Titulo: Roda de conversa com adolescentes sobre seus direitos sexuais e planejamento reprodutivo
Especializando: Alfredo Rivero Troya
Orientador: Maria Helena Pires Araujo Barbosa
A sexualidade é uma temática importante para ser trabalhada em diversos grupos e em atendimentos individuais no âmbito da atenção básica. Deve ser trabalhada com enfoque na fase da adolescência e em continuidade com o planejamento familiar dos usuários vinculados a Unidade Básica de Saúde (UBS). A atenção e prevenção no planejamento reprodutivo, pré-natal e puerpério são ações eficazes que o profissional médico deve exercer para o fortalecimento do trabalho preventivo.
O planejamento reprodutivo na UBS de atuação enfoca as orientações sobre direitos reprodutivos e inclui a opção de ter filhos ou não. Durante o planejamento familiar são ofertados os métodos contraceptivos básicos, como Dispositivo Intrauterino (DIU), camisinha masculina e feminina, anticoncepcionais hormonais na apresentação de comprimidos ou medicamentos injetáveis. Desta forma, no primeiro encontro de planejamento do casal, são apresentados os efeitos positivos e negativos, assim como o modo de utilização de cada um dos métodos contraceptivos disponíveis na unidade.
Conteúdos como diversidade sexual, relações de gêneros e prevenção de HIV/AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são discutidos em atividades coletivas e em atendimentos individuais, de acordo com a demanda, e nas escolas por meio do Programa Saúde na Escola (PSE). Os casos novos diagnosticados de IST são devidamente notificados e encaminhados para profissionais de referência. Em nossa área de atuação, as doenças comumente diagnosticadas são a Sífilis, Gonorreia e as patologias parasitárias femininas, as quais são ofertadas tratamentos específicos. As temáticas de saúde sexual são trabalhadas nos grupos de educação em saúde, como gestantes, HIPERDIA e do PSE.
No tocante ao pré-natal e puerpério na UBS Severina Medeiros Dantas, a busca ativa por gestantes, inclusive adolescentes, é realizada pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e em casos suspeitos negligenciados, são realizadas visitas domiciliares. O levantamento periódico destas gestantes é realizado inclusive com as que fazem acompanhamento privado. Em todas as consultas a caderneta da gestante é devidamente preenchida, assim como todos os exames complementares são prescritos e avaliados. Caso a gestante apresente alteração em exame laboratorial, é realizado tratamento especifico, inclusive se houver presença de IST.
Os cuidados nutricionais na gestação são realizados por meio de orientação na primeira consulta de pré-natal e no grupo de gestantes, onde hábitos de vida saudáveis são estimulados em todo momento. Os casos com alteração são encaminhados para a nutricionista do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Nas últimas consultas de pré-natal e na primeira visita de puerpério é orientado a importância do retorno aos profissionais, orientações sobre amamentação são realizadas constantemente nos grupos de educação em saúde, atendimentos individuais e na semana da amamentação (semana educativa com propósito de estimular ao ato de amamentar).
A presente microintervenção baseia-se em um relato de experiência sobre a atuação do profissional médico em atividade sobre saúde sexual e reprodutiva com estudantes adolescentes em escolas de ensino fundamental e médio do município de Jaçanã-RN, vinculadas a UBS. Como objetivo de sensibilizar os adolescentes sobre a importância do planejamento reprodutivo e de fatores associados à sexualidade.
O planejamento da intervenção iniciou-se com reunião de equipe da unidade básica de saúde em conjunto com a equipe do NASF-AB. A metodologia escolhida foi roda de conversa com os estudantes em cada sala de aula, envolvendo os turnos matutino, vespertino e noturno, em datas diferentes agendadas com a direção e coordenação das escolas.
O espaço de escolas foi escolhido devido a inserção do Programa Saúde na Escola presente no município e em atuação pela equipe do NASF-AB do município. Entre as 12 ações básicas do programa, inclui-se saúde sexual e prevenção nas escolas; Educação para a saúde sexual; Saúde reprodutiva e prevenção de IST/HIV.
