CONHECENDO A REDE DA SAÚDE MENTAL
AMANDA PEREIRA TRIANI
ROMANNINY HEVILLYN SILVA COSTA ALMINO
Trabalhar em Saúde Mental é um desafio, desde a formação médica até a prática clínica. É uma área ainda revestida de preconceitos tanto para usuários, quanto para profissionais, além de existir dificuldades no fluxo dentro da própria rede.
Nesta microintervenção construí um instrumento para acompanhar os usuários em sofrimento psíquico e/ou em uso de psicotrópicos e visitei o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II do município de Boa Vista – RR.
Na unidade em que trabalho não há qualquer método sistematizado para acompanhamento dos pacientes com demanda de saúde mental. Após refletir sobre os critérios que o PMAQ – AB, Programa de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica, no tocante a este acompanhamento, foi construído um instrumento a fim de verificar informações como medicações em uso, posologia, ajustes de dose, acompanhamento psicológico e psiquiátrico e se o paciente faz uso de álcool e outras drogas, como pode ser visto abaixo.
Data |
Nome |
Idade |
CID 10 |
Medicação e posologia |
Data do último ajuste de dose |
Data da última consulta com psiquiatra |
Acompanhamento psicológico? (Sim ou Não) |
Usuário de álcool e outras drogras? (Sim ou Não) |
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Infelizmente, o instrumento acima não pôde ser discutido com a equipe pela dificuldade em realizar reunião, em virtude do surto de sarampo no estado, onde enfermeiro e agentes comunitários de saúde -ACS tem sidos, frequentemente ,deslocados da Unidade Básica de Saúde-UBS.
Assim que possível o instrumento será discutido em equipe e detalhes como forma de arquivamento, acesso ao uso e outros serão definidos.
Outra dificuldade que enfrentamos é a falta de informações da equipe a respeito da nossa comunidade, pois ainda não temos um mapeamento epidemiológico do nosso território, novamente devido ao surto de sarampo. Os pacientes que fazem uso de psicotrópicos costumam vir à Unidade Básica de Saúde apenas para renovar a receita e tratar outros problemas de saúde, relatam já terem acompanhamento especializado e, por vezes, até evitam falar de sua saúde mental.
Quando recebo pacientes com sintomas sugestivos de sofrimento psíquico, como ansiedade, depressão, hiperatividade, autismo e outros, faço encaminhamento para o CAPS ou ambulatórios específicos na atenção secundária, porém não há contra referência para acompanhamento conjunto.
Certa vez, atendi uma família de imigrantes venezuelanos, cuja filha mais velha tinha sinais clássicos de autismo. A jovem tinha 12 anos, não estabelecia contato visual, fazia movimentos repetitivos com o pedaço de papel em suas mãos e possuía atraso de linguagem, além de não controlar os esfíncteres. A mãe relatou que o diagnóstico já havia sido realizado na Venezuela, mas não houve oportunidade de acompanhamento. A encaminhei para o ambulatório de psiquiatria infantil, que funciona no único hospital pediátrico da cidade. Porém não houve contra referência e nem mesmo sabemos se a família continua na cidade.
Desconhecia o fato do CAPS funcionar em sistema de matriciamento e realizei uma visita ao CAPS II. Fui recebida pela diretora e ela me informou que a relação de matriciamento com as UBS está paralisada, temporariamente, em virtude do surto de sarampo. Informou-me que o centro funciona por demanda espontânea ou via encaminhamento e que o usuário é acolhido pelo profissional técnico do dia.
Na equipe existe profissionais como terapeuta ocupacional, enfermeiro, psicólogo, psiquiatra e assistente social. No fim da visita mostrou-me a estrutura do prédio que conta com quartos de repouso para os pacientes que ficam no CAPS durante o dia, farmácia, refeitório, copa, cozinha, consultórios, sala de procedimentos e salas para terapia em grupo. Fiquei surpresa positivamente com a estrutura do local e com a pluralidade da equipe multiprofissional.
Avalio como positiva a experiência de ter me aprofundado um pouco mais sobre saúde mental e conhecer um ponto tão importante da rede de atenção psicossocial.
É preciso haver um maior empenho tanto da gestão quando dos profissionais em saúde para melhorarmos o fluxo de referência e contra referência e assim fortalecer as relações da rede.
Ponto(s)