Capítulo V: Atenção à Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento
Especializanda: Julye Sampaio Fujishima
Orientador: Cleyton Cezar Souto Silva
Dentre as recomendações da Conferência de Alma Ata em 1978, encontra-se a avaliação do desenvolvimento, visto que é um processo que inicia desde a concepção e se estende até o fim da vida, é um processo complexo e multifatorial, assim como o crescimento, o qual também deve ser avaliado, como forma de definir condições de saúde e nutrição não só de um indivíduo, mas também de uma população (MONTEIRO et al, 2014).
Dadas essas informações, eu e minha equipe tratamos crescimento e desenvolvimento de uma forma especial, durante uma das reuniões mensais com a equipe, coloquei o questionamento sobre nossa avaliação de crescimento e desenvolvimento, podendo ser observado a partir do questionário respondido (ANEXO). Nosso trabalho começou da seguinte forma: ainda no início do ano, solicitei para as agentes em saúde que fizessem um mapeamento de sua respectiva microárea, em busca das crianças abaixo de 5 anos, e que mantivessem esse número atual, o que elas fazem mensalmente a partir dos relatórios de análise da área, onde colocam o quantitativo total naquele mês, e discriminam os nascimentos e óbitos, assim como nascidos com alto ou baixo peso e as orientações a seguir, visto que essas profissionais são as que mais tem contato direto com as famílias.
Quanto ao atendimento ambulatorial, pactuamos que as consultas de rotina fosse intercaladas entre mim e o enfermeiro da equipe, o que também referencia os pacientes para atendimento médico sempre que necessário. Foi separado um dia de atendimento médico apenas voltado para crianças, toda quinta-feira, como forma de habituar a população, sem deixar de atender as demandas espontâneas nos demais dias da semana, conforme necessidade. Logo ao nascimento, o enfermeiro na primeira consulta já deixa agendado e registrado no cartão da criança o tempo para as próximas consultas, como forma de orientar a mãe, dando ênfase nas consultas antes dos 6 meses, tendo como grande marco a transição alimentar.
Durante as consultas, algumas coisas são padronizadas, como o registro antropométrico no cartão de vacinas, tanto em forma de tabela, quanto em forma de gráficos, melhores explorados no cartão de vacinação do SUS, constando informações acerca de Perímetro cefálico até o 2º ano, e peso, altura/comprimento e índice de massa corporal até os 10 anos. Utilizamos como fichas espelho as tabelas de puericultura até o 5º ano previstas pela Secretaria Municipal de Saúde local, mas em especial o próprio registro em prontuário para constar esses dados na UBS.
Durante toda consulta, algumas informações são obrigatórias e padronizadas para serem registradas em prontuário, o mesmo tendo função de ter esse controle e registro dentro da unidade, tais informações são: idade, dados antropométricos (perímetro cefálico e braquial antes dos 2 anos, peso, estatura/comprimento e IMC até os 10 anos) e se os mesmos estão condizentes com os gráficos ou se tem alguma alteração nos escores e qual tipo de alteração, dados vacinais ( se atrasadas, encaminhadas a sala de vacinação), amamentação, em especial o tipo, se exclusiva, complementada e etc, assim como informações prévias caso paciente já esteja seguindo algum outro esquema alimentar, como quanto tempo de amamentação exclusiva e complementar, assim como prática de amamentação cruzada e uso de formulas infantis, e, por último, registro dos marcos de desenvolvimento neuropsicomotor de acordo com a idade.
Uma deficiência bem grande de ser notada é a questão alimentar, fato que ainda não impactou sobre a antropometria de maneira expressiva, porém, notei uma grande lacuna no conhecimento cerca do aleitamento materno e pela falta de informações, percebi uma introdução alimentar precoce e incorreta, sob justificativa de que o leite materno não sustenta uma criança maior, algumas mães introduzindo consumo de água de origem duvidosa e outros alimentos como mingau e sopas antes do recomendado.
