CONHECENDO AS DEFICIÊNCIAS DA UNIDADE DE SAÚDE E DA EQUIPE APÓS AVALIAÇÃO DO AMAQ
ESPECIALIZANDO: RÚTILA TAIANE PRAXEDES RITTER
ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA DE MELO
Durante o estudo do módulo Observação na Unidade de Saúde, muitas temáticas foram importantes para a construção e entendimento de um bom funcionamento das unidades de saúde.
Utilizando como molde as diretrizes do PMAQ, podemos avaliar e intervir de forma construtiva nos serviços oferecidos à população, bem como na organização das unidades de saúde e no processo de trabalho. Além disso, podemos contar com o AMAQ que permite por meio da autoavaliação uma intervenção mais rápida e especifica nos indicadores que possuem déficits e que são passiveis de intervenção por meio das equipes de saúde e da gestão local (Sossai et al, 2016).
A AMAQ permite uma avaliação mais fidedigna do processo de organização do trabalho, bem como da estrutura organizacional das unidades e também da qualidade de serviço prestado à população. Apesar da AMAQ utilizar método de avaliação fruto da subjetividade humana, podemos inferir durante a coleta dos dados itens que necessitam de uma intervenção mais pontual e dinâmica (Sossai et al, 2016).
Ao realizar a autovaliação da AMAQ com a equipe 42 da Unidade de Saúde de Nova Natal pudemos observar algumas falhas que precisam ser monitorizadas e que necessitam constantemente passar por um processo de avaliação e mudança, procurando promover assim um melhor acesso aos serviços da atenção básica. As correções que precisam ser realizadas dependem do sucesso e da qualidade desse monitoramento, bem como da correta avaliação e interpretação desses dados. É necessário para isso medidas de controle eficazes de monitoramento desses indicadores de forma que possam ser tomadas as decisões e realizado o planejamento adequado das equipes e da gestão local de acordo com a demanda. É essencial a realização constante de ações de monitoramento, com a identificação de prioridades de educação permanente, apoio institucional, programação e intervenção das ações.
A autoavaliação demonstrou alguns pontos cruciais no processo de estrutura da unidade em que trabalho, bem como da equipe que faço parte. Para realizar a avaliação foi necessário reunir com a equipe durante 02 turnos, e discutir item por item as dimensões e subdimensões da AMAQ. Além disso, discutimos formas ou técnicas que precisavam ser escolhidas para promover o monitoramento adequado desses indicadores.
Antes de falar sobre os indicadores irei relatar um pouco sobre como era feito a monitorização pela equipe e pela gestão da unidade. A equipe possui livros onde são registrados demandas pessoais da equipe. Existe registro de número de gestantes; pacientes em uso de benzodiazepínicos; pacientes inseridos no programa de hiperdia; pacientes com tuberculose/hanseníase; pacientes com DST- Sífilis, HIV; pacientes com transtornos mentais; pacientes acamados e número de citologias realizadas. Os registros são manuais e inseridos nos livros de acordo com a demanda dos atendimentos. Durante a reunião percebi que muitos casos não eram notificados nos livros e que na grande maioria dos casos existe uma subnotificação dos dados internos da equipe. Como minha equipe estava sem médico há cerca de 08 meses havia uma ineficiência ainda maior desses dados. Outra demanda baixa é a de serviços ofertados pela equipe de saúde bucal, visto que minha equipe encontra-se sem dentista há cerca de 01 ano. Não existe registros dos serviços ofertados pela equipe bucal. O registro dos encaminhamentos eram realizados de acordo com a procura dos pacientes na marcação de consultas em serviços especializados e infelizmente não há registro interno da equipe com relação a esses dados. Com relação a gestão local existe um relatório quadrimestral que é realizado por cada equipe que fornece esses dados para direção local. O relatório é manual e baseado na coleta dos dados das equipes.
Há cerca de 01 ano foi implementado da minha unidade de saúde o E-Sus. Por meio do qual existe o Prontuário Eletrônico (PEC). Houve um treinamento interno de todos os membros da equipe para utilização desse sistema. Atualmente, todos os atendimentos e dados são inseridos no E-Sus, seja por meio do PEC ou do CDS. Neles são inseridos dados de atendimentos médicos, visitas domiciliares, atendimentos da enfermagem, encaminhamentos, vacinas, realização de atividades de grupos prioritários e capacitações realizadas. Desta forma, todas as atividades das unidades são cadastradas neste sistema. No final de cada mês pode ser gerado um relatório acerca desses dados.
Apesar da implementação do E-Sus na unidade existe uma certa resistência por parte de alguns profissionais na utilização do sistema, principalmente na utilização do PEC. Por demandar mais tempo e maior compromisso, muitos profissionais preferem seguir no registro antigo e não alimentam o sistema com as informações necessárias.
Retomando agora a avaliação do AMAQ com a equipe alguns indicadores receberam nota 5. Dentre eles, vou citar os que acho mais importantes e que precisam ser realizados monitoramentos cíclicos e contínuos.
No quesito infraestrutura e equipamentos da unidade básica de saúde, segundo a avaliação realizada com a equipe, obteve nota 5 os seguintes itens: materiais e equipamentos de urgência; e deslocamento dos profissionais das equipes da Unidade Básica de Saúde para a realização de atividades externas programadas por veículo oficial. Esses itens avaliados pela equipe possuem uma deficiência importante na unidade em que trabalho. Com a demanda diária do acolhimento, as urgências acabam sendo uma rotina da unidade. Diariamente chegam picos hipertensivos, picos hiperglicêmicos, crises de asma e dor precordial. Certo dia, chegou um acolhimento para atendimento para minha equipe de uma paciente com asma que encontrava-se dispneica no momento. Ao realizar o atendimento inicial de urgência prescrevi ciclos de nebulização na tentativa de promover um suporte mais rápido a essa paciente. Com o decorrer da intervenção a paciente foi apresentando queda da saturação e piora da dispneia. No momento da urgência a bala de oxigênio estava vazia; máscara e ambu estavam furados e não havia medicações básicas de acesso venoso para suporte do quadro. Foi necessário acionar o serviço de resgate do SAMU para prestar melhor atendimento a paciente e evitar danos maiores à sua saúde.
