ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL
ESPECIALIZANDA: PATRÍCIA OLIVEIRA SILVA
ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS
Foi realizada reunião de equipe que contou com a presença da médica, enfermeira, técnicos em enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e foi discutido, entre outros tópicos, a necessidade de manter um registro dos pacientes em uso de psicotrópicos na nossa área e informações relativas às medicações, sendo construída uma planilha contendo informações como nome, prontuário, medicação (apresentação e posologia incluídas) e quantidade de comprimidos dispensados na devida data.
Vale ressaltar que o número do prontuário já nos permite visualizar qual a ACS responsável por aquela residência visto que o número da microárea faz parte do número do prontuário. A planilha é virtual e está no computador do consultório da médica da equipe, uma vez que foi consenso que assim poderíamos diminuir o impacto ambiental com uso desnecessário de papel e eliminar o problema de criar um espaço para armazenar de forma segura e acessível aos membros da equipe essas informações. Essa planilha é alimentada mensalmente pelas ACS nos dias da especialização da médica, quando esta não usa o computador do consultório, e pela própria médica quando o paciente comparece à consulta.
Quanto à linha de cuidado, foi selecionada uma paciente que não mora na nossa área, porém é atendida por mim por estar passando por problemas de saúde mental e não ter posto de saúde de referência, ficando sua atenção à saúde descoberta. A paciente X, 38 anos, com quadro de ansiedade e depressão, obesidade e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), é cuidadora de sua mãe, 71 anos, portadora de HAS e Diabetes Mellitus (DM) e com sequelas de Acidente Vascular Encefálico (AVE), sendo a mãe completamente dependente dos cuidados da filha tanto para alimentação como para cuidados pessoais, possuindo ainda dificuldade de comunicação relacionada ao quadro neurológico avançado. Como X é a única cuidadora de sua mãe e tratar dela é uma tarefa que exige muito do seu tempo pelo fato de ser dependente completamente, a filha acaba por renunciar ao cuidado com a própria saúde, vida social, lazer e sono.
Sendo assim, a paciente X desenvolveu um transtorno misto ansioso e depressivo (CID 10: F41.2) com episódios de pânico, o que gerava grande sofrimento psíquico, choro fácil, labilidade emocional, compulsão alimentar e baixa autoestima. Após conversa a respeito do problema, iniciei tratamento com Fluoxetina 20mg/dia (medicamento de escolha para transtornos ansiosos) e a encaminhei ao psicólogo, também agendei retorno para um mês após início do uso da medicação.
Ao retornar, a paciente relatou que não houve melhora do quadro e permanecia com os mesmos sintomas, assim como conduta aumentei a dose de Fluoxetina para 40mg/dia e associei um benzodiazepínico de baixo potencial de induzir dependência, à noite, Alprazolam 0,5mg/dia e orientei retorno após um mês. Ao regressar a paciente relatou que houve alguma melhora dos sintomas ansiosos, mas ainda mantinha episódios de pânico quando sua mãe adoecia (tosse, febre) por medo de perdê-la e baixa autoestima, porém melhorou a qualidade do sono. Como observei a necessidade de substituição da medicação em uso, tentei contato com psiquiatra que pudesse ajudar na condução do caso, quando observei necessidade de encaminhamento ao especialista, descobri que minha unidade não conta com Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) geral de referência, apenas CAPS Álcool e Drogas (AD), assim como não conta com Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF), e os pacientes que são acompanhados por psiquiatra são encaminhados ao Centro de especialidades.
Desta forma, discuti o caso com um residente de psiquiatria com o qual tenho contato e fui orientada a substituir a Fluoxetina por outro Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina (ISRS) que também tivesse efeito anorexígeno, uma vez que a paciente tem queixa importante de dificuldade de perda de peso. Neste caso, foi sugerida a Sertralina 50mg/dia, com aumento da dose para 100mg/dia após um mês de uso e manter o Alprazolam por mais um mês durante o período de adaptação à Sertralina, devendo sua dose ser reduzida pela metade até suspensão do medicamento nos meses posteriores, além de acompanhamento mensal da paciente. Dessa maneira foi conduzido e, após um mês, a paciente retornou referindo melhora dos sintomas ansiosos, que sua mãe havia adoecido com gastroenterite porém a paciente não apresentou a mesma reação de medo generalizado que apresentava antes, encontrava-se mais disposta no dia-a-dia e tinha iniciado a prática de atividade física (musculação), além de ter diminuído os episódios de compulsão alimentar.
Com a melhora do quadro, a parabenizei pelo progresso do tratamento, segui o plano de aumento da dose de Sertralina e diminuição progressiva do Alprazolam e aguardo o retorno para o acompanhamento. Conto como plano de cuidado a proposta de manter a Sertralina em dose terapêutica (100mg/dia) durante seis meses, dependendo da evolução do caso, pois é o tempo mínimo de tratamento com ISRS para esse tipo de transtorno de humor para que seja diminuída a chance de reincidência. Também pretendo diminuir a dose de benzodiazepínico pela metade até a retirada total da medicação, desde que não haja queixa de perturbação do sono pela paciente, ao que pretendo substituí-lo por um inibidor do sono. E ainda aguardo consulta com o psicólogo para acompanhamento conjunto.
Ponto(s)