E imediatamente o paciente começou a trocar critérios e fornecer as informações necessárias para o desenvolvimento bem-sucedido de nossa consulta.  

E, depois, referindo-se ao seu estado de irritabilidade, atribuindo isso à preocupação e ao medo de perder o pai, que se encontra em estado terminal de um câncer de próstata, porque ela começou a apresentar essa sintomatologia depois de saber sobre a doença dele. Ela também expressou problemas de concentração, medo constante e problemas para dormir.

Ao exame físico foi observado sempre sudorese excessiva (apesar do fato de nosso consultório ter bom condicionamento de ar), boca seca, tensão muscular e náuseas, assim como a ausculta do Aparelho Cardiovascular e Aparelho Respiratório foi constatada aumento frequência cardíaca e falta de ar. Após avaliar cada um dos sintomas e sinais, concluiu-se que a paciente estava sofrendo de uma crise de ansiedade, motivo pelo qual se decide realizar um encaminhamento para um CAPS para melhor tratamento, mas mantendo o acompanhamento rigoroso e apoio da equipe de saúde.

Uma de nossas grandes fragilidades nessa área médica é a ausência de CAPS ou NASF em nosso município, para os quais esses pacientes devem ser encaminhados para municípios vizinhos, em alguns casos fazendo um transporte excessivamente longo para ser consultado, o que às vezes causa a ausência deles a essas consultas e, assim, sua contínua deterioração emocional. E, dentro do nosso potencial, temos a presença de um psiquiatra e um psicólogo, que realizam muito trabalho para oferecer atendimento a esses pacientes, apesar do alto número de consultas previamente agendadas.

Nosso Estado possui aproximadamente 26 CAPS, distribuídos em alguns municípios muito populosos e, portanto, com maior número de pacientes com doenças mentais. Devido a isso, a atenção dos pacientes em nossa área é muito difícil, uma vez que geralmente não há vagas disponíveis para eles. Em nosso território, defendemos a implantação de um CAPS, a fim de aumentar consideravelmente o atendimento desses pacientes.

 De nossa parte no momento do encaminhamento ao paciente, faz-se uma adequada referência, onde toda a patologia e ambiente social do mesmo está exposto, bem como as possíveis causas que desencadearam esse estado e seu acompanhamento atual pela equipe de trabalho. Já a contra-referência não acontece adequadamente, pois, na maioria dos casos, esses pacientes, após serem atendidos pelos especialistas, não retornam espontaneamente à unidade de saúde para que conheçamos a conduta e os cuidados prescritos na Atenção Secundária. Por esse motivo, decidimos agendar visitas domiciliares em dias após a data estimada de consulta, com aviso prévio de sua presença na área pelo agente de saúde responsável.

Toda a regulação para o acesso desses pacientes aos CAPS são processadas pelo coordenador de saúde do município, que realiza grande gestão para atingir seu atendimento no menor tempo de espera possível. Deve-se destacar também o importante trabalho de nossa gestão atual, pois auxilia no transporte e coordenação desses casos com os CAPS nos municípios vizinhos.

 

Referencias:

 

MENDES E. V. Uma agenda para a saúde. 2ª ed. São Paulo: Hucitec; 1999.

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