29 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

 TITULO: UMA ATENÇAO PSICOSOCIAL INTEGRAL GARANTE QUALIDADE DE VIDA DOS USUARIOS.

 ESPECIALIZANDO: MARIA EUGENIA FIGUEROA OLIVERA.

 ORIENTADOR: CLEYTON CESAR SOUTO SILVA.

      No Brasil, o processo de constituição da Política de Saúde Mental, teve como características centrais: a redução progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos e a expansão da rede de serviços substitutivos. Além disso, tomou como princípios a inclusão e a participação dos usuários, familiares e comunidade no processo e a manutenção das pessoas com transtorno mental em seu contexto social. Alicerçada nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), propõe estratégias que visam a mudança do paradigma biomédico procurando romper com a assistência voltada exclusivamente para a doença, o cuidado centrado na remissão dos sintomas e como a concepção sobre a   periculosidade e incapacidade presumida da pessoa com transtorno mental. Esse conjunto de desafios implica mudanças nas práticas assistenciais e na organização dos serviços. (BRASIL, 2007)

          Para esta concepção de rede de serviços, os Centros de Atenção Psicossocial passaram a ocupar lugar central e devem assumir a função de organizar a demanda e a própria rede de cuidados em saúde mental de seu território, que podem ser compostas por residências terapêuticas, leitos em hospital geral, centros de convivências, ações de saúde mental na atenção básica, dentre outros. (BRASIL,2004)

          De acordo com as normas do Ministério da Saúde, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde comunitário aberto, que oferece atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realiza acompanhamento clinico e reinserção social por meio do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento de laços familiares e comunitários. Desenvolve atividades dentro e fora de seu espaço físico. (BRASIL, 2004)

          Nas unidades básicas de saúde de nosso município é bastante frequente as demandas de usuários com sofrimento psíquico, mas na realidade não contamos neste momento com uma Rede de Atenção Psicossocial bem organizada, pelo fato de que somente existe um Centro de Atenção Psicossocial para dependentes de Álcool e outras drogas (CAPS AD), um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS I) para crianças e adolescentes até 18 anos, não contamos com CAPS para adultos. Pelo momento no município temos um Psiquiatra recentemente contratado que realiza consultas duas vezes por semana numa UBS de referência, mas não funciona como CAPS. Os casos que precisam de internação hospitalar são encaminhados ao CAPS para adultos na capital do estado.

          No caso da nossa Unidade Básica de Saúde, considero que está organizada com os requisitos mínimos do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção – PMAQ, mas apresenta várias deficiências que requerem de mudanças, exemplo: os registros dos usuários em uso crônico de psicofarmacos, usuários em sofrimento psíquico e uso decorrente de álcool e outras drogas estão incompletos. A equipe realiza ações para pessoas que fazem uso crônico de psicofarmacos, mas não com a frequência devida pela importância e repercussão na saúde dos usuários. Mas posso afirmar que as pessoas com sofrimento psíquico são bem acompanhadas pela equipe e atendidas com prioridade na unidade de saúde.

          Nesse sentido, esta Microintervenção centra seu principal objetivo em elaborar um instrumento para registrar as informações sobre as pessoas em uso de psicotrópicos, uso decorrente de álcool e outras drogas, e outros dados pessoais de interesse. Além disso, realizar uma linha de cuidado tomando como referência um caso de pessoa atendida pela equipe e que precisa de uma atenção integral em Saúde Mental.

          Para o desenvolvimento desta Microintervenção realizou se uma reunião da equipe de saúde para elaborar uma ficha espelho, onde possamos começar a registrar todas as informações que o PMAQ solicitará, de forma mais completa e organizada. (ANEXO 1)

          Durante a reunião a equipe refletiu nas necessidades dos usuários com transtorno mental, que merecem especial atenção. Que nosso atuar não deve ser restringido à cura de doenças e sim a produção de vida e de saúde. A pessoa deve acreditar que a vida pode ter várias formas de ser percebida, experimentada e vivida, para isso o sujeito deve ser olhado em suas múltiplas dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas.

          Por tanto, para o desenvolvimento do segundo objetivo realizamos uma linha de cuidado num paciente atendido pela equipe, centrado em ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação.

          Tratou-se de um usuário idoso de 82 anos de idade, casado, ensino fundamental incompleto, aposentado, com atendentes de Hipertensão Arterial Sistólica, em tratamento com Captopril 25 mg ao dia e Hidroclorotiazida 25 mg ao dia. O mesmo mora com a esposa, também idosa de 79 anos, hipertensa com igual tratamento, além de um filho de 49 anos, desempregado, usuário crônico de álcool sem tratamento por se negar a aceitar a doença. O senhor começou a apresentar há 3 meses sintomas referidos pela esposa, dados por agressividade, negou-se de falar com familiares e vizinhos, chegando em ocasiões a autoagressão. Nunca foi levado ao pronto atendimento devido a que o paciente não queria receber tratamento algum e a esposa referiu que respeitou a voluntariedade do senhor.  Foi notificada esta situação na unidade pela agente comunitária de saúde que faz acompanhamento nessa área.

          A equipe de saúde, de conjunto com o gestor da unidade e a equipe de NASF realizou visita domiciliar à família. Foi avaliado cada membro da família e foram planificadas ações de forma individual em cada um deles, as quais foram discutidas para compartilhamento e divisão das tarefas e responsabilidades. O usuário foi referenciado para consulta de Psiquiatria, para o qual o gestor da unidade comprometeu-se a realizar a coordenação da consulta no centro de referência do município, para dar prioridade ao caso. O filho do casal com uso crônico de álcool foi avaliado pela psicóloga da unidade e referenciado ao CAP para AD, e a senhora esposa de A.M.S continuou o seu acompanhamento pela equipe de saúde da família e o NASF.

          Esta foi uma boa experiência para a nossa equipe porque todos nós nos conscientizamos da questão e especificamente com a família escolhida para cumprir a proposta da microintervenção.  Além disso, a equipe  gostou muito da maneira de distribuir as tarefas, para que todos se sentissem membros e responsáveis.

          O trabalho em equipe propicia a integração das ações dos profissionais e é essencial para o novo modelo de atenção proposto, porém os autores evidenciam a dificuldade deste tipo de organização, uma vez que algumas equipes ainda estão centradas no modelo biomédico e apresentam dificuldade de comunicar-se e compartilhar os saberes. (ADUHAB,et al. O,2005) (BRASIL, 2007).

          Um dos grandes desafios que ainda temos que alcançar é a contrareferência dos pacientes atendidos no CAPS e demais serviços de saúde mental, devido que na maioria das vezes ficamos com as informações que os pacientes e familiares podem nos oferecer.

          Nesse sentido é fundamental a necessidade da organização do trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar, no desenvolvimento de suas práticas e na produção de conhecimento.

 

Referencias

 ADUHAB, D.; Santos, A. B.; Messenberg, C. B.; Fonseca, R. M. G. S.; Aranha E Silva, A. L. O trabalho multiprofissional no Caps. III: um desafio. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, 2005.

 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde/ DAPE. Saúde mental no SUS: acesso ao tratamento e mudança no modelo de atenção. Relatório de gestão 2003-2006. Brasília, 2007.

 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de SM. Saúde no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília, 2004.

 

ANEXO 1. INSTRUMENTO.

 

 

 

 

 

 

 

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