TÍTULO: DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISÍVEIS EM ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS DA COMUNIDADE PARAISO, EM PAU DOS FERROS/RN.
ESPECIALIZANDO: HUMBERTO REINALDO LABRADOR RODRIGUEZ.
ORIENTADOR: MARIA BETÂNIA MORAIS DE PAIVA
A adolescência é um período marcado por mudanças biopsicossociais, nas quais os pares ganham importância e a sexualidade encontra-se mais exacerbada. Os adolescentes podem vivenciar práticas sexuais inseguras devido à falta de informações, pela ausência de comunicação com familiares, pela existência de tabus ou por medo de assumir uma relação sexual perante a família (CAMARGO, 2007).
É durante a adolescência que se verifica maior incidência de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST): atinge 25% dos jovens com menos de 25 anos; 65% dos casos de Síndrome da imunodeficiência Adquirida (SIDA) manifestam-se entre os 20 e 39 anos e refletem situações de aquisição de infecção por Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) durante a adolescência, período assintomático da doença- 10/15 anos. A incidência de DST na população em geral não variou muito ao longo dos últimos anos. Assistimos mesmo a uma recrudescência da gonorréia e da sífilis em todos os países desenvolvidos. As principais causas referidas são de ordem biológica, psíquica e social (RODRIGUES, 2010).
O período da adolescência é o momento em que os adolescentes sofrem modificações biopsicossociais e apresentam ao mesmo tempo necessidade de vivenciar novas experiências e, frente a esta realidade, podem estar vulneráveis às infecções por DST, (NERY et al, 2014), (TOLEDO et al, 2014).
O exercício da sexualidade na adolescência ainda continua sendo tratado por muitos como uma atividade de vulnerabilidade pelo uso inadequado de proteção, estando frequentemente associados às DST (BRANDÃO, 2009), consideradas como um dos problemas de saúde pública mundial (BRASIL, 2005).
Pensa-se que ações educativas podem cumprir um papel importante nesta fase da adolescência, uma vez que trazem informações e trocas de experiência acerca da atividade sexual salutar. Corrobora pesquisa (KIRBY, 2002) realizada há mais de uma década, a qual mostrou que programas de educação sexual, quando realizados por educadores empáticos com formação específica no tema, podem aumentar os conhecimentos sobre sexualidade, além de promover práticas de sexo seguro entre os adolescentes.
Ressalta-se que o Ministério da saúde recomenda que a educação para a saúde sexual e reprodutiva, bem como a prevenção de DST sejam trabalhadas com os estudantes das series finais do ensino fundamental e ensino médio (BRASIL, 2013).
As DST estão entre as cinco principais causas de procura por serviços de saúde e podem provocar complicações sérias, tais como: infertilidade, abortamento espontâneo, malformações congênitas, uretrites, salpingite; em longo prazo, infertilidade, gravidez ectópica, câncer de colo uterino e até a morte, se não são tratadas. São doenças de difícil detecção, pois muitas vezes as pessoas ficam assintomáticas ou com poucos sintomas visíveis (BRASIL, 2006).
Entre as DST mais frequentes na população adolescente e jovem encontra se a gonorreia, herpes genital, hepatite B e C, Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), sífilis e o Papiloma vírus Humano (BRASIL, 2006).
As infecções sexualmente transmissíveis afetam a saúde física, emocional e a qualidade de vida de homens e mulheres de todas as etnias sociais. Os adolescentes e adultos jovens são os mais acometidos, pois eles têm relações sexuais mais frequentemente com parceiros variados e ainda não estão cientes da importância de preveni-las com o uso da camisinha. Geralmente quanto mais jovem a pessoa tem sua primeira relação sexual, mais chance terá de contrair DST. O risco aumenta com o tempo á medida que aumenta o número de parceiros sexuais (BRASIL, 2017).
Diante dessa realidade, as DST são consideradas um problema de saúde no Brasil, com alta prevalência na população mais jovem, constituindo um grupo muito vulnerável. Observando o comportamento dessas enfermidades na minha Unidade Básica de Saúde (UBS), em conjunto com a enfermagem foi constada uma alta incidência desses agravos nas consultas, sendo uma queixa frequente entre as mulheres e homens jovens. A notificação de casos positivos de sífilis e HIV no primeiro semestre de este ano é maior do que os registros observados no ano passado em igual período. Desse modo, elegemos essa temática para realizar uma intervenção com o objetivo de explorar o nível de conhecimento que os adolescentes têm sobre as DST e influir positivamente neste grupo etário vulnerável para tentar reduzir estas doenças na comunidade.
Para desenvolver esta microintervenção foi realizada uma roda de conversa na escola José Fernandes de Melo, pertencente a nossa área de abrangência com um grupo de adolescentes para explorar o nível de conhecimento destes sobre DST e sua prevenção através da aplicação de um questionário anônimo. Com o apoio e a participação dos Agentes Comunitários de saúde (ACS), foi criado um grupo na comunidade que inclui adolescentes, homens e mulheres jovens de entre 15 e 25 anos que tinham disposição de participar de atividades coletivas. Esse grupo contará com a participação dos membros da UBS e os profissionais do Núcleo de Apoio á Saúde da família (NASF) e acontecerá na última sexta-feira do mês. Nessas reuniões serão abordadas e esclarecidas todas as dúvidas e inquietudes que tiveram sobre o tema e seriam explicados os riscos e consequências das DST e as formas de prevenção.
