ORGANIZAÇÃO E FLUXO DE ATENDIMENTO DA SAÚDE MENTAL EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
ESPECIALIZANDO: FARLEY SOARES CANTIDIO
ORIENTADOR: JÂNIO RODRIGUES REGO
A saúde mental constitui um eixo de assistência na Atenção Primária à Saúde que precisa constantemente ser aprimorado, porque lida com grupos de usuários que demandam acompanhamento crônico, consultas mensais e reavaliações periódicas. Todavia, antes de estabelecer melhorias e otimização dos serviços, é importante que os profissionais conheçam a realidade local, as fragilidades e os aspectos positivos relacionados à linha de cuidado, além da articulação de sua Unidade Básica de Saúde (UBS), com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
A partir dessa necessidade de entender sobre o modelo organizado para o atendimento ao usuário com transtorno mental, a equipe da UBS Dalmo Silva Feitosa realizou uma reunião para verificar se a unidade cumpria os requisitos mínimos do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade de Atenção (PMAQ). Após responder aos principais questionamentos, os seguintes problemas foram identificados:
Os resultados identificados foram considerados preocupantes, pelo fato dos profissionais desconhecerem o total de indivíduos com doença mental e o número de usuários de álcool e outras drogas no território adscrito. Além disso, a falta desse registro dificultava o acesso da população aos serviços de saúde e não garantia uma agenda programada de atendimento. Durante essa fase, a equipe discutiu que, para solucionar os principais itens dessa problemática, seria essencial a identificação de todas as regiões do território em áreas de risco (pacientes em uso de psicotrópicos e aqueles com dependência química).
Assim, com o intuito de melhorar a assistência, decidiu-se pela implantação do livro de registros de atendimento em saúde mental, agenda com marcação de consultas de forma programada e acompanhamento da rotina dos pacientes que necessitam de consulta médica e renovação de receitas. Outra intervenção proposta foi o uso de prontuário físico e eletrônico desses usuários, para o controle dos pacientes faltosos, os que possuem episódios de agudização e com dificuldade de acesso à UBS. A aproximação com o núcleo familiar foi um aspecto amplamente valorizado, para a construção de um espaço de cuidado para as famílias, desde o convite para estarem na instituição de saúde, por meio do efetivo e cotidiano investimento nas relações entre os envolvidos, até a visita domiciliar para o reconhecimento de fatores que possam estar direta e indiretamente dificultando a inserção social e o sucesso terapêutico.
Para efetivação das estratégias delineadas, a equipe resolveu começar com alguns dos pacientes que, no momento, necessitavam de uma maior atenção. Durante essa etapa, os profissionais trouxeram à discussão um caso de uma usuária de 32 anos que, recentemente, havia sido tomada por um sentimento de tristeza, anedonia e isolamento, impossibilitando-a de exercer as atividades no ambiente de trabalho. Como uma tentativa de permitir o acesso da usuária à UBS, decidiu-se pela realização de uma visita domiciliar, que fora negada pela paciente no primeiro instante, embora ela tivesse concordado em comparecer à UBS para o atendimento agendado. Neste ínterim, a fim de obter melhores resultados com o caso apresentado, houve a articulação com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), solicitando a presença de uma psicóloga para abordagem multiprofissional durante o atendimento à paciente com transtorno depressivo.
Após o atendimento inicial, seria estabelecido o plano terapêutico, com o agendamento do retorno programado e os devidos encaminhamentos, caso necessário, para o Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II). A experiência relatada serviu para o conhecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município de Boa Vista, organizada com os serviços que incluem o CAPS II, CAPS III, CAPS AD III e leitos psiquiátricos no Hospital Geral de Roraima, com a articulação da Atenção Primária à Saúde, NASF e serviço de urgência e emergência do SAMU, para os casos de crise aguda ou surto psicótico.
As experiências com a saúde mental permitiram a compreensão da rede, os procedimentos de referência e contra referência e os caminhos possíveis do paciente conforme suas necessidades. Durante a realização das atividades, alguns obstáculos foram encontrados, como a dificuldade em trabalhar com os usuários de álcool e drogas que dificilmente procuram ajuda espontaneamente, a depender do nível de dependência e do reconhecimento de que a recuperação depende de outras pessoas e setores.
Evidentemente, a família representa o elo entre o indivíduo, a Atenção Primária à Saúde e o convívio social e, sem ajuda dos familiares, o paciente poder-se-ia sentir sem o apoio e confiança. Para contribuir no reforço terapêutico que essas relações podem trazer, destacam-se as reuniões individuais entre família e profissionais para abertura de espaço das reflexões. O desafio e as expectativas com a microintervenção são a de permitir encontros periódicos sobre saúde mental, organização de grupos que permitam uma aliança que contribua tanto no cuidado ao paciente quanto na ajuda de seus próprios familiares.
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