Outro exemplo foi de um idoso com queixa de dor precordial típica e não havia na unidade medicamentos como Ácido acetil Salicilico, Clopidogrel e Isordil. Os equipamentos de monitorização também são falhos. O oxímetro de pulso estava sem pilhas e o tensiômetro descalibrado. Falta muitas vezes medicamentos anti-hipertensivos em estoque o que impossibilita de realizar uma intervenção na unidade de um pico hipertensivo, sendo muitas vezes encaminhado à UPA devido à falta da medicação.
Com relação ao suporte de veículo oficial para atividades externas, como as visitas domiciliares, é outro ponto deficiente. A minha área adscrita é um pouco distante da unidade e também considerada de risco. Existe uma quantidade importante de idosos e pacientes acamados que não conseguem comparecer à unidade para atendimento. Já por diversas vezes o carro oficial é acionado pela equipe e pela direção da unidade e infelizmente não comparece para que possam ser realizadas as visitas domiciliares. O que acaba gerando um déficit nessa demanda assistencial.
Como plano traçado de intervenção pela equipe pretendemos adotar as seguintes medidas. Foi solicitado uma reunião com a direção da unidade e a farmacêutica para mostrar a importância de um Kit de emergência montado adequadamente para promover o suporte básico de vida. Inclusive tomei a iniciativa de montar uma lista com todos os medicamentos e equipamentos básicos que deveriam compor a unidade de saúde e levar para a reunião. Irei solicitar também que esses itens do kit de urgência passem por uma avaliação mensal por algum profissional da área de saúde para que confirme o bom funcionamento dos equipamentos e da manutenção desses medicamentos.
Com relação ao veículo oficial escrevi um pedido pessoal à direção do distrito explicando a importância de fornecer o veículo, mesmo que a cada 15 dias para melhor prestação de serviço dos pacientes que necessitam de visitas domiciliares. Caso, não obtenha resposta irei acionar a Secretária de Saúde e ver a melhor forma de resolver essa problemática.
Já no quesito Insumos e medicamentos obteve nota 5 os seguintes itens: insumos e de medicamentos indicados para o primeiro atendimento nos casos de urgência e emergência; e disponibilidade de medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica com suficiência e regularidade.
Retomando o exemplo citado acima do atendimento de urgência e exemplificando mais uma vez como a falta desses insumos prejudica a saúde dos pacientes que necessitam dessa urgência. Com relação a disponibilidade dos medicamentos básicos usados na atenção básica existe um déficit grande. Por volta do dia 15 de cada mês percebo que grande parte desses medicamentos já acabaram seu estoque. Acredito que existe uma carência na elaboração dos pedidos desses medicamentos, visto que medicações com custo mais elevado e que não possuem grande saída na unidade ficam estocadas nas prateleiras da farmácia durante todo o mês. Muitas vezes, dipirona e paracetamol não têm na unidade. Medicamentos anti-hipertensivos também. Me reuni com a farmacêutica da unidade e tentei passar para ela algumas medicações básicas que mereciam maior atenção na lista de medicamentos quando forem solicitados para unidade. Irei aguardar os próximos pedidos e avaliar o impacto dessa minha conduta.
Outro quesito que pontuou nota 5 foi educação permanente e qualificação das equipes da atenção básica. Apesar do pouco tempo na unidade de saúde percebo que existe uma baixa demanda de capacitação das equipes de saúde. Muitos profissionais por já serem antigos, não procuram se atualizar para oferecer uma melhor assistência a população. Há também uma falha na gestão local de solicitar capacitações. Na minha equipe, por exemplo, existe uma alta demanda de pacientes inseridos na saúde mental e que necessitam de um suporte diferente. Vejo que existe uma inexperiência por parte da equipe na assistência desses pacientes, que os conduzem muitas vezes sem marcar consultas e com o entendimento de que precisam apenas de suas receitas renovadas. Com o objetivo de promover melhor adaptação da equipe a esses pacientes solicitei à direção da unidade capacitação de saúde mental que envolva não apenas profissionais de nível superior, mas também que envolva os agentes comunitários de saúde, promovendo assim uma qualificação completa da equipe e melhor oferecimento dos serviços básicos.
Essa autoavaliação do AMAQ foi fundamental para observar a fragilidade não apenas da unidade de saúde, bem como da equipe em que estou inserida. Acredito que o mais importante dessa avaliação é poder nos colocar à frente da problemática e procurar realizar intervenções que melhorem a prestação desses serviços à população. Essa avaliação promoveu melhor integração entre toda a equipe, bem como nos colocou mais ativos na tentativa de modificar esses indicadores que pontuaram 5, e também na tentativa de melhorar os quesitos que obtiveram nota mediana. Percebi ainda durante essa avaliação o impacto positivo que venho promovendo não só na equipe, mas também nos serviços prestados à população e no meu crescimento pessoal e profissional.
Referências
SOSSAI, T.A. GALAVOTE, H.S. VIEIRA, E.C.L. FREITAS, P.S.S. LIMA, R.C.D. Evidências sobre o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica.Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(1): 111-119, jan-mar, 2016.
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