Primeiramente foi elaborado um questionário para cada participante responder de maneira individual, com dados sobre comportamento sexual e história de DST assim como conhecimento sobre as mesmas. O instrumento autoaplicado, possuía apenas o número de identificação e foi respondido anonimamente para evitar que a presença de outros causasse restrições e fornecimento de informações incorretas.
A primeira atividade coletiva foi realizada com data 22 de junho com a participação de 25 jovens e foi desenvolvida pelo médico da UBS e psicóloga do NASF. De inicio ocorreu a socialização do grupo e depois à aplicação do questionário que foi utilizado como instrumento para planejar atividades futuras a partir das respostas obtidas.
Neste primeiro encontro, falamos sobre o uso de métodos de contracepção de barreira masculinos e femininos para a prevenção das DST, bem como, a correta técnica de uso, vantagens, desvantagens e índice de segurança deles. A atividade foi participativa, o médico deu uma explicação detalhada dos métodos e a turma teve a oportunidade de perguntar, intervir, dar suas opiniões, trocar experiências, etc. Foram realizadas simulações de como colocar as camisinhas masculinas e femininas nas maquetas, experiência muito engraçada, além de instrutiva e contribuiu ainda mais para a socialização do grupo, que é muito importante quando trata se de questões sensíveis como sexualidade, sexo, etc. A psicóloga forneceu dados estatísticos obtidos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre o comportamento das DST no país e município e foi acordado para a próxima atividade de grupo abordar a sífilis como um tópico. Também foi acordado que cada membro do grupo tentaria trazer seu parceiro sexual para a próxima atividade no mês de julho e, se possível, outro membro da sua família que tivesse uma vida sexual ativa.
O resultado apresentado no questionário revelou dados significativos quanto ao nível de conhecimentos de adolescentes e jovens sobre DST. Entre as doenças mais referidas estão: Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), herpes, gonorreia, Vírus do Papiloma Humano (HPV), sífilis, hepatites virais. O nível de conhecimento sobre as formas de contágio foi considerado baixo o que demonstra falta de comunicação com a família sobre estes temas e desconhecimento sobre os métodos de prevenção. Uma pequena porcentagem da turma participante, sobretudo os adolescentes, referiu o uso de anticoncepcional como método preventivo contra estas doenças.
Com esta microintervenção espera-se capacitar o maior número de adolescentes e jovens sobre a sexualidade responsável e aumentar os conhecimentos sobre as DST, diminuindo assim, a incidência na comunidade. Para as próximas atividades espera se uma maior participação de jovens atraídos por aqueles que participaram na primeira reunião. Espera se também aumentar o compromisso da escola e da família na preparação de jovens e adolescentes na questão de saúde sexual.
Uma das dificuldades apresentadas na realização desta microintervenção foi com relação à estrutura física de nossa UBS que não tem um local adequado com capacidade suficiente para um grande número de participantes.
Como potencialidades destaca-se a parceria estabelecida com a escola, cenário desta microintervenção, para abordagem e enfrentamento de situações identificadas no território. Trata-se de uma escola pública que acolhe alunos de variadas classes sociais, possibilitando que ação educativa seja um instrumento de transformação da realidade. Desse modo, os resultados iniciais atenderam nossas expectativas, uma vez que atraiu o interesse de jovens e adolescentes por este tema, além de possibilitar maior aproximação com a equipe de saúde na perspectiva de fortalecer vínculos entre equipe, população e escola.
Outro aspecto relevante nesse contexto, diz respeito à importância da promoção da saúde de adolescentes por meio de informações, atividades em escolas que integrem também as famílias, união entre os serviços de saúde e os professores, com o objetivo de proporcionar o exercício da autonomia e empoderamento de adolescentes no que se refere às decisões da prática sexual segura. Para tanto, o conhecimento sobre DST deve ser incentivado e compartilhado entre os adolescentes, bem como, campanhas voltadas à prevenção destas doenças devem ser conduzidas para promover a saúde.
O acesso dos jovens a informações sobre prevenção de DST é uma preocupação genuína que deve envolver o governo, a escola e a família.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Elaine Reis. Desafios da contracepção juvenil: interseções entre gênero, sexualidade e saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 1063-1071, Aug. 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de sugestões de atividades semana saúde na escola. Tema: Sexualidade e saúde reprodutiva. Brasília (DF), Fevereiro 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. HIV/AIDS, hepatites e outras DST / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 196 p. il. – (Cadernos de Atenção Básica, n. 18) (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e AIDS. Brasília: Ministério da Saúde. 2005.
BRASIL. UNA-SUS/UFMA Universidade Federal de Maranhão. Doenças transmissíveis. Caderno de Saúde da Família, no. 11. São Luis EDUFMA, 2017.
CAMARGO, B.V.; BOTELHO, L.J. AIDS, sexualidade e atitudes de adolescentes sobre proteção contra o HIV. Rev. Saúde Pública,v. 41 n.1,p. 61-8 , 2007.
CARRET, Maria Laura Vidal et al . Sintomas de doenças sexualmente transmissíveis em adultos: prevalência e fatores de risco. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 76-84, Feb. 2004.
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