RELATO DE EXPERIÊNCIAS III
TÍTULO: APERFEIÇOAMENTO DA ATENÇÃO PRÉ-NATAL NA UBS “MAZAGÃO VELHO”
ESPECIALIZANDO: DOLORES ROMAY GUERRA
ORIENTADOR: CLEYTON CEZAR SOUTO SILVA
Para que a Atenção Básica (AB) possa cumprir seu papel na Rede de Atenção à Saúde, é fundamental que a população reconheça que as unidades básicas de saúde (UBS) estão próximas a seu domicílio e podem resolver grande parte de suas necessidades em saúde (BRASIL, 2016).
Embora o acesso ao pré-natal seja praticamente universal, a qualidade desta atenção ainda não é satisfatória, sendo necessário que o Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, assim como os estados e municípios, desenvolva estratégias que possibilitem a organização dos sistemas de atenção com o estabelecimento de compromisso e responsabilização pelo cuidado em todos os níveis da atenção à mulher no ciclo gravídico puerperal (BRASIL, 2012).
A experiência que pretendemos relatar visa sobre a proposta de um programa de intervenção para aperfeiçoar a atenção pré-natal na UBS “Mazagão Velho”. Nosso interesse pelo tema se deve ao fato que este processo apresenta o maior número de fragilidades dentro dos temas abordados no Modulo VI da especialização. Esta microintervenção está baseada nos resultados da revisão da rotina diária de nossas ações para a abordagem da gestação e tem por objetivo estabelecer as mudanças necessárias para melhorar a qualidade deste tipo de atenção.
Para aprofundar no tema, foi preciso rever, além do conteúdo do modulo, outras bibliografias como os Protocolos da Atenção Básica (Saúde das Mulheres), o Manual Técnico da Gestação de Alto Risco, a Política Nacional de Atenção Básica e o Caderno de Atenção Básica sobre Educação Permanente.
Na primeira reunião da equipe voltamos mais uma vez à autoavaliação da guia AMAQ feita durante o módulo IV, encontrando-se as principais deficiências no item 4.22 referido ao acompanhamento das gestantes do território pela equipe. Como proposta da Diretora da UBS, escolhemos os prontuários das gestantes cujo resultado final de seu acompanhamento foi insatisfatório, pelo acontecimento de parto prematuro, falecimento do bebé e/ou complicações no período do puerpério, entre outras. A análise das ações desenvolvidas pela equipe em alguns destes casos, demonstraram falhas principalmente na qualidade da atenção pré-natal. Seguidamente a equipe refletiu sobre o desenvolvimento da nossa prática cotidiana em questões relativas à atenção à saúde das mulheres em geral.
Além das limitações e insuficiências que nosso serviço de planejamento familiar exibe, de um modo geral sua dinâmica se ajusta ao estabelecido pela política nacional de atenção básica. Sistematicamente incentivamos a presença do casal nas consultas do Pré-natal, espaço que aproveitamos para o desenvolvimento de ações educativas sobre a livre decisão de ter filhos ou não. Desde esse momento o casal conhece os métodos contraceptivos de que dispõe a unidade, as vantagens e contraindicações de cada um deles para sua futura escolha.
No marco das atividades de promoção de saúde desenvolvidas na comunidade, e particularmente naquelas oferecidas nas escolas do distrito o tema do planejamento familiar e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis sempre tem a máxima prioridade tendo em conta a incidência da gestação na adolescência em nosso território. Este tipo de atividades é desenvolvido também no grupo de idosos da comunidade, excelente colaborador e replicador das nossas ações de saúde. Sinalamos como uma fragilidade a falta de atividades no grupo de gestantes, o qual por problemas organizativos não funciona há tempo.
Embora o fornecimento de contraceptivos não atende totalmente às nossas necessidades, contamos sempre com camisinhas para homens e mulheres, bem como recebemos pequenas quantidades de contraceptivos hormonais de administração oral (Ciclo 21) e parenteral (medroxiprogesterona). Além da maior disponibilidade de contraceptivos de barreira, enfatizamos na importância de seu uso com o objetivo de prevenir as doenças sexualmente transmissíveis. Não temos abastecimento de outros contraceptivos como pílulas de anticoncepção de emergência, dispositivos intrauterinos ou diafragmas e a realização de laqueadura de trompas requer do um difícil processo de gestão muitas vezes inalcançável.
