DESAFIOS DA SAÚDE MENTAL NA PRÁTICA MÉDICA
ESPECIALIZANDO: FRANCISCO NOLACIO DE AQUINO FILHO
ORIENTADOR: ISAAC ALENCAR PINTO
A maioria da população recebe atendimento por meio do SUS através da UBS. Muitos destes atendimentos estão relacionados à casos de saúde mental. Nesse sentido, destacamos a importância de práticas médicas nessa área devido a sua complexidade, grau de ocorrência e danos provocados na sociedade.
Durante a análise deste módulo, elaboramos uma planilha conjuntamente com os agentes de saúde e técnico de enfermagem. Nessa planilha, estão contidos alguns dados que a partir de então deverão fazer parte das visitas domiciliares dos agentes para efetivar atualizações, bem como estar presente no prontuário. Nas planilhas estão contidas informações pessoais, tais como: nome completo, idade, sexo, ocupação, escolaridade, uso de drogas licitas ou ilícitas, uso de medicações, início do tratamento, acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra, patologia prévia, diagnóstico atual, presença de suporte familiar, estado civil e internações psiquiátricas. Dessa forma, teremos dados dos pacientes do território com transtornos mentais, tanto os que usam medicações quanto os que não fazem tratamento medicamentoso ou psicológico, mas que ingerem algum psicotrópico.
Isso é importante pelo fato que em nossa comunidade os pacientes têm hábitos de usar medicações dos vizinhos quando sentem que estão “sem sono” ou muitas vezes escutam que o vizinho ou algum familiar está usando um medicamento psicotrópico, e o paciente relata ter sintomas semelhantes e acaba por vir solicitar receituário auto declarando diagnóstico.
No município de Dr. Severiano/RN, no qual a nossa equipe de saúde atua, há três unidades de saúde básicas, sendo que atuamos na zona rural, enquanto outra equipe participa do NASF na cidade, dando cobertura para todas as outras UBS existentes. O NASF é constituído por um psicólogo, um fonoaudiólogo e um nutricionista. Nossa UBS conta com o grupo de apoio do NASF, sendo o atendimento psicológico por meio da procura direta do paciente ou através do encaminhamento pelo médico da unidade.
O atendimento pela psicóloga abrange os casos menos graves, tais como depressão leve, ansiedade crônica, entre outros agravos frequentes. Os casos mais complexos e graves, além do atendimento psicológico, ocorrem nos serviços especializados com psiquiatra, por meio de fichas de referências preenchidas pelo médico, as quais são encaminhadas à secretaria municipal de saúde e a partir de então é agendado o atendimento de acordo com a pactuação do município.
Em relação à contra referência, essa ocorre de forma precária apenas com informações do próprio paciente ou familiar, ocasionando perda da continuidade do tratamento, visto que o paciente não entende muitas vezes o que foi proferido pelo médico especialista durante a consulta; assim, fica notável lacunas em relação ao tempo de tratamento, diagnóstico do transtorno mental e a medicação usada. A comunicação com tais serviços ocorre por intermédio do sistema SISREG, ligação telefônica ou por e-mail.
O CAPS situa-se na cidade-pólo da região, Pau dos Ferros-RN, que conta com algumas especialidades, entre essas, a psiquiatra, o psicólogo, o terapeuta ocupacional, os enfermeiros e os técnicos de enfermagem. O encaminhamento para o CAPS ocorre por meio do psicólogo ou do psiquiatra e os pacientes frequentam em média três vezes por semana a unidade.
Durantes os atendimentos, observamos alguns pacientes com transtornos metais e escolhemos um, J.A., do sexo masculino: pardo, agricultor, casado, sem patologias previas, nega uso de álcool ou drogas e que desconhece antecedentes familiares de doenças mentais. O paciente buscou atendimento inicialmente relatando fobias de forma geral, sensação de medo e agonia iniciada há alguns anos. Afirmou também que já sentiu dormência em mãos, sensação que o coração estava acelerado e morte iminente. Refere ter iniciado um tratamento medicamentoso anterior, mas não lembrou o nome da medicação, devido ao medo de ficar dependente e por ter melhorado o quadro, abandonou o medicamento após poucos meses.
