Título:Atenção a Saúde Mental da Estratégia de Saúde da Família Equipe Centro de Campo Redondo, município localizado no estado do Rio Grande do Norte
Especializando: Álvaro Rodrigues de Freitas
orientadora: Maria Helena Pires Araújo Barbosa
A Atenção Básica é considerada a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive das pessoas que demandam um cuidado em saúde mental. Quando os problemas não são resolvidos neste ponto de atenção, os usuários são encaminhados para outro ponto da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do consumo de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS (BRASIL, 2011).
No município de Campo Redondo, Rio Grande do Norte, a rede é composta pelos seguintes serviços e equipamentos: Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Quando o usuário necessita de atendimento especializado em saúde mental, álcool e outras drogas é referenciado para outros pontos da rede localizados em Natal ou em Santa Cruz.
O usuário com sofrimento ou transtorno mental chega a UBS Centro através de demanda espontânea ou agendamento. A equipe de saúde realiza o acolhimento de forma adequada e humanizada, e nessa primeira abordagem identificam-se quais profissionais serão solicitados para o atendimento. Após a avaliação define-se o plano terapêutico. Quando necessário, o indivíduo é referenciado para outro ponto de atenção da RAPS da região de saúde. Quando ocorre esse encaminhamento é realizada a contrarreferência, compartilhando o cuidado entre os serviços de saúde. Temos na área 169 usuários que fazem uso de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos e estabilizador do humor, 2 usuários de crack e 5 de álcool.
Para chegarmos a esse número foram realizadas diversas reuniões. Não foi fácil, pois eram muitas ideias de como faria esse levantamento, mas chegamos a um denominador comum. Nas reuniões ficou decidido que seriam três passos que deveríamos seguir, são eles: o primeiro passo refere-se ao desenvolvimento de um livro onde seria registrado o nome do indivíduo, idade, endereço, droga que faz uso e se tem alguma doença crônica; no segundo passo os agentes comunitários de saúde (ACS), nas visitas domiciliares diárias, iriam colher esses dados; e no terceiro passo, todas essas pessoas nas quartas-feiras pelo acesso avançado iriam passar por uma consulta do médico e da enfermeira, e aquelas com dificuldade de deambular o ACS iria agendar uma visita domiciliar, com isso conhecendo cada paciente poderíamos traçar uma linha de cuidados e acionar quando precisar o NASF-AB.
O cuidado em saúde mental realizado na unidade é norteado por diversas ferramentas, tais como: acolhimento, escuta qualificada, acesso avançado e abordagem familiar. O acolhimento é um dispositivo fundamental para formação do vínculo e para a prática de cuidado entre o profissional e usuário. É um espaço de escuta a usuários e das famílias e possibilita a criação de recursos individuais e coletivos de cuidado (BRASIL, 2013). O acesso avançado possibilita o atendimento em tempo hábil, reduzindo o tempo de espera por uma consulta médica (VIDAL, 2013). Um dos instrumentos utilizados pela equipe na abordagem familiar é a visita domiciliar, onde é possível identificar quem são os cuidadores da pessoa com sofrimento ou transtorno mental e como são realizados os cuidados, as dificuldades e soluções para possíveis problemas, a rede de apoio da família, entre outros.
Para registrar as informações solicitadas pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), que tem como objetivo a ampliação e a melhoria da qualidade da atenção básica (BRASIL, 2015), foi elaborada uma planilha com os seguintes dados: acesso e agendamento de consultas de pessoas com sofrimento ou transtorno mental; tempo de espera para a consulta; ações para a qualificação da equipe da UBS; identificação e acompanhamento dos casos mais graves; registro dos usuários de álcool, crack e outras drogas; registro dos usuários em uso crônico de ansiolíticos e antidepressivos; e ações de desmame dos usuários em uso crônico de ansiolíticos e antidepressivos.
Em reunião a equipe da UBS Centro e o NASF-AB, que teve como objetivo a discussão sobre um caso clínico, foi priorizada a construção de um Projeto Terapêutico Singular (PTS). Esse projeto é uma estratégia de cuidado que articula um conjunto de ações resultantes da discussão e da construção coletiva de uma equipe multidisciplinar e leva em conta as necessidades, as expectativas, as crenças e o contexto social da pessoa ou do coletivo para o qual está dirigido (BRASIL, 2013). Sendo assim, a equipe construiu um PTS para um usuário e será descrito a seguir.
O usuário, sexo masculino, 42 anos de idade, casado, pai de um filho (diagnosticado com déficit intelectual), tabagista e alcoolista há 20 anos, residente na zona urbana do município de Campo Redondo, renda familiar oriunda do Benefício de Prestação Continuada (BPC) da criança e do seu trabalho na agricultura. Em janeiro de 2018, ele sofreu um Acidente Vascular Encefálico (AVE), apresentando as seguintes complicações: prejuízos das funções sensitivas, motoras, de equilíbrio e de marcha, e déficit cognitivo e de linguagem, causando dependência e diminuição da qualidade de vida. Além disso, apresentou depressão pós AVE, que de acordo com Terroni et al (2009), [Office2] é a complicação mais frequente do acidente vascular encefálico.
Tendo em vista a extensão dos problemas apresentados., ficou decidido que será elaborado um PTS pela equipe da UBS Centro e NASF-AB. Serão realizadas diversas reuniões com a equipe para construir o referido projeto. Será usado um roteiro para nortear as ações dos profissionais envolvidos. Esse roteiro abordará os seguintes pontos: diagnóstico situacional, definição de objetivos e metas, divisão de tarefas/responsabilidades e reavaliação.
No referente à etapa do diagnóstico situacional, será possível identificar as necessidades, demandas, vulnerabilidades e potencialidades .. Com essas informações serão definidos os objetivos e as metas do PTS, visando à recuperação do sujeito, a ampliação de sua autonomia, a ativação da rede de suporte, entre outros. Com os objetivos e metas definidos, serão definidas as responsabilidades de cada profissional da equipe. À medida que as intervenções forem realizadas, essas serão avaliadas e reavaliadas.
Essa microintervenção, realizada pela equipe da UBS Centro e do NASF-AB, nos fez refletir sobre a necessidade de reorganizar o processo de trabalho, já que necessitou de uma maior articulação entre os profissionais envolvidos. A realização dessa atividade trouxe impactos positivos para os profissionais que participaram desse projeto e também para os usuários do serviço, visto que foi um momento de reflexão e compartilhamento de saberes, evidenciando a importância da corresponsabilização entre os autores desse processo.
Referência
BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 176 p.
BRASIL. Diário Oficial da União. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Brasília, 2011.
BRASIL. Diário Oficial da União. Portaria nº 1.645, de 02 de outubro de 2015. Brasília, 2015.
VIDAL, Tiago Barra. O acesso avançado e sua relação com o número de atendimentos médicos em atenção primária à saúde (Dissertação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Porto Alegre, 2013. 86 p. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br>. Acesso em: 17 de maio de 2018.
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