As escolas envolvidas foram a Escola Municipal Ana Clementina da Conceição (ensino fundamental II e EJA) com faixa etária de 12 a 40 anos e Escola Estadual Terezinha Carolino de Souza (ensino fundamental II e médio) com faixa etária de 14 a 25 anos. As temáticas abordadas basearam-se em métodos contraceptivos, gravidez na adolescência, direitos reprodutivos, planejamento familiar x natalidade, IST, violência doméstica e sexual e população LGBT.
As temáticas foram sorteadas de acordo com a faixa de idade prevalente em cada sala de aula e o profissional responsável. Sobre os métodos contraceptivos, foram levados os disponíveis na unidade de saúde, entre eles camisinha feminina e masculina, DIU, embalagem de hormônio injetável e em comprimido para demonstração e explicação de sua utilização e da função.
Em relação à temática de violência doméstica e sexual surgiram dúvidas dos escolares sobre como procurar auxílio, principais sinais de violência e acompanhamento. Essas orientações foram direcionadas a psicóloga do NASF-AB. O planejamento reprodutivo e as IST foram apresentados como orientação específica para as faixas etárias de maior interesse pela temática. Apresentou-se a classificação dos métodos (naturais, hormonais, de barreira e definitivos) e as IST de maior prevalência na comunidade, assim como a prevenção, tratamento e consequências de cada patologia.
A temática de gravidez na adolescência foi bem debatida entre os estudantes devido a prevalência do município. Foram destacados quais são os fatores que influenciavam o aumento do número de casos a cada ano e a dificuldade de utilização de métodos contraceptivos por vergonha, descuido ou falta de conhecimento. Entretanto o tema de população LGBT não houve muita aceitação entre os escolares, possivelmente pelo preconceito que ainda é comum no município, apesar dos casos de transexualidade presentes em uma das escolas.
Para os escolares de anos iniciais do fundamental II a temática de enfoque foram as modificações corporais e psicológicas ocorridas no processo de transição entre a infância e adolescência, com explicação dos hormônios atuantes, principais características de atuação dos mesmos no corpo humano e os medos, dúvidas e consequências da ausência de informação em saúde.
As dúvidas mais presentes envolveram os métodos anticoncepcionais, como, por exemplo, há interação entre antibiótico e anticonceptivo? O uso de antoncepcional por muito tempo pode causar infertilidade? Na troca de anticoncepcional pode engravidar? A pípula engorda? Aumenta os seios? Os anticoncepcionais causam trombose? Tais questões foram devidamente respondidas para o coletivo.
O aprendizado com esta metodologia enriqueceu contato com escolares, professores, direção, secretária de saúde e educação, contribuindo para o fortalecimento do processo de educação em saúde. A metodologia de roda de conversa oportunizou aos partícipes vivenciar diversas experiências no cotidiano escolar, no que concerne ao conteúdo e método de troca de conhecimento.
Como dificuldades na aplicação da intervenção, destacam-se a linguagem (espanhol), horários de aulas (organização com professores), falta de entrosamento de alguns estudantes, disponibilidade de dias da agenda médica para aplicação das atividades. Como potencialidades: aberturas das escolas através do PSE, disponibilidade da equipe do NASF-AB e da enfermeira para auxílio no desenvolvimento das rodas de conversa, multidisciplinaridade com participação de diferentes profissionais da saúde e planejamento com antecedência para o desenvolvimento das atividades.
Como ferramenta de diálogo compartilhado, a roda de conversa com os escolares sobre saúde sexual e reprodutiva impactou na conscientização da comunidade escolar sobre a importância de seus direitos reprodutivos, novos conhecimentos sobre as IST, identificação e utilização dos métodos contraceptivos e sua consequente eleição, esclarecimento de mitos e dúvidas sobre a gravidez, opção sexual e presença de violência no seio familiar. O trabalho necessita ser contínuo para garantir a sua eficácia, visto que ele pode ampliar qualidade de vida da população.
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