Durante a consulta, ele relata ter passado por um médico com os mesmos sintomas há um mês e iniciou o tratamento com paroxetina 20mg e clonazepam 0,5mg, e nesta consulta, o paciente veio ao atendimento para a renovação de receituário. Durante o atendimento, disse estar se sentindo “fraco”, apresentava impotência sexual juntamente com os sintomas referidos. A partir de então, iniciamos o plano terapêutico, começando com uma breve introdução do quadro, explicando as possíveis causas e os efeitos que o paciente pode manifestar.
Incentivamos o paciente a não abandonar a medicação por conta própria e dar continuidade com o tratamento. O Encaminhamos ao NASF para a abordagem psicológica, além incentivar a prática de atividades físicas, como um ótimo resultado no combate ao sobrepeso presente nele, melhorando a sua resistência cardiovascular e o nível de ansiedade. Outra abordagem terapêutica recomendada ao longo da consulta foi o abandono do benzodiazepínico, devido aos seus efeitos adversos provocados pelo o uso continuo a longo prazo, tais como insônia e depressão, e o substituindo pelo fitoterápico ansiolítico Calman® para melhorar o sono, juntamente com fitoterápico androgênico tribulus terrestre na dose de 1g dia.
Após um período de aproximadamente um mês, o paciente retorna para a consulta, mas ainda não tinha passado na psicóloga. No entanto, apresentou melhora de todo o quadro anteriormente descrito, principalmente na atividade sexual e controle da ansiedade, uma vez que iniciou a prática de atividades físicas, mais especificamente a prática do futebol toda semana com os colegas; ele explicou que prefere jogar bola ao invés de caminhar.
Todas essas mudanças foram alcançadas após um período curto de tempo, e reforçamos que o tempo médio de tratamento medicamentoso para o transtorno que ele apresentava (ansiedade crônica) é por volta de um ano. Já as atividades físicas que ajudam na melhora da qualidade de vida devem ser mantidas ad aeternum, e foi recomendado a adoção de hábitos saudáveis alimentares, tendo ele confirmado a melhora clínica após mudanças simples. Houve então, a renovação do receituário com a troca do Paroxetina (20mg) por Sertralina (50mg), e o paciente mencionou ter feito o abandono do benzodiazepínico sem efeito colateral.
Contudo, após pôr em prática o que se foi debatido, é fato que temos uma demanda muito maior do que o número de profissionais envolvidos e a abordagem em saúde mental requer um período mais extenso durante toda a anamnese, já que que muitas doenças orgânicas simulam quadros semelhantes aos que os pacientes trazem, necessitando desta forma uma capacitação frequente de toda a equipe e um maior número de profissionais, ou uma agenda compatível com a qualidade do atendimento, caso contrário, não ocorrera melhora no quadro geral dos pacientes nem dos profissionais.
A construção da ficha espelho não trouxe grandes desafios, uma vez que os agentes da equipe já tinham trabalhado com instrumento semelhante, apesar de haver falta de consenso ao preenchimento dela, pois eles justificam que já trabalharam demais, ficando um clima desconfortável após a discussão desse assunto.
Outro desafio presente desde o início das atividades nesta unidade é com relação ao uso dos benzodiazepínicos, pois há uma população grande que faz uso e um boa parte não quer fazer o desmame. Apesar de com muito esforço termos conseguido algum êxito em algumas abordagens, porém, existem pacientes que não acatam as recomendações por acreditarem que estão bem, logo não precisam fazer mudanças na medicação ou até mesmo cessar o uso.
Esperamos que com algumas alterações pontuais possamos mudar crenças limitantes que os pacientes e familiares trazem e assim respeitar o período de tratamento e a dose certa. O importante é levar uma abordagem não apenas medicamentosa para esses transtornos, visto que o tratamento do paciente com transtorno mental vai muito além, mas também a necessidade da ajuda tanto da família quanto de todos os profissionais envolvidos.
Ponto(s)