Ao perceber essa falha, começamos a reforçar as orientações corretas acerca do aleitamento materno e sua importância. Em nossas reuniões/grupo de gestantes, sempre introduzimos o tema aleitamento materno e deixamos exposto na área de espera da UBS um banner informativo que incentiva aleitamento materno e desmitifica certas falsas informações que circulam acerca do assunto. Sempre que possível abordamos o tema com a população geral, para que possam repassar aos familiares. A última ação educativa foi realizada agora no mês de outubro, no início das programações sobre o outubro rosa de prevenção ao câncer de mama, onde foi feita a parte educativa e distribuídos panfletos sobre o tema, os quais ainda estão disponíveis na recepção a quem interessar.
Com essas ações, a equipe passou a entender melhor a importância do acompanhamento de crescimento e desenvolvimento, estando mais atentas a coleta de dados antropométricos, assim como as informações a repassar acerca do aleitamento materno e sua importância. A resposta expressiva acerca do impacto de nossas ações vem na crescente procura de mães com seus filhos pouco antes de completar 6 meses, querendo realizar uma consulta para receber informações e tirar dúvidas sobre transição alimentar. Para o auxílio dessa população, criei um pequeno “cardápio” de transição como forma de orientar as mães e que as mesmas possam levar essas orientações por escrito para casa, e quando eu não consigo sanar todas as dúvidas, encaminho a profissional nutricionista do NASF, a qual prepara um cardápio individualizado e também fortalece a parte de orientações.
Após todo esse processo conseguimos perceber que o registro de crescimento e desenvolvimento é indispensável para além de melhorar a saúde de nossa população, termos um mapeamento do estado nutricional de nossa população, que diretamente proporcional ao padrão socioeconômico da população que lidamos diariamente. Conseguimos perceber também que muitos dos “erros” cometidos no processo nutricional são por pura falta de informação, porém esse é um processo contínuo, que deve ser trabalhado sempre desde o agente, o técnico que coleta os dados antropométrico até o médico e o enfermeiro que realizam as consultas, no qual devemos sempre fornecer orientações de forma constante e coerente ao processo de crescimento e desenvolvimento da população infantil, que ocorre de forma contínua e progressiva, devendo a atenção em saúde ocorrer da mesma forma.
ANEXO – QUESTIONÁRIO DE SAÚDE DA CRIANÇA
Questionário para Microintervenção
QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
A equipe realiza consulta de puericultura nas crianças de até dois anos (crescimento/desenvolvimento)?
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X |
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A equipe utiliza protocolos voltados para atenção a crianças menores de dois anos?
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X |
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A equipe possui cadastramento atualizado de crianças até dois anos do território?
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X |
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A equipe utiliza a caderneta de saúde da criança para o seu acompanhamento?
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X |
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Há espelho das cadernetas de saúde da criança, ou outra ficha com informações equivalentes, na unidade?
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X |
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No acompanhamento das crianças do território, há registro sobre:
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QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
Vacinação em dia |
X |
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Crescimento e desenvolvimento |
X |
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Estado nutricional |
X |
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Teste do pezinho |
X |
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Violência familiar |
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X |
Acidentes |
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X |
A equipe acompanha casos de violência familiar conjuntamente com os profissionais de outro serviço (CRAS, Conselho Tutelar)?
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X |
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A equipe realiza busca ativa das crianças:
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QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
Prematuras |
X |
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Com baixo peso |
X |
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Com consulta de puericultura atrasada |
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X |
Com calendário vacinal atrasado |
X |
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A equipe desenvolve ações de promoção do aleitamento materno exclusivo para crianças até seis meses?
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X |
A equipe desenvolve ações de estímulo à introdução de alimentos saudáveis e aleitamento materno continuado a partir dos seis meses da criança?
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X |
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Referências:
MONTEIRO, F.P.P.; ARAÚJO, T.L.; XIMENES L.B.; VIEIRA N.F.C. ações de promoção da saúde realizadas por enfermeiros na avaliação do crescimento e desenvolvimento infantil. Ciencia y Enfermería, vol. XX, núm. 1, abril, 2014. pp. 97-110, Universidad de Concepción. Concepción, Chile.
Ponto(s)