DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÂO DO ACOLHIMENTO
ESPECIALIZANDO: FRANCISCO NOLACIO DE AQUINO FILHO
ORIENTADOR: ISAAC ALENCAR PINTO
Após análise das propostas presentes neste modulo da especialização e levando em consideração a possibilidade de realizar a intervenção, optamos pelo aperfeiçoamento da equipe para implantar o acolhimento. Devemos inicialmente entender a dimensão do acolher que significa “dar acolhimento; hospedar; receber; atender; dar crédito a; dar ouvidos a; aceitar; admitir” (FERREIRA, 1999). O Ministério da Saúde criou, em 2003, a Política Nacional de Humanização (PNH), apresentando como proposta assegurar à atenção integral à população e ampliando as condições de direito e cidadania, além de ser instrumento de transformação da forma de produzir e prestar serviços à população (HECKERT, 2009).
O acolhimento possibilita a criação de uma rede de encontros, ajudando na formação do vínculo. Como ação técnico-assistencial, busca garantir ao usuário direito ao acesso universal, buscando ouvir todos que procuram o serviço, assumindo uma postura para acolher, escutar e dar respostas. Logo, requer responsabilização e resolubilidade orientando o que poderá ser feito no momento e quando for necessário orientar o acesso à outros serviços (BRASIL, 2003).
Acolher tem o foco naquele que usa o serviço e não na sua doença; assim, muda-se a percepção do cuidado do usuário, que era centrada no medico, e passa a ser focada na equipe multiprofissional. Desse modo, é necessário que o profissional tenha capacitação técnica e mudança na abordagem ao usuário, e mais comprometimento com o processo saúde/doença da população (SANTOS, 2007).
Apesar dos avanços obtidos ao longo dos anos da existência do SUS e com a criação da Estratégia em Saúde da Família (ESF), o acolhimento surge como ponte na resolução de problemas decorrentes do modo de organização dos serviços. Para o acolhimento ocorrer, não se pressupõe hora ou profissional específico para realizá-lo. A fundamentação do acolhimento, desse modo, se diferencia da triagem, visto que proporciona aos usuários uma resposta imediata a sua demanda no momento que procura o serviço. Logo, por ser um tema fundamental no cotidiano das UBS, esse tema deve ser abordado; ele é importante como ponto chave no planejamento do trabalho das equipes de saúde, pois traz benefícios, organização e eficácia para os profissionais e usuários (MOTA, 2009).
Assim, essa microintervenção teve como proposta oferecer um aperfeiçoamento à equipe. Reunimos os agentes comunitários de saúde, duas auxiliares de enfermagem e a recepcionista (a enfermeira não pode comparecer nessa reunião devido a incompatibilidade na agenda), e na ocasião, abordamos o conhecimento sobre o acolhimento e suas diretrizes com material de apoio baseado no AVASUS e no PNH, entre eles, exemplos que estão presentes nas atividades do AVASUS, as quais, por sua vez, com o esquema de vídeo, deixou a reunião mais dinâmica. Tivemos também a elaboração do plano de atuação do fluxograma de atendimento ao usuário já existente na unidade, definindo que a escuta inicial será feita na recepção pela auxiliar de enfermagem, visto que a enfermeira participa da gestão, mas não está presente todos os dias no atendimento. O ideal seria contar com a presença da enfermagem, facilitando assim o fluxograma; no entanto, em reuniões posteriores, tentaremos abordar esse assunto e avaliar como poderá ser resolvido essa lacuna que foge da competência médica.
Outro ponto importante que abordamos é a adequação logística da UBS, potencializando a utilização de todos os ambientes e promovendo a sua sinalização, segundo o fluxo do usuário definido previamente; por exemplo, possuímos uma área de reunião na UBS que poderá ser usada para atividades de inclusão no acolhimento. Nesse sentido, foi estabelecido a necessidade do uso do protocolo de classificação de risco, que apesar de já termos essa ferramenta exposta, ela não é colocada em prática. Um dos pontos que os profissionais alegam é que o fluxo em alguns dias na unidade é pequeno; entretanto, foi acordado que devemos seguir o que for pré-estabelecido para gerar harmonia e efetivar o planejado.
Na reunião, discutimos sobre os pontos favoráveis à implantação do acolhimento como a não exclusão do paciente quando busca o atendimento. Como instrumento, propomos uma nova ficha de atendimento mais completa, com várias variáveis epidemiológica do paciente, podendo essa ser preenchida por todos os profissionais, promovendo desse modo a escuta, mesmo que o paciente não seja atendido naquele momento pelo médico.
Tomemos como exemplo uma situação corriqueira que ocorre em nossa comunidade, quando estamos de saída do expediente da manhã e chega um paciente solicitando visita domiciliar devido a febre de um parente que mora na mesma casa. Nesse caso, poderão ser manejados melhor a partir do acolhimento, pois os profissionais já estão cansados, e além do mais, o paciente não necessita de um atendimento imediato, ficando a cargo da recepção explicar e acolher de forma que os usuários entendam a lógica, postergando aquela queixa para o período da tarde, evitando atrasos na agenda pré-estabelecida.
Com o objetivo da implantação da intervenção serão realizadas reuniões quinzenais envolvendo todos os profissionais da ESF e demais funcionários da UBS para discussões sobre as possíveis melhorias que possam ser desenvolvidas. Usaremos para promover o debate, nestas reuniões, documentos do Ministério da Saúde, temas multiprofissionais das diversas áreas e um momento para que os profissionais tenham um tempo para melhorar o vínculo da equipe.
Durante esse processo, observamos certa dificuldade para que a comunidade entenda que nem tudo que eles trazem de queixas necessita a rigor de uma avaliação médica. Dependendo da demanda de atendimentos de um determinado dia, os outros profissionais podem e devem acolher este paciente e no tempo oportuno será feita a consulta mediante queixa.
Além disso, ainda apresentamos diversas consultas domiciliares desnecessárias. Isso faz com que trabalho se torne cada vez mais exaustivo, uma vez que nossa unidade se encontra na zona rural, atrasando várias vezes os horários e as agendas, e muitos profissionais, por hábitos, ainda mantém o objetivo no modelo-doença, deixando o indivíduo em segundo plano.
Apesar dessas dificuldades iniciais, estamos emprenhados para que todos mudem algumas crenças da assistência à saúde e assim poderemos ter realmente um ambiente de trabalho eficaz, voltado para a saúde e não para a doença. Esperamos ter resultado com essa implantação do acolhimento nos seguintes tópicos: qualificação dos serviços de saúde; ampliação do acesso aos diversos serviços oferecidos na UBS; aumento do vínculo entre comunidade e ESF; aumento da resolubilidade dos serviços; aumento do rendimento profissional de todos os profissionais; e potencialização das habilidades de cada profissional.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Acolhimento à demanda espontânea. 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 56 p. (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, v 1).
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. p. 27.
HECKERT, A. L. C.; PASSOS, E.; BARROS, M. E. B. Um seminário dispositivo: a humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) em debate. Interface Comun Saúde Educ 2009;13(sup1);493-502.
MOTA, P. M. O acolhimento como ferramenta estratégica para a reorganização do processo de trabalho no programa de saúde da família: relato de experiência. UFMG, especialização em saúde da família, Formiga. 2009.
SANTOS, F. Perspectiva da avaliação na política nacional de humanização em saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Ciência e saúde coletiva, v. 12, n. 04, 2007.
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