As doenças sexualmente transmissíveis diagnosticadas pela equipe de saúde são notificadas e tratadas de acordo aos protocolos vigentes e encaminhados se necessário. No último ano, não se há detectado nenhum caso novo de HIV e as pessoas que apresentam esta doença são devidamente acompanhadas pela equipe da Estratégia da Saúde da Família.
Atualmente contamos com um grande número de gestantes, muitas das quais moram em microáreas distantes com repetidas ausências às consultas programadas e deficiente adesão as orientações da equipe; não entanto as consultas de pré-natal e puerpério são oferecidas na nossa Unidade Básica de Saúde com agendamento prévio além de serem atendidas na hora as pessoas que chegam ao serviço por demanda espontânea tendo em conta que com a implantação da estratégia de acolhimento existe melhoria do acesso a nossos serviços.
Temos um importante apoio no grupo dos idosos também na busca ativa de gestantes e puérperas na comunidade, e principalmente nas microáreas distantes o que minimiza os inconvenientes de contar com áreas descobertas de Agentes Comunitários de Saúde. Além disso existe maior participação das ACS das microáreas cobertas em todas as ações de saúde da UBS. Com estas ações colaborativas é possível manter atualizado nosso levantamento das gestantes adscritas incluindo aquelas que fazem seu pré-natal em outros serviços por livre decisão.
Devemos sinalar que muitas das nossas gestantes apresentam algum tipo de transtorno nutricional, o que nos obriga ser persistentes nos cuidados nutricionais na gestação e o estimulo à hábitos de vida saudáveis. Outras condições clinicas situam algumas delas na classificação de alto risco e são referenciadas ao serviço hospitalar correspondente apresentando-se uma fragmentação do acompanhamento devido ao deficiente mecanismo de referência e contrarreferência além de não contar com cobertura de obstetras para uma avaliação mais especializada dos casos.
Desde o começo mesmo da atenção pré-natal, em cada consulta fazemos ênfases sobre a importância de retornar para a consulta de puerpério que constituía uma das nossas principais debilidades e foi objeto da nossa primeira microintervenção.
Além do que orientamos em cada consulta sobre amamentação de maneira teórica e pratica na nossa rotina diária. São muitas as atividades coletivas desenvolvidas pela equipe para ampliar os conhecimentos sobre as técnicas corretas e vantagens do aleitamento materno exclusivo no primeiro semestre da vida.
Estão disponíveis na UBS os protocolos estabelecidos para o pré-natal de baixo risco bem como o manual técnico para a gestação de alto risco do Ministério de Saúde, porém nem sempre é garantindo o acompanhamento adequado das gestantes. Erros nas condutas adotadas ante cada situação que se apresenta, na solicitação e interpretação correta dos exames complementares e o preenchimento adequado da caderneta de cada uma delas constituem deficiências no cotidiano de nosso trabalho.
As carências de recursos materiais afetam também a qualidade e resolutividade das nossas ações; muitas vezes não contamos com fita métrica, balanças, esfigmomanómetros, sonar e medicamentos essências. Neste sentido foi solicitada uma reunião com a secretaria municipal de saúde para o esclarecimento das competências dos enfermeiros, o papel dos diferentes pontos da rede de atenção à saúde e a necessidade de gestão de alguns recursos materiais necessários para oferecer uma atenção mais qualificada à população.
A equipe identificou como fragilidades o deficiente funcionamento do mecanismo de referência e contrarreferência, a inatividade do grupo das gestantes, os problemas de resolutividade do serviço e principalmente as lacunas do conhecimento cientifico para as ações protocolizadas. Dentre as potencialidades é assinalada a maior participação dos agentes comunitários de saúde no processo de trabalho da UBS em geral, a diminuição das barreiras de acesso e a possibilidade real de aplicar na pratica diária o estabelecido nos protocolos clínicos disponíveis.
Mais uma vez lutamos contra a resistência à mudança: identificou-se que a maioria das dificuldades se relacionavam com a resistência dos enfermeiros a assumir decisões clinicas da sua competência, mas principalmente com a necessidade de aprofundar nos conhecimentos e habilidades no manejo dos cuidados da gravidez e o puerpério em geral.
