26 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

 

 

                              TITULO: Acolhimento na Estratégia Saúde da Família UBS Castanheira /Laranjal do Jari /AP

 

                   ESPECIALIZANDO : EDITH DOLORES DE ARMAS MUÑOZ 

                        ORIENTADOR : CLEYTON  CEZAR SOUTO SILVA 

 

O acesso ao sistema de saúde está diretamente relacionado às necessidades de qualificar e viabilizar a resolução das demandas dos usuários, tendo como porta de entrada o acolhimento. A equipe de Saúde Família tem sua produção de vinculo e confiança construída por meio do ato de acolher, que não está de forma alguma limitado ao espaço físico de uma recepção, devendo ser um ato continuo. Souza (2008) afirma que o acolhimento é uma forma de garantir o acesso de todo usuário , propiciando vínculo entre comunidade e equipe, com a possibilidade de refletir sobre o processo de trabalho para realizar um cuidado de forma integral .

            Em 2003, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Humanização (PNH), com intuito de melhorar a qualidade do acesso aos serviços de saúde, desenvolvendo atividades focadas na humanização do cuidado.

            Como fruto do HumanizaSUS, foi produzida, em 2004, a cartilha da PNH, intitulada “Acolhimento com classificação de risco ´´, indicando-o como uma ação técnico-assistencial que pressupõe a mudanças da relação profissional /usuário por meio de parâmetros técnicos -éticos, humanitários e de solidariedade, e reconhecendo o usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde (BRASIL, 2004).

       Na Atenção Primária à Saúde (APS), os parâmetros para acompanhamento da implantação da PNH incluem “formas de acolhimento e inclusão do usuário que promovam a otimização dos serviços, o fim das filas, a hierarquização de riscos e o acesso aos demais níveis do sistema.” (BRASIL, 2004).

            O Acolhimento é prática integrante da PNH, com a intenção de melhorar o processo de trabalho nos serviços básicos de saúde, principalmente no que diz respeito à demanda espontânea. No ano de 2013, ano esse em que o acolhimento foi tema da Conferência Nacional de Saúde, o Ministério da Saúde lançou em seus Cadernos de Atenção Básica dois volumes voltados para o tema do Acolhimento às demandas espontâneas (BRASIL, 2013).

            A implementação do acolhimento, como prática nas unidades básicas de saúde, tem por finalidade não apenas fornecer escuta qualificada aos usuários do serviço, mas melhorar a atenção aos mesmos, priorizando uma mudança no modelo de atendimento através da classificação de risco e avaliação de vulnerabilidades não só do indivíduo como do coletivo (FIGUEIREDO, 2010).

            Na pratica dos serviços de saúde, ao se colocar em exercício o acolhimento e a classificação de risco dos usuários, mudanças nos processos de trabalho tornam-se essenciais para um bom desenvolvimento da assistência. Este processo depende do entendimento não só  dos usuários , mas principalmente dos profissionais da equipe, para que a adaptação aos novos processos se torne positiva e bem aceita por todos (BRASIL, 2013) .

            A ESF como uma de suas principais missões tem o papel fundamental de servir como porta de entrada para o Sistema Único de Saúde e via de acesso para o cumprimento efetivo de suas diretrizes básicas: a universalidade, a integralidade e a equidade, por meio do acolhimento qualificado. Matumoto, Mishima e Pinto (2001),  explicam que o acolhimento é determinado pela concepção de ser humano e de saúde /doença em que o trabalho se baseia , e “por que acolher ´´ desvenda o modo como se efetiva a implantação do Sistema Único de SUS ,e como os trabalhadores envolvidos` `se posicionam frente ao tema ´Saúde como direito de todos e de cidadania ´, por meio dos princípios da universalidade, equidade , integralidade e acesso ´.

Em minha unidade de saúde já está implantada a Estratégia de acolhimento com classificação de risco.

      Primeiros dias da implantação do acolhimento.

            A equipe de Saúde da UBS Castanheira começou esta atividade de acolhimento no ano 2016 em uma das reuniões com os profissionais com o objetivo de implantar este tipo de Estratégia para qualificar a assistência oferecida a comunidade.

            Esta reunião da equipe  tinha entre seus objetivos melhorar o funcionamento da demandas  e propor um plano de ação para organizar a demanda espontânea e programada para a equipe de saúde da família (ESF) e buscar a redução da demanda espontânea na Unidade básica de Saúde (UBS), procurando aumentar o atendimento programado de todos os ciclos de vida, portadores de processos patológicos ou não, buscando promoção de saúde e a redução de atendimentos  de urgência.

As principais dificuldades  levantadas durante o início da atividade eram as grandes quantidades de pacientes a procura de atendimento por demanda espontânea, onde população que deveria ser atendido buscando a prevenção de doenças e promoção de saúde acabam não procurando atendimento, além de problema no planejamento de atendimentos da população crônicas e falta de capacitação da equipe nesta atividade de acolhimento.

