RELATO DE EXPERIÊNCIA VI
TÍTULO: O DESAFIO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS NA UBS: RELATO DE EXPERIÊNCIA
ESPECIALIZANDO: RAPHAEL ALMEIDA SANTIAGO DE ARAUJO
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
O relato de experiência em questão constitui um breve compilado das práticas e estratégias utilizadas pela UBS no controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Responsável pela elaboração de um plano de saúde local e pela execução de ações de vigilância em saúde, a Equipe de Saúde da Família tem papel de destaque no controle e na redução da morbimortalidade das DCNT.
Nesse sentido, através de diversas reuniões em equipe, foi possível delinear algumas limitações e potencialidades no que tange às ações de promoção da saúde e prevenção de DCNT. Sob a perspectiva da microintervenção, segue uma breve discussão acerca dos pontos levantados sobre os casos de hipertensão arterial, diabetes mellitus e obesidade.
A equipe realiza consultas para pacientes com hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus com um tempo médio de espera de sete dias para a primeira consulta. Em tais casos, o acompanhamento é realizado através do preenchimento de uma ficha de cadastro que conta com os dados do paciente. Além disso, tendo em vista a estratificação dos casos e os elementos considerados na gestão do cuidado, há a programação de consultas e exames pela equipe.
No entanto, a UBS não conta com um sistema de coordenação da fila de espera e acompanhamento dos usuários que necessitam de consultas e exames em outros pontos de atenção, tampouco possui um registro dos casos de maior risco/gravidade também encaminhados para outros pontos da Rede de Atenção à Saúde.
Pode-se observar, nesse sentido, uma falha da coordenação do cuidado feito pela UBS em relação ao monitoramento de usuários especiais. A manutenção de registros dessa natureza poderia contribuir para a elaboração de práticas que visassem melhor auxiliar e orientar os usuários da localidade, bem como constituir um espelho de ações da UBS, tendo em vista a sua extensão e limitação.
Em relação aos usuários hipertensos, há uma avaliação acerca da existência de comorbidades e fatores de risco cardiovascular, sendo realizado o acompanhamento de usuários com doença cardíaca. Todavia, não há um registro específico para os usuários em situação de maior risco/gravidade e tampouco existe um protocolo para estratificação de risco dos hipertensos.
Os usuários com diabetes mellitus, por sua vez, dispõem de um registro para aqueles com maior risco/gravidade. Contudo, a falta de capacitação da equipe e a ausência de oftalmoscópio na Unidade impedem, respectivamente, a realização periódica dos exames de pé diabético e de fundo de olho.
Pacientes diabéticos devem realizar anualmente o exame do pé diabético – uma vez que ele permite a verificação de alterações na sensibilidade, pisada e circulação do pé – a fim de prevenir casos de gangrena, úlcera e amputação tão recorrentes na população brasileira. Sobremaneira, o exame de fundo de olho tem extrema importância na prevenção da cegueira ocasionada pela diabetes.
Além do impacto na saúde, tais agravos podem comprometer as condições socioeconômicas dos usuários, uma vez que estão diretamente relacionados à possibilidade de realização das atividades de vida cotidiana. Dessa forma, faz-se necessária uma intervenção pública que facilite a capacitação dos profissionais da Unidade, bem como a aquisição dos materiais necessários à efetivação dos exames básicos.
A obesidade é uma doença crônica de caráter multifatorial que pode atuar como fator de risco para doenças cardiovasculares e diabetes (BRASIL, 2013a). Dessa forma, cabe à UBS – no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) – acolher e orientar o usuário obeso, bem como desenvolver ações e práticas de prevenção à obesidade de modo a conscientizar a população da localidade em relação às suas causas, riscos e implicações.
A nível da APS, a atenção à pessoa com obesidade se inicia pela avaliação antropométrica (peso e altura) dos usuários atendidos. Após a identificação daqueles com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 30 kg/m² – o que caracteriza obesidade – a equipe passa a realizar seu acompanhamento na UBS. Assim, são promovidas ações voltadas para a promoção de um estilo de vida mais saudável, tais como: a prática de atividade física e a manutenção de uma alimentação saudável (BRASIL, 2013b).
Caso haja necessidade, é acionada a Equipe de Apoio Matricial (NASF e outros) a fim de apoiar o acompanhamento do usuário obeso. Além disso, há encaminhamento dos casos mais graves para o serviço de atendimento especializado. Apesar da estruturação de uma rede de apoio promissora ao usuário com obesidade, a Unidade não conta com a oferta de um grupo de educação em saúde para pessoas que querem perder peso. Assim, apesar de fornecer uma porta de entrada para o cuidado e controle da obesidade, não fornece meios para a manutenção de uma estratégia de ação mais integral.
Diante da microintervenção realizada, concluímos que a atuação da Unidade Básica de Saúde no controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis conta com inúmeros desafios para efetivação de práticas e estratégicas de prevenção e controle da morbimortalidade atrelada às DCNT. Desse modo, foram constatadas algumas falhas em termos gestão e registro do atendimento aos usuários, bem como limitações imputadas à capacitação da Equipe de Saúde da Família na integralização das ações voltadas à comunidade. Todavia, é válido ressaltar as estratégias positivas supracitadas, as quais, dentro das possibilidades de alcance, preenchem um espectro de atuação promissor em suas qualidades, com pertinência e relevância.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36).
BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013b. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37).
Ponto(s)