11 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

RELATO DE EXPERIÊNCIA

(Microintervenção 3)

 

 

TÍTULO: Planejamento familiar em adolescentes da Unidade Básica de Saúde Jaí Carvalho. Criação de grupos.

 

ESPECIALIZANDO: OSVALDO DE LA RIVERA GARCIA

 

ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO

 

COLABORADORES: enfermeira Gardênia Santana Moura Rocha

 

A adolescência é compreendida como um período de profundas transformações físicas e emocionais relacionadas diretamente ao contexto familiar e social, político, econômico e cultural em que estão inseridos esses jovens. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990, define adolescente como aquela pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Prevê a garantia de desenvolvimento integral assim como define os direitos a serem garantidos, com prioridade, pela família, poder público e sociedade em geral, dentre eles, o direito à vida, à liberdade e à saúde, cultura, lazer e esporte, à educação e profissionalização, com dignidade (BRASIL, 1990).

O adolescer é nomeado como um momento do processo de crescimento e desenvolvimento humano, em que observamos rápidas e substanciais mudanças na vida e nos corpos infantis (HEILBORN, 1999), abrangendo:

 

•          Acentuado crescimento pondo-estatural e o surgimento de novas formas físicas e estéticas;

•          Transformações no funcionamento orgânico, sobretudo no sexual e reprodutivo;

•          Construção de novas relações inter-subjetivas; manifestações peculiares de novos sentimentos, modos de pensar e se comportar, refletindo novas identidades e inserções no mundo interno e externo à família.

 

A vida adolescente e as necessidades em saúde relacionadas são, antes de mais nada, processos produzidos no âmbito das sociedades, definindo-se e modificando-se na interação com seus diversos componentes – econômicos, institucionais, político-éticos, culturais e físico-ambientais – em meio a dinâmicas de reprodução e criação.

De modo geral, porém, certos problemas têm sido uma constante na vida de parte significativa de segmentos adolescentes brasileiros (LEITE, 2009) como:

 

•          pobreza; violências; trabalho precoce; afastamento escolar;

•          conflitos familiares; sofrimentos psico-emocionais; uso de substâncias psicoativas;

•          atrasos no desenvolvimento psico-intelectual;

•          distúrbios ortopédicos, fonoaudiológicos, odontológicos, oftalmológicos; transtornos nutricionais e metabólicos;

•          doenças crônicas como tuberculose, hanseníase, diabetes, câncer;

•          violências corporais e sofrimentos no campo da sexualidade; exposição a doenças sexualmente transmissíveis e aids; maternidade/paternidade indesejada.

 

Todo adolescente traz consigo componentes genéticos e biológicos, conhecimentos e valores construídos ao longo de suas experiências de vida, além de uma estrutura psico-emocional e potencial para questionamento e criação. As marcas sociais dessa fase e, particularmente, dos exercícios da sexualidade e reprodução fundam-se nas origens e classes sociais, na história familiar e de socialização, nas relações de igualdade/desigualdade vividas, no partilhamento de preceitos de moralidade e hierarquizações, entre outros tantos processos que dão contorno a subjetividade humana (OLIVEIRA, 2011).

Adolescentes, diante da possibilidade de reprodução e de uma nova experimentação da sexualidade, requerem um amplo suporte dos setores sociais via políticas, recursos e processos de trabalho intersetoriais, interdisciplinares e participativos, em que se disponibilize uma atenção integral, específica e apropriada ao cuidado de suas vidas, mediante ações básicas encaminhadas em diferentes espaços, com a participação dos próprios adolescentes e das diversas áreas profissionais (SANTOS, 2011).

Na adolescência, o Planejamento Familiar estabelece um conjunto de ações que têm como finalidade contribuir para a saúde da mulher, permitindo às mulheres e também aos homens escolher quando querem ter filhos, o número de filhos que querem ter e o espaçamento entre o nascimento dos filhos, por isso não se trata apenas de indicar um método contraceptivo, mas da ação de uma equipe multiprofissional que oriente e acompanhe essa mulher considerando, qualidade de vida, condições sociais e culturais conforme seus princípios de necessidades, o planejamento familiar é um direito que assiste qualquer mulher sem distinção social.  (BORGES et al., 2016).

Nos últimos dez anos, iniciativas para ampliar o acesso a métodos contraceptivos modernos (não comportamentais) foram implementadas no Brasil. Incluem-se aí a incorporação dos contraceptivos hormonais injetáveis na Relação Nacional de Medicamentos (RENAME), a ampliação da distribuição de contraceptivos na rede pública de saúde e a inclusão de anticoncepcionais hormonais orais (ACO) e injetáveis no programa Farmácia Popular do Brasil, para fornecimento gratuito em unidades próprias ou subsidiado na rede comercial de drogarias. Resoluções da Agência Nacional de Saúde Suplementar introduziram a obrigatoriedade da cobertura de procedimentos em contracepção como dispositivo intrauterino (DIU) e esterilizações (BRASIL, 2008). Além disso, chegaram ao mercado nacional outros contraceptivos como o adesivo intradérmico (patch), o anel vaginal e o implante subcutâneo, métodos de média e longa duração. Esses últimos, conhecidos como LARC (long acting reversible contraceptives), vêm sendo promovidos especialmente entre adolescentes em vários países, por não dependerem do uso diário (BAHAMONDES, 2014).

Não é novidade que trabalhar com adolescentes é um desafio para o Sistema Único de Saúde, pois além das particularidades relativas ao processo de desenvolvimento biopsicossocial, eles frequentam pouco as unidades de saúde. Em geral, quando procuram o serviço, possuem queixas relacionadas a doenças sexualmente transmissíveis ou uma gravidez não planejada.