O deficiente acompanhamento das gestantes foi selecionado como o problema a serem enfrentado de acordo com a sua importância, urgência e capacidade dos profissionais para intervir sobre o mesmo. Sendo assim, a proposta da equipe se acordou resgatar o funcionamento do grupo de gestantes e estabelecer uma estratégia de educação permanente afim de melhorar o processo de trabalho no concernente ao manejo da atenção pré-natal e o puerpério. Esta estratégia foi organizada para serem desenvolvido em 2 meses e contará com a médica como coordenadora das atividades. Nas atividades educativas planejadas serão abordados os temas selecionados previamente autopreparação individual dos membros da equipe com a modalidade educativa de discussão em grupo e troca de conhecimentos.
A implementação das primeiras etapas desta microintervenção possibilitou o início de importantes mudanças no processo de trabalho da equipe. Apesar das fragilidades identificadas, seus membros ficam sensibilizados e comprometidos com a necessidade de capacitação para oferecer uma atenção de saúde de maior qualidade.
Nossa principal expectativa é obter uma melhor preparação da equipe para oferecer uma atenção pré-natal mais qualificada, e que assim, as gestantes e puérperas, tenham um acompanhamento mais efetivo e resolutivo. Acreditamos que logo estaremos em condições de expor, como as mudanças no processo de trabalho da equipe influi no desenvolvimento mais saudável das nossas gestantes, puérperas e crianças.
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
MATRIZ DA INTERVENÇÃO III |
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DESCRIÇÃO DO PADRÃO: A equipe de Atenção Básica acompanha todas as gestantes do território (item 4.22) |
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DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO ENCONTRADA: A equipe de Atenção Básica não garanta um acompanhamento de qualidade a todas as gestantes do território |
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OBJETIVO / META: Implementar ações que permitam garantir uma atenção pré-natal de qualidade, e resolutiva para todas as gestantes do território. |
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ESTRATÉGIAS PARA ALCANÇAR OS OBJETIVOS/ METAS |
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS |
RECURSOS NECESSARIOS PARA O DESENVOLVIMENTO |
RESPONSÁVEL |
PRAZO DE EXECUÇÃO / DATA LIMITE |
MECANISMOS E INDICADOR PARA AVALIAR O ALCANCE |
Estudo da bibliografia básica e de apoio relacionada com a saúde sexual e reprodutiva
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Orientação da bibliografia objeto de estudo e convite para a reunião da equipe de ESF
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Documentos bibliográficos |
Diretora da UBS
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31 de maio de 2018
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Realizar avaliação da organização do processo de trabalho da equipe no concernente ao pré-natal de baixo risco
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Reunião de análise dos itens correspondentes da Guia AMAQ e listagem das principais insuficiências identificadas.
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Guia AMAQ, salão de reuniões, computador, |
Diretora da UBS
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7 de junho de 2018
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Ata da reunião da equipe e listado dos problemas identificados
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Priorização dos problemas identificados susceptíveis de intervenção
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Reunião da equipe para o analise dos problemas identificados e estabelecimento de prioridades
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Listado dos problemas identificados |
Diretora da UBS
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14 de junho de 2018
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Ata de reunião da equipe
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Estabelecer propostas de ações para intervir o problema priorizado
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Reunião da equipe para o analise das ações propostas |
Listado dos problemas identificados |
Medica da UBS |
14 de junho de 2018 |
Ata de reunião da equipe
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ESTRATÉGIAS PARA ALCANÇAR OS OBJETIVOS/ METAS |
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS |
RECURSOS NECESSARIOS PARA O DESENVOLVIMENTO |
RESPONSÁVEL |
PRAZO DE EXECUÇÃO / DATA LIMITE |
MECANISMOS E INDICADOR PARA AVALIAR O ALCANCE |
Garantir cobertura de recursos materiais e equipamentos necessários para o acompanhamento das gestantes
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Solicitar à Secretaria municipal de saúde a gestão de equipamento e insumos necessários (Equipo Sonar, fitas métricas, balanças, medicamentos)
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Documento de solicitação dos equipamentos e insumos necessários. |
Diretora da UBS
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18 de junho de 2018 |
Documento de solicitação dos equipamentos e insumos necessários. |
Elaboração do programa de educação permanente
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Estabelecimento dos temas a serem estudados e cronograma das atividades educativas
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Listado dos problemas identificados |
Medica da UBS |
18 de junho de 2018 |
Programa de Educação Permanente
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Ponto(s)