EDUCAÇÃO EM SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA
ESPECIALIZANDA: BETANIA ALBUQUERQUE PIRES ROCHA NEUMAN
ORIENTADOR: ISAAC ALENCAR PINTO
A Organização das Nações Unidas define saúde reprodutiva como um completo bemestar físico, mental e social, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo e as suas funções e processos, e não a mera ausência de doença ou enfermidade. Com o objetivo de promover a saúde sexual e reprodutiva dos usuários, a nossa unidade básica de saúde promove ações educativas sobre a decisão de ter filhos ou não tanto para homens quanto para mulheres que procuram a unidade espontaneamente.
Na Atenção Básica, a atuação dos profissionais de saúde no planejamento reprodutivo envolve três tipos de atividades: aconselhamento, atividades clínicas e atividades educativas. Tendo em vista que toda visita ao serviço de saúde é uma oportunidade para a prática de ações educativas, essas atividades devem ser desenvolvidas de forma integrada e constante.
Ao conversarmos com nossos pacientes, temos observado que muitos não conhecem os métodos anticoncepcionais existentes, ou não os tem utilizado consistentemente, o que tem resultado em um grande número de gestações não planejadas. Com o objetivo de melhor educar nossos usuários quanto a sua saúde reprodutiva, optamos por realizar uma microintervenção de caráter educativo. Partimos do princípio de que, quando uma pessoa tem a informação em saúde reprodutiva necessária, ela será capaz de tomar decisões mais adequadas para si mesmo e para sua família, e ainda se tornará disseminadora desse conhecimento, melhorando o nível de esclarecimento e saúde da população em geral.
Homens e mulheres têm o direito à informação e acesso a métodos seguros de planejamento familiar. Cada usuário deve ter o direito de escolher dentre os métodos aquele que seja mais apropriado ao seu caso, sempre tendo como prioridade que a mulher tenha condições de atravessar a gestação e o parto com segurança, com a melhor chance de ter um filho sadio.
Com o fim de assegurar o acesso à informação e o acesso aos diversos métodos anticoncepcionais, nossa unidade oferece os métodos contraceptivos básicos à população, como o preservativo masculino e os anticoncepcionais hormonais orais e injetáveis. Durante as consultas são abordados adequadamente tanto a necessidade quanto a maneira correta de utilizá-los.
Os usuários são informados quanto a existência de métodos anticoncepcionais reversíveis e definitivos. Os métodos reversíveis são os comportamentais, de barreira, dispositivos intrauterinos, hormonais e os de emergência. Já os métodos definitivos são os cirúrgicos: esterilização cirúrgica feminina e esterilização cirúrgica masculina. Os usuários que desejam um método de esterilização permanente são encaminhados aos serviços especializados para a realização da vasectomia ou laqueadura tubária.
Outras questões como a diversidade sexual, hábitos sexuais e prevenção de HIV/AIDS e outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) são discutidas conforme o caso de cada paciente. Nos casos de diagnóstico positivo para uma IST, o paciente é tratado ou encaminhado para outro serviço conforme a necessidade. A equipe faz a notificação dos casos de HIV e o paciente é encaminhado para o serviço de referência.
A saúde sexual dos pacientes é discutida durante as consultas médicas e de enfermagem. Não há grupos na nossa unidade básica especificamente para discussão de saúde sexual, porém esse tema é tratado nas consultas individuais.
Quanto ao pré-natal e puerpério, a equipe faz busca ativa de gestantes na comunidade, inclusive as adolescentes. É feito um levantamento constante das gestantes que moram na área de cobertura da equipe, tanto as que fazem prénatal na UBS, quanto as que utilizam o serviço privado. Há também um grande número de gestantes que não moram em áreas cobertas pela ESF, mas que fazem o pré-natal na UBS. Na primeira consulta de pré-natal é realizado o preenchimento da caderneta da gestante, a notificação da gestação e a orientação inicial da gestante, assim como a solicitação de todos os exames complementares recomendados.
