15 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: ACOLHIMENTO NA UNIDADE MISTA DE FELIPE CAMARÃO

ESPECIALIZANDA: RAQUEL TIEZZI FERNANDES

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

 

A Equipe 17 da Unidade Mista de Felipe Camarão, na qual fui inserida, ficou por mais de dois anos sem médico fixo que exercesse a Estratégia Saúde da Família (ESF). Os atendimentos médicos eram prestados por médicos contratados em uma medida mais emergencial de cooperativas, com uma alta rotatividade e que atendiam um número fixo de pacientes. Acessibilidade, longitudinalidade, integralidade e coordenação não eram abordados nesse tempo e foram se perdendo nas práticas do dia a dia dentro da equipe.

A agenda, em um sistema de marcação de consultas cuja função foi delegada pela enfermeira para uma Agente Comunitária de Saúde (ACS), funcionava de forma a acolher alguns indivíduos, mas longe de ser o ideal. O modelo era o de vagas, no qual fichas eram disponibilizadas sem critério, de acordo com o número de atendimentos a ser exercido pelo médico cooperado. 

Além desse modelo de agenda permitir as filas madrugadeiras, prejudiciais ao usuário, também favorecia práticas criminosas de comercialização de lugares na fila e venda de fichas. Além disso, colocar apenas um profissional da equipe como responsável pela agenda faz com que em situações de saída desse profissional do cargo gerem instabilidade em toda a equipe, já que os outros profissionais não estavam preparados para realizar essa função. Todos os profissionais deveriam estar capacitados e interessados em acolher e agendar o paciente. 

Ao iniciar minhas atividades na unidade, não consegui obter dentro da equipe as informações do território quanto a número de indivíduos, diabéticos, hipertensos, gestantes, crianças, usuários de medicamentos controlados, já que existem duas microáreas descobertas de ACS e mesmo as com agentes de saúde não me forneceram essa informação. Então um primeiro passo foi dado no sentido de modificar a agenda para experimentar e conhecer a demanda desses grupos específicos.  Turnos seriam destinados a hipertensos e diabéticos, a crianças, a gestantes e outros a demandas que não se encaixassem em nenhum desses. Para os grupos específicos, não seria necessário pegar uma ficha de atendimento, bastando solicitar à ACS responsável pela agenda a marcação. As demandas aleatórias se mantiveram no modelo de fichas. 

No entanto, apesar do agendamento e da distribuição de fichas, em todos os turnos algumas vagas são destinadas ao encaixe de pacientes naquele dia, para conseguir atender a demandas espontâneas e não enrijecer a agenda. Isso traz uma certa flexibilidade aos profissionais e aos usuários. 

Apesar disso, não existe ainda um treinamento e protocolo para a equipe fazer esse acolhimento e essa triagem. Ponto que ainda precisamos desenvolver. Em alguns casos os pacientes aparecem diretamente na minha porta e eu acabo traçando a conduta de encaixar na agenda do dia ou orientar para retornar em outro momento. Nem sempre há um profissional da equipe disponível para acolhimento na recepção

Paralelamente aos passos dados dentro da equipe, nós, profissionais do Mais Médicos da unidade, nos reunimos com enfermeiras e outros representantes de nossas equipes em uma grande reunião juntamente com nosso supervisor do programa para dialogarmos no sentido de padronizar as condutas das equipes, que até o momento se encontram heterogêneas, seguindo sua própria linha e seu próprio modelo de agenda. Nessa primeira reunião, os modelos de cada equipe foram expostos, troca de experiências e uma comissão foi criada para manter a discussão e solucionar questões apontadas além de criar protocolos para o acolhimento. 

Para padronizar o acolhimento e escuta qualificada na unidade, é de grande importância a educação continuada não apenas para os profissionais médicos, mas os outros profissionais das equipes. Ainda há divergências de condutas, divergências de experiências clínicas, que tendem a serem amenizadas quanto mais conhecimento é difundido para os profissionais.

Com um acolhimento planejado e padronizado, o usuário se beneficiaria com o fim das filas de madrugada para distribuição de fichas, teria mais acesso ao atendimento seja pelos médicos ou enfermeiros; as demandas reprimidas diminuiriam; além disso, os profissionais do acolhimento e da escuta qualificada teriam mais segurança e resolução em suas decisões, diminuindo também a sua sobrecarga. 

 

 

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