Seguindo os passos do planejamento reprodutivo na adolescência fizemos um trabalho em equipe com os 6 agentes comunitários, a enfermeira, a técnica de enfermagem, e o médico. Iniciando com uma dinâmica de interativa, em seguida feito leitura da pauta por tópico dos principais problemas em Planejamento Reprodutivo, Pré-Natal e Puerpério que afetam nossa comunidade.

Chegando à conclusão que é muito importante para a equipe descrever a Planejamento familiar em adolescentes da Unidade Básica de Saúde Jaí Carvalho. Para isso pretende-se criar grupos em cada comunidade para identificar os diferenciais do uso da contracepção e as principais fontes de obtenção dos métodos. Aumentando os conhecimentos neste tema.  Fazendo encontros uma vez por mês abordando os conteúdos de sexualidade, prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis e uso de Anticonceptivos.

A proposta foi criar um grupo voltado para a construção de um Projeto de Vida, no qual a equipe multiprofissional pudesse contribuir para que eles alcançassem seus próprios objetivos. Assim, surgem as dificuldades de comunicação, pois fazer-se próximos dos adolescentes e manter uma relação interpessoal terapêutica é difícil. É preciso modificar a forma de falar, no sentido de popularizar as palavras científicas, garantir e manter a atenção desse grupo que facilmente se dispersa nas brincadeiras. Manter a frequência também é outra tarefa difícil. E, para que eles sintam-se confortáveis em tirar suas dúvidas, é necessário não ter outros usuários adultos (que muitas vezes podiam ser conhecidos) por perto.

A principal dificuldade planteada pela equipe foi construir uma relação interpessoal terapêutica com muitos adolescentes e fugir da principal estratégia utilizada de simplesmente trabalhar com o jovem sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis. É possível essas experiências através de um diálogo aberto com o foco no próprio adolescente, onde o plano de fundo é o seu próprio projeto de vida e a partir dele construir os saberes que o levarão a seguir em frente, lidando com os aspectos da vida diária com mais maturidade e segurança, sabendo dizer não a tudo o que lhe impeça de crescer. Assim, ocorrerá o empoderamento do adolescente para que ele descida como vai se conduzir saudável, como encontrar ajuda quando estiver com dificuldades e que a equipe de saúde de sua comunidade é muito mais que apenas responsável pelo tratamento de doenças, mas é um aliado na promoção da saúde e da vida.

Os desafios para o desenvolvimento do tema exigem dos profissionais envolvidos muita sensibilidade, dinamismo e uma dose de imaginação e humor. Sendo as comunidades, na qual a estratégia vai a ser desenvolvida, caracterizada pela sua fragilidade socioeconômica, grande parte da população sobrevive da ajuda de programas sociais, o índice de analfabetismo é elevado, além de grande taxa de gravidez na adolescência. Muitas barreiras somam-se nessa proposta, pois é preciso o engajamento dos profissionais e o entendimento que os adolescentes não são “pacientes” ou apenas passiveis de intervenção, mas eles são os principais atores na sua construção de vida. Outro problema está relacionado com a disponibilidade de tempo dos estudantes que conduzem as discussões.

Nesta experiência, é muito importante enfrentar essas barreiras acolhendo principalmente de modo divertido esse medo e lembrando que todos passamos por essas etapas.  Toda a equipe da unidade se mostrou disponíveis mesmo fora dos encontros mensais, para consultas individuais ou mesmo para o planejamento familiar e a assistência do pré-natal, visto que temos duas adolescentes gravidas na área.

Conclui-se que a assistência em planejamento familiar é de primordial importância para a experiência de vida sexual e reprodutiva saudável, especialmente entre adolescentes que devido aos comportamentos de risco estão mais expostos às consequências negativas de práticas sexuais inseguras, sejam elas no âmbito biológico, psicológico ou social. Assim, faz-se necessário engajá-los precocemente nos serviços de planejamento familiar, antes da ocorrência e recorrência de gravidez, para que possam ter capacidade de prevenir uma indesejada, bem como, controlar sua fecundidade ao número de filhos que desejam. Neste sentido, fica clara a necessidade de explorar o tema, de modo que se possa entender e atender as necessidades dos jovens, assim como acompanhar e avaliar a evolução da assistência prestada e a repercussão a curto e a longo prazo na vida de eles.

 

Referências

BAHAMONDES L, BAHAMONDES MV. New and emerging contraceptives: a state-of-the-art review. Int J Womens Health, v.6, p. 221-234, 2014.

BORGES, ALV. et al. ERICA: Início da vida sexual e contracepção em adolescentes brasileiros. Rev Saúde Pública. 2016;50(supl 1):15s.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/L8069.htm. > acesso em: 14 junho. 2018.

BRASIL. Resolução Normativa RN nº 167, de 9 de janeiro de 2008 e anexos. Aprova o rol de procedimentos e eventos em saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar: Rio de Janeiro, 2008.

HEILBORN, M. L. (Org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1999. Cap. 2, p.77-153.

LEITE, V J. Sexualidade adolescente como direito? A visão de formuladores de políticas públicas. 2009. [Dissertação]. Instituto de Medicina Social. UERJ. Rio de Janeiro, 2009.

OLIVEIRA DC. Iniciação sexual na adolescência e sua repercussão na vida sexual e reprodutiva de jovens. [Dissertação]. Teresina: UFPi, 2011.

SANTOS, JC, FREITAS PM. Planejamento familiar na perspectiva do desenvolvimento. Cien Saude Colet,v. 16, n 3, p. 1813-1820, 2011.

 

 

 

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