Construi-se um plano de intervenção para organizar a demandas espontâneas e programadas na equipe de saúde. Sendo possível perceber que os usuários da atenção básica, muitas vezes tinham dependência em relação ao profissional, buscando nele a única opção de conhecimento e orientação em saúde. Nesse sentido, a Equipe observou um aporte desmedido à UBS de pessoas em situação de demanda espontânea, sendo que, na maioria das vezes, a procura não se justifica ou não se trata de situação emergencial de saúde.

        Inicialmente foi proposta uma modificação na abordagem durante o acolhimento aos usuários da unidade, para tal, foi realizada uma capacitação dos profissionais da equipe padronizando os fluxos de atendimentos e orientação, buscando uniformizar as informações e o tipo de abordagem prestada aos usuários,

        A partir dessa capacitação onde foi  enfatizado  as funções da recepção na chegada do usuário, prioridades para escuta qualificada, objetivo do acolhimento, funções do ACS no acolhimento, fluxo quando usuário chega a UBS, funções da equipe de saúde  na sala de atividade coletiva, fluxos para gerenciamento de agenda puericultura, promoção a saúde (grupos), atendimentos por turnos (prevenção), pré-natal, cronogramas de doenças crônicas e demandas livres.  Houve uma implementação gradual das demais ações planejadas estando todos os profissionais capacitados para fornecer orientações e redirecionar os usuários para as ações planejadas de acordo com a demanda apresentada.

       Para melhorar a implantação do acolhimento foi necessário o comprometimento e  a responsabilização integral da equipe desde a recepção do usuário até a saída do paciente na UBS, ordenando os atendimentos por critérios de avaliação de risco e não por ordem de chegada, entregando o prontuário para o usuário e encaminhando-o para a sala de atividade coletiva, realizando as escutas qualificadas e individualizadas garantindo a privacidade do usuário, aumentando o grau de satisfação do usuário com a utilização dos protocolos  com definição de diretrizes terapêuticas para acolhimento. 

Também foi importante as reuniões da  equipe de saúde para discutir como estava  sendo feito o atendimento no serviço desde que chega o paciente ao serviço de saúde, quem o recebe , quem o orienta, para onde ele vai depois do atendimento , enfim , todas as etapas que percorre e como é atendido em cada uma dessas etapas e toda essa discussão com toda equipe mostrou  que pode ser mudado para que o usuário seja melhor acolhido .

        Na tentativa de aumentar a integração entre a equipe, no início das ações, foi determinado que a equipe tivesse uma gestão do trabalho compartilhada, onde todos os atores sejam atores responsáveis pelas ações.

       Através do acolhimento articularam-se as outras ações da equipe, aumentando a adesão da população às ações programadas individuais e coletivas, além disso, a aceitação dos usuários foi muito positiva, pois facilitou o acesso no atendimento nas situações em que seja preciso atender no mesmo dia e se necessário for continuar com o cuidado continuado e programado

       Em relação às demandas espontâneas, como foco inicial de dificuldades ao início das atividades, foi possível identificar uma redução, não no volume, mas sim no tipo de demanda, pois, grande parte dos usuários com queixas crônicas foram redirecionados para as atividades programadas da equipe.

       Atualmente a equipe realiza o acolhimento com classificação de risco e vulnerabilidades, consultas médicas com prioridades para os pacientes que apresentam riscos de agravo a saúde onde o atendimento é feito em até 20 minutos. Também consultas médicas sem prioridade para os  pacientes que apresentam alterações nos sinais vitais mas sem risco de agravo à saúde , sendo atendidos após termino das consultas agendadas, assim como as consultas enfermagem ou agendamentos  para os pacientes com queixas recentes ou agudas que não ultrapassam 15 dias e sem risco de agravo à saúde onde  devem ser avaliados pela enfermeira ou encaminhado para agendamento na sexta–feira  e os agendamentos dos pacientes que não apresentam nenhum risco de agravo à saúde são  encaminhados para agendamentos de consulta

       Minha equipe tem em sua organização da agenda em relação à demanda de cuidado continuado programado  (Gestantes , crianças até os dos anos , Diabéticos , Hipertensão arterial, asma) cuja próxima consulta é marcada no final da consulta anterior, além disso, a equipe  realiza acolhimento a demanda espontâneas durante todo o período de funcionamento da UBS no horaria da manhã e tarde, oferece acolhimento humanizado a todos os usuários do território com escuta qualificada, com utilização de protocolos e definição de critérios para agendamentos de consultas, com primeiro atendimento dos usuários que precisam ser atendidos no dia e atendimento ás urgências, referenciando para outros pontos da rede de atenção e assim  garantindo o acesso e resolutividade, utilizando os dados do acolhimento para orientar , reorientar o planejamento das ações .

