TÍTULO IV: A importância da psicoanalise na dinâmica social do individuo
ESPECIALIZANDO: Wlysses Jhonatas Abreu Tavares
ORIENTADOR: Túlio Felipe Vieira de Melo
Desde a mais remota história da humanidade, é observada a dificuldade em lidar com as diferenças e com as divergências do senso e convivência comum. Na psiquiatria, o tratamento da loucura por vezes foi baseado na intolerância frente aos comportamentos dos doentes mentais tendo no cárcere dos indivíduos uma opção para afugentar o diferente e proteger a sociedade (CARDOSO e GALERA, 2011).
Os hospitais psiquiátricos, deixaram de constituir a base do sistema assistencial, abrindo espaço a uma rede de serviços extra hospitalares de crescente complexidade, tendo como objetivo à desconstrução do modelo até então em vigor. A internação psiquiátrica tornou-se mais criteriosa, com períodos mais curtos de hospitalização, possibilitando a consolidação de um modelo de atenção à saúde mental mais integral, dinâmico, aberto e de base comunitária (CARDOSO e GALERA, 2011).
A depressão tem sido tema frequente na área da saúde nas últimas décadas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 9,5% das mulheres e 5,8% dos homens passarão por um episódio depressivo num período de 12 meses, mostrando uma tendência ascendente nos próximos vinte anos (World Health Organization – WHO, 2001 apud SOARES e CAPONI,2011).
Neste cenário, o paciente, sua família e os profissionais da atenção básica passam a ser, cada vez mais, os principais provedores de cuidados em saúde mental, exigindo conexão entre diversos serviços da rede de saúde em seus diferentes níveis de atenção (CARDOSO e GALERA, 2011).
Dentre os transtornos que afetam a saúde mental dos usuários da unidade, a depressão é uma das mais presentes. Os episódios depressivos são classificados: leves, moderados e graves (com presença de sintomas psicóticos ou não). Devido ao grande estigma e preconceito sobre as doenças mentais, a maioria dos pacientes demoram à procurar ajuda especializada e quando o fazem estão e estágios mais avançados. A maioria dos pacientes que encontram-se passando por um episódio depressivo, buscam ajuda profissional com queixas como Pressão arterial elevada, palpitação, falta de ar, tontura, insônia.
O retardo no diagnóstico e início de tratamento, se dá na maioria dos casos, devido à falta de sensibilidade e empatia dos profissionais ao atenderem esses pacientes. É essencial que o profissional ao atender esteja comprometido em investigar o lado emocional e dar abertura para que o paciente possa se abrir e entender sua doença e como realizar um tratamento eficaz. O fluxo desses pacientes para consultas com psiquiatras e psicólogos encontra-se escassos por falta de contratação de profissionais em Natal. Atualmente existem um número reduzido de psiquiatras contratados pelo SUS para o atendimento ambulatorial, tornando a regulação das consultas com o especialista demoradas, com o agravante de que quando se trata da população pediátrica é ainda mais escasso o número de profissionais.
Pacientes com transtornos psiquiátricos necessitam de uma consultas mais elaboradas, criteriosas e necessitam de psicoterapia e psicofarmacologia. Na área 90, da UBS Parque dos Coqueiros, tem um alto índice de pacientes fazendo tratamento com psicotrópicos há anos, sem melhora clínica satisfatória e sem perspectiva de finalização do tratamento. Doravante nos atendimentos, foi observado que muitas vezes a primeira consulta de pacientes em crise, demorava-se em média de uma hora e que isso gerava um desconforto com os pacientes que aguardavam. Observando essa problemática, do abuso de psicotrópicos e a dificuldade de acesso a um psicoterapeuta, em reunião de equipe decidimos organizar o fluxo de atendimentos psiquiátricos, atendendo esses pacientes nas quartas-feiras à tarde, onde marcaríamos no máximo 7 consultas, a fim de prestar um atendimento onde o paciente tome consciência sobre sua doença, como trabalhar o processo de saúde mental através da psicanalise e estipular metas de tempo com tratamento com psicofármacos.
Nas consultas, sempre deixo claro que para a “cura” do processo de depressão é necessário que seja trabalhado os processos psicológicos que estão levando a esse quadro. Durante a anamnese, pergunto se a pessoa está passando por problemas emocional, familiares, conjugais e a partir disso deixo o paciente desabafar. Na maioria dos casos o paciente sempre tende a falar algum episódio recente que está afetando emocionalmente seu equilíbrio. Destes, uma parcela tende a esconder no primeiro momento seus traumas mais antigos que ficam gravados na sua memória de longo prazo.
A partir deste gancho indago se não há outros traumas mais antigos, e através da resposta tento perceber em que fase emocional (Raiva, magoa e perdão) ele se encontra. Oriento que é essencial trabalhar a dinâmica do perdão para que quando esse fluxo de pensamento surgir ele não siga um padrão negativo. Neste contexto, explico que esses traumas gravados na memória de longo prazo não são esquecidos e é importante uma conclusão desse fluxo de pensamento com positividade.
Esperamos com isso alcancem uma visão realista e objetiva de seu interior, aceitar-se como indivíduo e entender seu papel no mundo, afirmar-se como ser humano, aprender a superar seus traumas e aprender como lidar com os problemas do quotidiano.
Com a intervenção, foi observado que os pacientes passaram a ter um controle maior sobre sua consciência, da importância de trabalhar o equilíbrio emocional, portanto, assumindo o papel de protagonistas no processo de cura através da psicanalise, que é precária no âmbito do SUS.
Referências
CARDOSO, Lucilene; GALERA,Sueli Aparecida Frari. O cuidado em saúde mental na atualidade. Revista Escola de Enfermermagem USP. vol.45 no.3. São Paulo. Junho 2011.
SOARES, G.B.; CAPONI, S. Depression in focus: a study of the media discourse in the process of medicalization of life. Interface – Comunicação, Saúde, Educação. v.15, n.37, p.437-46, abril/junho. 2011.
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