Nesse primeiro contato com a gestante também é realizado o diagnóstico e tratamento de ISTs, orientações nutricionais e quanto ao uso de medicamentos na gestação. Na primeira consulta também são feitas orientações de hábitos de vida saudáveis, como atividade física adequada e abstinência do tabaco, álcool e drogas. A gestante é orientada quanto à importância de retornar às consultas regulares. Nas consultas subsequentes, abordamos as dúvidas que elas apresentem e orientamos quanto à amamentação.
Com o objetivo de oferecer assistência pré-natal e puerperal, nossa equipe está organizada de forma que cada membro tenha a sua função e todos procurem trabalhar de forma integrada. Assim, os agentes comunitários de saúde fazem a busca ativa das gestantes e puérperas residentes na área de cobertura da equipe; as técnicas de enfermagem realizam o preparo da paciente para as consultas, vacinações e aplicação de anticoncepcionais injetáveis nas pacientes que desejam anticoncepção; a enfermeira realiza consultas de pré-natal inicial e outras consultas subsequentes, sempre procurando intercalar com a consulta da médica. Assim tanto a médica quanto a enfermeira ficam conhecendo todas as gestantes e assim podem realizar um cuidado mais integrado.
Em relação ao atendimento pré-natal, temos encontrado algumas dificuldades, como o atraso na marcação de exames complementares, dificuldade em conseguir uma consulta em pré-natal de alto risco, e até mesmo o fato de termos um número maior de gestantes do que podemos agendar semanalmente.
Tendo em vista o número elevado de gestações não planejadas, e a fim de transformar essa realidade, nossa equipe decidiu implantar uma atividade de educação dos usuários quanto à saude sexual e reprodutiva, com o foco no uso de anticoncepcionais a fim de evitar a ocorrência de gestações não planejadas. Para isso, iniciamos uma busca ativa por usuários em idade reprodutiva que procuraram nossa UBS para qualquer outro fim. O objetivo dessa intervenção for o de informar os usuários sobre a existência de métodos contraceptivos e seu uso correto, a fim de reduzir o número de gestações não planejadas, assim como promover a educação em saúde sexual e reprodutiva em geral.
A intervenção consistiu em oferecer a todo paciente que procurasse a nossa UBS a oportunidade de obter orientações sobre saúde sexual e reprodutiva, assim como a oportunidade de obter algum método anticoncepcional de sua escolha, tanto os métodos disponíveis na UBS quanto os que necessitavam de encaminhamento a um especialista.
Em geral, os pacientes foram receptivos à intervenção e aproveitaram a oportunidade para tirar dúvidas e fazer uma decisão quanto ao método que gostariam de usar. Alguns ficaram surpresos, pois não foram à consulta com esse objetivo e não estavam preparados para discutir o assunto.
Os usuários apresentaram várias dúvidas quanto à saúde sexual e reprodutiva, incluindo a necessidade de consultas em sexologia, anticoncepção durante a amamentação, prevenção de DSTs, e os passos a serem seguidos para obtenção de esterilização cirúrgica, especialmente a laqueadura tubária.
Como resultado dessa microintervenção, pudemos observar que muitos usuários têm dúvidas quanto à saúde sexual e reprodutiva, mas deixam para discutir essas questões apenas quando a iniciativa é do profissional de saúde. Observamos também que muitos usuários não tem informações corretas em saúde reprodutiva e seriam beneficiados com a formação de grupos para discutir temas relacionados a essa área da saúde.
Durante a implantação dessa intervenção encontramos alguns desafios, como o fato de termos pouco tempo durante as consultas para fazermos um trabalho educativo mais detalhado. Essa dificuldade poderia ser enfrentada com a formação de grupos para educação em saúde sexual e reprodutiva, que se reuniriam periodicamente para atividades educativas e atendimentos clínicos relacionados a esse tópico, o que promoveria a saúde de forma mais consistente e duradoura.
A formação de um grupo de saúde reprodutiva seria, portanto, uma maneira de ampliar o alcance dessa microintervenção, promovendo o diálogo baseado em uma relação de confiança, visando proporcionar momentos para aconselhamento dos usuários, reflexão sobre as vulnerabilidades de cada um e trocas de experiências entre os usuários.
Ponto(s)