Desafios para a manutenção

       A Estratégia de Saúde da família de minha UBS, tem como um de seus principais desafios o desenvolvimento do processo de trabalho embasado em planejamento de ações e a organização do acesso das demandas espontâneas e programadas, utilizando como principal ferramenta de planejamento o acolhimento, o qual foi implementado com o intuito de reorganizar o acesso ao SUS e dar direcionamento ás demandas da população adscrita, além de ter como um de seus eixos de trabalho a promoção da saúde e a prevenção de agravos por meio do acompanhamento clinico longitudinal, onde as agendas dos profissionais da equipe são organizadas de forma programada, com turnos direcionados previamente para realização de visitas domiciliares, interconsultas com o Núcleo de Apoio Saúde da família, além, obviamente, das consultas pré-natal, Puericultura e exames preventivos .

            A reversão desse processo nos convoca ao desafio de construirmos alianças éticas com a produção da vida, onde o compromisso singular com os sujeitos, usuários e profissionais de saúde, esteja no centro desse processo, essas alianças implicando um processo que estimula a co-responsabilização.

            Além colocar em ação o acolhimento como diretriz operacional, uma nova atitude de mudança no fazer em saúde e implica protagonismo dos sujeitos  envolvidos no processo de produção de saúde;  uma reorganização da equipe  de saúde a partir da reflexão e problematização dos processos de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada da escuta e resolução dos problemas do usuário; elaboração de projeto terapêutico individual e coletivo com horizontalização por linhas de cuidado; mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços democráticos de discussão/decisão, de escuta, trocas e decisões coletivas.

       Também a equipe neste processo pode, também, garantir acolhimento para seus profissionais e às dificuldades de seus componentes na acolhida à demanda da população; e uma postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário, que inclua sua cultura, saberes e capacidade de avaliar riscos

        Ao fim da avaliação da atividade implantada uma mudança positiva no fluxo da demanda espontânea foi encontrada aumento da adesão dos usuários às atividades programadas individuais e coletivas da equipe.

       Com a iniciativa de procura dos usuários pelas atividades programadas foi possível que parte da população passasse a entender a organização da unidade de saúde, identificando que o acolhimento se tornou uma forma de inclusão do usuário ao serviço, através das informações fornecidas pela equipe aos usuários.

        Mudanças nos hábitos de vida e nos processos de trabalho são ações que estão em constante evolução  logo, devem ser alvos de avaliação constante. Para que a melhoria promovida no processo de trabalho da ESF Castanheira se mantenha e evolua de forma crescente é necessária uma manutenção das ações de forma igualitária entre os profissionais , pois, com a implantação das açoes, foi identificado que a população se adaptou ao processo de trabalho implantado, desde que a equipe estevesse envolvida e participativa no mesmo.

  Como melhorias no processo de trabalho e na atenção à saúde da população após o acolhimento espera-se:

– Reduzir a demanda espontânea na Unidade Básica de Saúde, 

– O acolhimento programado mais contemplado na agenda dos profissionais de saúde demostrando uma organização de serviços da ESF onde este resultado está em acordo com os princípios da vigilância em saúde proposto por a saúde da família.

 – Aumentar o atendimento programado de todos os ciclos de vida, portadores de doenças ou não, buscando promoção de saúde e a redução de atendimentos ambulatoriais de urgência. 

-Avaliar a demanda espontânea e programada no serviço de atenção básica na Equipe Saúde.

           Através desta atividade da implantação do acolhimento a equipe de saúde aprendi que nosso trabalho em saúde multiprofissional e multidisciplinar pôde constatar a necessidade de uma programação que atenda às diferentes especificidades do processo de trabalho acolhendo as expertises dos diferentes profissionais.

        A organização do atendimento da demanda da população na forma de agenda programática possibilita estratégias de abordagem ao indivíduo por meio da consulta programada e por participação em atividades de grupo, que ocorrem quando necessárias, para que sejam executadas com qualidade e eficácia. Isso leva a uma maior adesão por parte do usuário às atividades de promoção da saúde, do autocuidado, de adesão ao tratamento e consequentemente, aumento do vínculo do usuário com a equipe de saúde .

       Referências :

 ___BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS: Política Nacional de Humanização :A Humanização como Eixo Norteador das Práticas de Atenção e Gestão em todas as Instancias do SUS. Brasília :MS, 2004.

 ___Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p.5. 

___Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica Acolhimento à demanda espontânea /Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. -1. ed., 1. reimpr. -BRASILIA :Ministério da Saúde ,20013.

___FIGUEIREDO, E.N. Implantação do acolhimento e classificação de risco em unidades básicas de saúde :desafios para o profissional da enfermagem Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Medicina. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva Belo Horizonte ,2010.

___  MATUMOTO, Silvia.  MISHIMA, Silvana. Martins. PINTO, Ione Carvalho. Saúde coletiva:  Cad.  Saúde Pública, Rio de Janeiro, v 17, n 1, jan.-fev., 2001.p 233-241.

__SOUZA,  Elizabethe C. Fagundes de et al. Acesso e acolhimento na atenção básica :análise da percepção dos usuários e profissionais de saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de janeiro, v 24. Sup. 1, 2008.p100-110.

 

 

   

    

 

 

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